Uma nova variante do coronavírus que causa a covid-19 foi detetada na África do Sul, o país africano oficialmente mais afetado pela pandemia e que está a sofrer um novo aumento de infeções, anunciaram hoje os cientistas.
“Infelizmente, detetámos uma nova variante que é motivo de preocupação na África do Sul”, disse o virologista Tulio de Oliveira, numa conferência de imprensa online.
A variante B.1.1.529 tem um número “extremamente elevado” de mutações, de acordo com cientistas sul-africanos que já tinham detetado a variante Beta, contagiosa.
Nesta fase, os cientistas não têm a certeza da eficácia das vacinas anti-covid-19 contra esta nova forma do vírus.
O aparecimento desta variante é provavelmente a razão do aumento “exponencial” das infeções nas últimas semanas, segundo o ministro da Saúde, Joe Phaahla, que participou na conferência de imprensa.
A variante foi encontrada pela primeira vez no Botsuana, com três casos já sequenciados. Na vizinha África do Sul, somam-se seis casos confirmados e um em Hong Kong, detetado num viajante de 36 anos que regressou à Ásia depois de uma passagem pela África do Sul.
A África do Sul, que teme uma nova vaga da pandemia até ao final do ano, é oficialmente o país mais afetada pela pandemia do continente, com mais de 2,9 milhões de casos e mais de 89.600 mortes.
A pandemia global é atualmente dominada pela propagação da variante altamente contagiosa do Delta, detetada pela primeira vez na Índia.
A covid-19 provocou pelo menos 5.165.289 mortes em todo o mundo, entre mais de 258,29 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
O jornal britânico ‘The Guardian’ dá conta de que esta nova variante do vírus responsável pela covid-19 com um “número extremamente elevado” de mutações, que pode desencadear novas vagas da doença, fugindo às defesas contra o SARS-CoV-2.
Segundo o diário, até agora foram detetados apenas dez casos em três países, através da sequenciação do genoma — ainda assim, alguns investigadores estão preocupados com esta variante, porque o número de mutações pode facilitar o rompimento da imunidade.
A variante B.1.1.529 tem 32 mutações na chamada proteína ‘spike’, a parte do vírus que a maioria das vacinas contra a covid-19 usa para erguer a barreira face à doença. As mutações nesta proteína podem não apenas afetar a capacidade que o vírus tem ara infetar células e espalhar-se pelo corpo, mas, também, dificultar a vida ao sistema imunológico, comprometendo a capacidade de as células atacarem o patogénio.
Tom Peacock, um virologista do Imperial College de Londres, publicou detalhes da B.1.1.529 numa página de partilha de genomas, sublinhando que a “quantidade incrivelmente elevada de mutações ‘spike’ pode sugerir que [esta variante] pode ser de verdadeira preocupação.”
Na rede social Twitter, o virologista escreve mesmo que o “horrível perfil ‘spike’” faz com que seja “muito, muito” importante o acompanhamento da variante — admitindo, no entanto, que possa tratar-se de um “aglomerado fora do vulgar” que não seja muito transmissível.
OMS foi alertada para nova variante com "elevado número de mutações" na África do Sul
A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada para a “ocorrência de uma nova variante de covid-19” na África do Sul e Botsuana, com “elevado número de mutações”, anunciou hoje a diretora da OMS para África, Matshidiso Moeti.
“Fomos alertados ontem (quarta-feira) para a ocorrência de uma nova variante de covid-19, que a OMS classifica como variante em monitorização, a B11.529, acerca da qual precisamos de obter mais informação”, indicou a responsável na conferência de imprensa semanal da organização através da internet.
Moeti destacou que “é importante saber até que ponto esta variante se encontra em circulação na África do Sul e no Botsuana” e que a organização está igualmente muito atenta ao que se conseguir saber sobre as “características deste vírus”, que está agora no centro das preocupações dos laboratórios de análise e investigação dos daqueles países.
“Há uma preocupação de que apresenta um elevado número de mutações na proteína ‘spike’ (usada pelo coronavírus para entrar nas células), que poderá ter implicação no seu grau de infecciosidade”, acentuou Moeti.
“Isto significa que todas as medidas colocadas no terreno têm de ser reforçadas, incluindo a aceleração da vacinação, em particular das populações mais vulneráveis”, rematou.
A diretora da OMS afirmou que o número de novos casos de infeção se tem mantido relativamente estável nas últimas duas semanas, mas “África tem que manter o nível de alerta, à medida que vemos o aumento dos casos na Europa”.
“Vamos voltar a entrar num período de maior deslocação da população com as festas do Natal e fim do ano, que originou um aumento de casos de infeção em dezembro último”, recordou.
Por outro lado, chamou a atenção, “estamos já a assistir a um aumento de novos casos na África Austral, com um aumento de 48% de novos casos de infeção na última semana, em comparação com a semana anterior”.
Esta tendência sucede a um período de 18 semanas de declínio sustentado de novos casos, com uma ligeira curva ascende apenas na África do Sul.
“Sabemos que a vacina é a nossa melhor proteção, mas enquanto muitos países desenvolvidos apresentam taxas de vacinação na ordem dos 60%, apenas pouco mais de 7% da população africana se encontra com a vacinação completa, apesar do aumento recente da receção de vacinas pelo continente”, voltou a sublinhar a responsável.
A conferência de imprensa desta semana teve como foco o estado de vacinação entre os profissionais de saúde no continente, a grande maioria dos quais não se encontra vacinada, estando, por conseguinte, exposta à infeção severa de covid-19. “Isto coloca em causa não apenas a saúde destes funcionários como dos pacientes ao seu cuidado”, sublinhou Moeti.
Os dados da OMS, com base em informação recolhida em 25 países africanos, apontam para que apenas pouco mais de 1 em 4 funcionários de saúde (27%) estão totalmente protegidos. Este número compara com uma taxa de proteção acima dos 80% no caso dos funcionários de saúde em países com economias mais desenvolvidas, ilustrou a diretora regional da OMS.
“À medida que o continente ultrapassa os constrangimentos no acesso às vacinas, é crucial que estes problemas sejam solucionados”, sublinhou.
O mau registo na vacinação dos funcionários de saúde é parcialmente atribuído ao mau funcionamento dos sistemas, em especial nas áreas rurais.
“A desconfiança em relação às vacinas é também um desafio a ultrapassar. Estudos recentes concluíram que apenas 40% dos funcionários de saúde tinham a intenção de ser vacinados no Gana, e menos de 50% na Etiópia”, exemplificou Matshidiso Moeti.
A preocupação sobre a segurança das vacinas e sobre os efeitos secundários foram identificadas como as principais razões de hesitação.
*Com Lusa
(Artigo atualizado às 13:06)
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