Em 2019, nesta altura, já os comerciantes junto ao quarteirão do Mercado Bolhão, em obras desde maio de 2018, reclamavam apoio, notando que as quebras na faturação devido às obras de construção do túnel do Bolhão ascendiam aos 50% e só as poupanças permitiam ainda fazer face aos custos fixos.
Um ano depois, de caras com a pandemia provocada pelo novo coronavírus, que a todos apanhou de surpresa, as dificuldades multiplicam-se.
Ângela Sobral é espanhola, abriu, há cerca de um ano, na Rua da Formosa, uma loja de roupa, a Güendolina.
As perspetivas eram boas, assim dizia o estudo de mercado, mas a pandemia e as restrições à circulação contrariaram as previsões. Entre a expectativa e a venda, cresce uma diferença de 70%.
"As vendas caíram muito desde que isto começou [as restrições e indicações de confinamento]. São praticamente nulas. Não sei como vai ser o Natal. Já não digo ter lucro, mas pelo menos ganhar para pagar as despesas", afirmou, em declarações à Lusa.
Na mesma rua, na Pérola do Bolhão, repete-se o desespero de 2019.
Com quebras na ordem dos 50%, António Reis lá voltou a ter de recorrer às poupanças para pagar as contas.
Há dois anos, antes do acesso pedonal da Rua da Formosa ter sido fechado devido às obras do Túnel do Bolhão, não era assim.
"Estamos a comprar a medo, nunca podemos comprar muito porque não se sabe o futuro. Ao fim do mês para pagar aos funcionários e as faturas grande de 3.000/4.000 euros aí é que é um problema", explicou.
O lamento é repetido pelo vizinho Alberto Rodrigues, proprietário de uma das lojas mais antigas do Porto, a Mercearia do Bolhão.
O tempo em que o negócio era bom já lá vai, e os apoios do Governo e do município "são insuficientes" para o fazer voltar atrás.
Este Natal será, "infelizmente", como o de 2019, altura em que Alberto já admitia que o negócio estava "pior que péssimo".
Sem desvalorizar a gravidade da pandemia, Alberto não compreende as restrições impostas pelo Governo.
Limitar os horários das lojas e a circulação entre concelhos só tem resultado num agravamento das dificuldades financeiras do comércio tradicional, observou.
As críticas são repetidas por Mário Martins que gere o negócio de família instalado na rua da Formosa desde 1983.
Com prejuízos na ordem dos 40%, a Casa das Colchas vai resistindo fruto dos proveitos de anos anteriores.
Há outras lojas, na baixa do Porto e arredores que não tiveram a mesma sorte.
É o caso da loja Havainas, em plena Rua de Santa Catarina, que fechou portas.
"Nota-se que as algumas empresas de retalho dificilmente algumas empresas irão sobreviver se o próximo mês for mau e tudo indica que será. Comparativamente ao mesmo mês do ano passado há uma diferença de 50%", disse Mário Martins, criticando as restrições à circulação impostas pelo Governo.
O empresário, que se vai candidatar ao programa Apoiar.pt destinado ao comércio, considera que este é também o momento de a autarquia ser pró-ativa e contribuir para a sobrevivência do setor.
"Ainda ontem [quarta-feira] saiu uma notícia que a Câmara do Porto é a mais eficaz de gestão financeira. É hora de devolver aos munícipes e ao comércio essa boa performance financeira", observou, sublinhando que nesta altura precisam é de apoio financeiro, e não de linhas telefónicas de apoio como "Revitaliza Porto" lançado pela autarquia há dias.
Umas portas acima, na loja Doce Bebe, Isabel Pereira, é exemplo das dificuldades.
Num ano "normal", de manhã haveria fila à porta loja, este ano, e com o Natal à porta, ninguém.
Como funcionária, está preocupada.
Não há movimento na rua, e quem ainda passa não vem para comprar.
Com as restrições à circulação, a situação na última semana agravou. A quebra é significativa e o futuro “uma incerteza”.
Por: Vânia Moura da agência Lusa
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