Responsável pela absorção de cerca de 90% do excesso de calor na Terra, o oceano é “um bombeiro e uma vítima” das alterações climáticas. Foi assim que o caracterizou Tiago Pitta e Cunha, presidente executivo da Fundação Oceano Azul.
Numa sessão informativa, organizada em colaboração com a Zero, sobre a conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP28), que se realiza no Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro, os representantes das duas associações defenderam a necessidade de valorizar o papel do oceano, muitas vezes esquecido, no combate às alterações climáticas.
O grande passo nessa direção foi dado há dois anos, com o Pacto Climático de Glasgow, que resultou da 26.ª conferência, realizada naquela cidade escocesa, e em que ficou reconhecida a importância do oceano e do problema do lixo marinho, tendo sido, na altura, considerado uma mudança de paradigma.
No entanto, a COP27, realizada há um ano em Sharm El Sheikh, Egito, representou um “retrocesso proporcional”, recordou Tiago Pitta e Cunha, admitindo que “agora não há perspetiva de que as coisas estejam a correr melhor”.
Ainda assim, a Fundação prepara-se para participar na COP28 com o objetivo de “combater a falta política e a enorme ignorância em compreender que o oceano é uma parte crítica e central dos debates sobre o clima”.
Sublinhando a mesma mensagem, Emanuel Gonçalves, responsável científico e administrador da Fundação Oceano Azul, sublinhou que “medidas paliativas não vão servir” para a conservação marinha e, existindo instrumentos suficientes, seria necessário utilizá-los todos.
“É um problema de incentivos”, acrescentou, argumentando que a economia, enquanto responsável pela crise climática, deve ser também a solução para a descarbonização e salvação da natureza, mas, para isso, é necessário inverter o sistema de incentivo económico.
Pela Zero, Francisco Ferreira reiterou também na necessidade de insistir no esforço de limitar o aquecimento global a 1,5 graus celsius, por muito difícil que seja, e de inverter a tendência de aumento da temperatura até 2025.
“Precisamos de metas mais ambiciosas e isso tem muito a ver com o fim dos combustíveis fósseis”, defendeu o presidente da associação ambientalistas.
Antecipando a COP28, que arranca em menos de duas semanas, Francisco Ferreira disse que, além dos combustíveis fosseis, serão tópicos fundamentais a mitigação e adaptação às alterações climáticas, a questão das perdas e danos e o financiamento.
E resumiu as expectativas à imagem do copo meio cheio ou copo meio vazio: “Em todas as COP é assim. Temos avanços, mas também estamos muito aquém do necessário e desejável e, provavelmente, nos últimos dias (da conferência) vamos voltar a ter essa sensação”.
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