Ho Iat Seng ganhou alguma visibilidade a partir de 2013, quando foi eleito presidente da Assembleia Legislativa (AL) de Macau, mas é membro há 20 anos do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da China, o "órgão supremo do poder de Estado", à luz da Constituição chinesa.
O agora chefe do Governo da região Administrativa Especial de Macau (RAEM) era, ainda enquanto presidia à Assembleia Legislativa, administrador e gerente-geral da Sociedade Industrial Ho Tin S.A.R.L., presidente do conselho de administração da Companhia de Investimento e Desenvolvimento Ho Tin, Limitada e administrador e gerente-geral da Fábrica de Artigos de Plástico Hip Va.
Ho Iat Seng era ainda vice-presidente da Associação Comercial de Macau e é o presidente vitalício da Associação Industrial de Macau.
O novo líder da RAEM recebeu a medalha de Mérito Industrial e Comercial, entregue pelo o último governador de Macau (1999), Rocha Vieira, a medalha de Mérito Industrial e Comercial (2001) e a medalha de Honra Lótus de Ouro (2009), ambas atribuídas pelo Governo da RAEM.
Cinzento, pró-Pequim, sem experiência governativa e sem pensamento conhecido sobre Macau: foi este o perfil que personalidades do território traçaram de Ho Iat Seng em abril, quando anunciou a sua candidatura a chefe do Executivo da região.
Já membros da comissão eleitoral que o elegeu, ouvidos pela Lusa em agosto, atribuíram-lhe um perfil mais ativo do que o de Chui Sai On, a quem sucedeu hoje, sensato, interventivo, conhecedor dos desígnios nacionais e sensível à comunidade portuguesa.
Ho Iat Seng é “relativamente discreto, cinzento, extremamente cauteloso, não parece ter ideias próprias: terá as indicações que a China lhe der”, tentou resumir à Lusa o presidente do Fórum Luso-Asiático, Arnaldo Gonçalves, em abril deste ano.
O professor do Instituto Politécnico de Macau, doutorado em Ciência Política e antigo assessor dos ex-governadores de Macau Carlos Melancia e Vasco Rocha Vieira, disse desconhecer o percurso académico de Ho Iat Seng e ter apenas uma vaga ideia da sua atividade enquanto empresário.
Contudo, sublinhou, o fundamental é perceber porque demorou tanto tempo a anunciar a candidatura: “Parte da elite de Macau entendia que não tinha o perfil adequado" e terá sido necessário negociar o nome dos novos secretários do Governo "que agradassem às famílias mais importantes de Macau”.
O único deputado português na AL e conselheiro das comunidades portuguesas, José Pereira Coutinho, realçou, na mesma altura, "a sua inexperiência governativa" e considerou que o peso político enquanto membro do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da China e o apoio do Governo central da China eram "a sua mais-valia” para se candidatar a chefe do Executivo.
Ho Iat Seng foi o único candidato ao cargo de que tomou hoje posse e foi eleito, em agosto, depois de ter recebido o aval de Pequim, com 392 votos a favor, sete em branco e um nulo de uma comissão eleitoral composta por 400 membros.
“Estamos perante uma pessoa com uma capacidade de intervenção muito superior" à de Chui Sai On, disse em agosto à Lusa o membro da comissão eleitoral e presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, que vê na personalidade sensata, dinâmica e interventiva de Ho Iat Seng “bons sinais” para desempenhar o cargo, restando agora esperar que “estas boas impressões se confirmem na prática”.
Também o arquiteto Carlos Marreiros, um dos 400 membros da comissão eleitoral, disse ter expetativas positivas e considerou que Ho Iat Seng tem uma personalidade mais ativa do que aquela demonstrada por Fernando Chui Sai On nos últimos 10 anos.
Ambos sublinharam as ações e as palavras que o ex-presidente da AL de Macau teve para com a comunidade portuguesa.
“Teve sensibilidade suficiente para dizer sim à comunidade portuguesa e isso é muito importante”, afirmou Miguel de Senna Fernandes.
Para o ex-deputado Leonel Alves, que esteve na AL 33 anos, tanto durante a administração portuguesa como na chinesa, o facto de Ho Iat Seng ter pertencido durante 20 anos ao Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da China dá-lhe um “profundo conhecimento de como funciona o Estado chinês”.
Por isso, sublinhou, entende a necessidade da interação com as regiões vizinhas de Macau que integram a Grande Baía, uma metrópole mundial que Pequim está a criar e que integra Macau, numa região com mais habitantes do que nações como França, Reino Unido ou Itália.
Para Leonel Alves, Ho Iat Seng está em “sintonia com as grandes políticas e com os grandes desígnios nacionais” que são necessários para a concretização deste plano de Pequim, desvalorizando o facto de Ho nunca ter tido qualquer experiência governativa.
“Assim não tem vícios”, frisou.
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