O recurso às redes sociais, nas pausas do trabalho, à alimentação enquanto substituição e o apoio que chegou das teleconsultas antitabágicas foram, segundo contaram à Lusa os dois ex-fumadores, auxiliares preciosos nesse combate.
Renato Freire, de 53 anos, resistiu à invasão do seu corpo pelo novo coronavírus e a um ataque cardíaco em novembro de 2020, altura em que decidiu deixar de fumar.
“Apesar de ter sido muito difícil, por causa do ‘lay-off’, de estar em casa e de não ter nada para fazer e de ter de arranjar soluções para me distrair, tive mesmo de parar de fumar”, relatou à Lusa o funcionário de uma loja de decoração no Porto.
Fumador “desde os 18 anos, com paragens, no máximo, de seis meses, e com recurso a medicação”, Renato Freire teve a primeira consulta presencial antitabágica a 1 de fevereiro de 2021” tendo, desde então, o acompanhamento sido feito por telefone.
“Deixei de fumar a 7 de março”, recordou, explicando que o recurso às redes sociais o ajudou a superar o vício: “nos intervalos, na loja, já não saio para fumar, fico no telemóvel a ver vídeos no youtube”.
Aos 57 anos José Carlos Silva, de Gondomar, conseguiu em plena pandemia fazer o que não conseguia há quase 30 anos, estando sem fumar desde 13 de abril de 2020.
Fumador desde os 18 anos, o analista informático diz ter-se inscrito na consulta antitabágica no Hospital Santo António, no Porto, “dias antes da chegada da pandemia”, situação que o impediu de ter consultas presenciais.
“Entrei em confinamento na minha pior fase do combate e foi complicado. Como substitui o cigarro pela alimentação acabei por engordar, mas até isso fui perdendo e acabei por normalizar o meu comportamento”, relatou, orgulhoso.
A presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, Isabel Magalhães, referiu à Lusa que “numa primeira fase houve quem visse o confinamento como uma oportunidade para largar o tabaco, enquanto uma outra franja, que se sentiu muito constrangida e pressionada na segunda fase, continuou a fumar e até aumentou o consumo”.
Relatando não haver estatísticas sobre como evoluiu o consumo de tabaco em Portugal no último ano e meio, a responsável afirmou que “com o avançar do ano e da pandemia os aspetos sociais e económicos geraram um grande stresse nas pessoas”.
À Lusa, a Tabaqueira deu conta de uma queda próxima dos 10% nas vendas em 2020, face a 2019, assinalando que, apesar do abrandamento da atividade económica em 2020, “houve um aumento da produção e das exportações em aproximadamente 15%”, tendo sido atingidos os 686 milhões de euros”.
“Relativamente às nossas vendas de cigarros em Portugal, verificámos uma redução inferior a 10%, face às vendas registadas em 2019 devido, em parte, à ausência de atividade no setor do turismo”, referiu a empresa.
Entretanto, números da consulta antitabágica cedidos à Lusa pelo Hospital Santo António, no Porto, indicam que foram realizadas 1.140 em 2019, contra 854 em 2020.
Essa relação mostra ainda que em 2019 houve 311 primeiras consultas e 829 subsequentes.
Em 2020, segundo o hospital, houve 176 primeiras consultas, das quais 10 realizaram-se por telefone, entre abril e maio.
“Desde maio [de 2020] que retomámos as primeiras presenciais e mantivemos as subsequentes por telefone, totalizando 678, destas 531 desde maio foram por telefone”, especifica a unidade hospitalar.
Por sua vez, a Tabaqueira refere que houve “uma alteração muito relevante no tipo de consumo de produtos tabaco”, indicando que os portugueses começaram a “optar por alternativas sem combustão e fumo”.
No final de 2020, a empresa contabilizava “300 mil utilizadores” desta versão de tabaco.
Questionada sobre a tendência de consumo em 2021, a Tabaqueira informou estarem os primeiros meses “em linha com 2020”, explicando manter-se “alguma contração nas vendas de cigarros e estabilização no tabaco aquecido, sobretudo devido à ausência de atividade no setor do turismo”.
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