"É uma situação muito preocupante para o mundo, que possa haver entre as duas grandes potências ou superpotências uma espécie de nova Guerra Fria", disse o gestor, já nomeado pelo primeiro-ministro para coordenar os trabalhos do plano de relançamento da economia, em entrevista à Lusa.
"Se olharmos para o mundo de hoje, há uma espécie de deriva sino-americana", explicou, colocando em paralelo a "liderança errática do Presidente Trump, completamente virado para si próprio, para o interior do país" e a situação na China, "em que aumentam as forças nacionalistas".
A China revelou nesta crise "algumas facetas que não estávamos habituados, nomeadamente as campanhas de informação e a exploração que fez de algumas debilidades na resposta dos países europeus, para tentar comparar com o seu modelo e pugnar que o regime autoritário é melhor do que as democracias", afirma Costa Silva.
Quanto à globalização, o professor e engenheiro de minas e dos petróleos considerou como "inevitável" um ajustamento, quando não uma "desglobalização".
“Antes da crise, já se sentia uma certa retração no comércio internacional e as estimativas da Organização Mundial do Comércio apontam para que na próxima década possa haver uma redução entre 13% a 35% do comércio mundial", esclareceu, para concluir que, se tal acontecer, "pode não haver uma 'desglobalização', mas pelo menos um reajustamento em baixa do processo de globalização".
"Só não acredito numa reversão completa porque o comércio é fundamental para o mundo e uma das grandes invenções da espécie humana, ao criar riqueza e confiança entre as sociedades", sublinhou, citando o filósofo francês Montesquieu: "O comércio é um pacificador da ordem internacional".
É neste contexto que Costa Silva colocou a tónica na Europa: "Numa situação como esta, em que se podem enfrentar as duas potências, o papel da Europa é ser um amortecedor muito importante, porque tem de convocar as outras grandes democracias, desde o Canadá à índia, à Nova Zelândia e Austrália".
O professor afirmou, contudo, ter esperança que, depois das eleições, os Estados Unidos "possam regressar a uma força estabilizadora da ordem internacional".
"É muito preocupante o nível crescente de hostilidade e de agressividade entre os Estados Unidos e a China e a Europa pode servir de plataforma para atenuar essas tensões", disse.
Sobre a atual situação nos EUA, considerou-a "expectável".
"As lideranças determinam as vidas dos povos e, portanto, o que esta crise está a revelar em toda a sua dimensão é que os líderes populistas e demagógicos têm muito pouca substância", acrescentou.
Quanto à China, Costa Silva foi da opinião que ela "foi sempre vencedora das últimas grandes mutações geopolíticas sobretudo neste século".
"Enquanto em 2001, depois do ataque às Torres Gémeas, os Estados Unidos declararam ‘guerra ao terror’, tendo gasto sete ou oito triliões de dólares nas várias guerras", nesse mesmo ano, destacou o professor, a China aderiu à Organização Mundial do Comércio e começou a trabalhar para desenvolver todo este paradigma”.
Costa Silva sublinhou também, a título de exemplo, como no último congresso na Assembleia Nacional Popular chinesa, pela primeira vez da expressão "ascensão pacífica da China no mundo" desapareceu a palavra pacífica.
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