“Acaba com eles”, gritava de pé um dos espetadores do concerto quando identificou os primeiros acordes da canção “Venham mais cinco”, de Zeca Afonso. Sem os identificar, o espetador referia-se a todos os que deixaram a fábrica portuguesa da Triumph Internacional, em Sacavém, concelho de Loures, fechar as portas, condenando assim mais de 400 pessoas ao desemprego.
O rosto da luta destes trabalhadores foi um grupo de mulheres que não deixou a fábrica sem a garantia de que, pelo menos, teriam direito ao subsídio de desemprego e o pagamento do que a empresa lhes devia.
Muitas destas mulheres estiveram hoje presentes neste concerto, acompanhadas de familiares e amigos que, desta forma, quiseram ajudar os casos mais problemáticos, através de doações à entrada do espetáculo.
O concerto contou com a participação de cerca de 100 artistas que, graciosamente, se quiseram associar a esta causa.
Na primeira fila, estavam o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, o presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, o presidente da CGTP, Arménio Carlos, e o coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa (USL), Libério Domingues, entre outros
O concerto começou com o pavilhão do Sport Grupo Sacavenense quase cheio e mais de mil pessoas presentes.
Coube à guitarrista Luísa Amaro abrir o espetáculo, mas os seus acordes só se ouviram depois de expressar a sua solidariedade para com a luta destes trabalhadores, nomeadamente das mulheres que foram o rosto da causa. “É inadmissível que no século XXI ainda existam situações destas”, referiu, juntando-se aos que ali prometeram que “a luta continua”.
“Estas mulheres da Triumph perderam um bem precioso, que é o seu emprego, mas nunca perderam a sua dignidade"
Enquanto os artistas atuavam, várias fotografias do protesto destas trabalhadoras junto à fábrica eram mostradas na parede, recordando assim a sua luta.
Jerónimo de Sousa mostrou-se impressionado com a presença de “tanta, tanta gente” que tem estado ao lado das trabalhadoras. “Estas mulheres da Triumph perderam um bem precioso, que é o seu emprego, mas nunca perderam a sua dignidade e a coragem para lutar pelos os seus direitos, para potenciar esse clamor de justiça que bem precisam, a forma de resistência como, em condições tão difíceis, fizeram a sua luta”, disse aos jornalistas.
Para Jerónimo de Sousa, estas mulheres merecem do PCP a sua “profunda solidariedade e admiração”. “Por isso, as acompanhamos desde a primeira hora”.
O coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa (USL), Libério Domingues, disse à agência Lusa que o concerto estava cheio de gente com vontade de ajudar estes trabalhadores e ressalvou que, nesse sentido, ainda há muito para fazer.
O sindicalista referiu que os casos mais gravosos são os dos casais que trabalhavam na fábrica e reconheceu que existem situações “muito complicadas”.
Para já, as trabalhadoras esperam o cumprimento dos compromissos alcançados com a luta, nomeadamente o pagamento dos subsídios de desemprego, que deve começar no dia 22 deste mês.
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