A Escola Secundária Dom Dinis, em Lisboa, é apenas um dos estabelecimentos de ensino do país que hoje reabriram as portas para os estudantes do 2.º e do 3.º ciclo. No total, são mais de 500 mil jovens que, devido à pandemia de covid-19, deixam de precisar da Internet para ver professores e colegas.
Gabriela Pinto é uma dessas alunas. Hoje trocou o ecrã pela sala de aula. Desde janeiro, que a adolescente do 7.º ano só “saía do quarto” através do seu ‘tablet’. “Sentia-me meio triste por não ter ninguém para estar comigo”, desabafou, enquanto fazia sinal a uma amiga que também estava a chegar à escola para a primeira aula das 8:30.
O reencontro, as conversas e gargalhadas animaram também os funcionários, como Leonel Melo, que desde janeiro só se cruzava praticamente com outros assistentes operacionais e professores.
À Lusa contou que foram dias difíceis: “É complicado, o tempo não passa e eles fazem cá falta”.
Durante o ensino à distância, o agrupamento frequentado por cerca de 2.500 estudantes acolheu apenas 30 meninos do 1.º ao 12.º ano. “Casos mais complicados”, que a direção considerou que deveriam permanecer na escola, contou à Lusa o diretor do agrupamento, José Sousa.
Há 15 dias, reabriram as escolas do pré-escolar e 1.º ciclo e hoje começaram a receber o 2.º e 3.º ciclo. Se tudo correr bem, dentro de duas semanas será a vez de ver chegar os do secundário.
Na escola, todos defendem a importância do ensino presencial. Até os alunos reconhecem que em casa é muito mais complicado.
A aluna Gabriela Pinto admitiu que agora “foi mais tranquilo do que no primeiro confinamento, mas continuou a ser estranho”: “Não consigo aprender como se estivesse na escola, porque é muito mais difícil”, desabafou a menina do 7.º ano.
Também os pais dos alunos que falaram com a Lusa apontaram maiores dificuldades de aprendizagem nesta segunda temporada de ensino à distância.
“Foi mais difícil conseguirem perceber a matéria, especialmente quando avançavam na matéria, porque as dúvidas não eram esclarecidas da mesma forma, o que cria muito mais dificuldades do que se estivessem na escola”, contou à Lusa Andreia Fernandes, mãe de dois gémeos do 7.º ano.
Os professores também reconheceram dificuldades em conseguir tirar dúvidas, até porque nas aulas ‘online’ muitos alunos preferem não falar e depois, apenas alguns, mandam perguntas por escrito.
“No ensino presencial, como estamos próximos, eles perguntam. No modo ‘online’ ficam simplesmente calados. Muitas vezes tinham o microfone desligado, para não interferir. Como não intervêm, acabam por ficar com as dúvidas. As respostas em modo assíncrono também acabam por ser muito limitadas. Nós respondemos logo, mas podemos não estar a conseguir tirar a dúvida”, contou à Lusa Francisco Fernandes, professor das disciplinas de Informática.
Os professores começaram também a notar que os alunos estavam “muito mais desmotivados e menos atentos”.
Muitos aproveitavam a desculpa das aulas serem ‘online’ para dizerem que estavam com problemas nos equipamentos informáticos.
“A câmara é o primeiro sinal de que o aluno não está minimamente atento à aula. Primeira coisa que querem é desligar e muitas vezes contam com o apoio dos próprios pais”, lamentou Francisco Fernandes, lembrando as justificações que foi ouvindo ao longo do segundo período: “Não está a funcionar a câmara, o equipamento não tem câmara, a Internet está fraca”.
A grande melhoria em relação à primeira experiência do ensino ‘online’ foi a distribuição de computadores e Internet. Num agrupamento onde metade dos alunos tem Apoio Social Escolar, o ensino à distância revelou-se quase impossível para muitos, em março do ano passado.
Dos 2.500 estudantes, cerca de 1.400 pertencem aos três escalões do ASE.
Segundo o presidente do agrupamento, “está prestes a terminar” a distribuição de computadores por estes alunos: “Recebemos no final de março a última remessa de equipamentos e estamos a concluir a entrega aos alunos do escalão C. São cerca de 1.400 equipamentos e decorreu em bom ritmo”, contou José Sousa.
A professora de inglês do 3.º ciclo Adelina Correia sentiu esta melhoria - “agora quase todos tinham computador e no outro confinamento não” - a que se somou a experiência acumulada da primeira temporada do ensino à distância, que começou em meados de março do ano passado.
No final da primeira aula do 3.º período, Adelina Correia sentia-se feliz. Por um lado, era o regresso à sala de aula, o ambiente natural do professor. Por outro, viu nos seus estudantes o entusiasmo de estar na escola.
“Os alunos estavam com bastante vontade de voltar. É diferente olhá-los nos olhos diretamente. É muito diferente do que ser através do computador”, contou à Lusa, admitindo que “foi muito difícil”.
“A certa altura os alunos também desmotivaram e não estavam com a mesma atenção. Nós estávamos a sentir que eles não estavam a aprender nada”, recordou, lamentando que “alguns já nem faziam os trabalhos”.
A reabertura das escolas é, por isso, também uma satisfação para os docentes. Quanto aos perigos de contágio do novo coronavírus, dizem que se sentem mais seguros dentro da escola que na rua.
“Somos bastante organizados e cumprimos as regras. Eles [(alunos] andam próximos uns dos outros, é inevitável, mas não sinto esse receio dentro da escola. Sinto muito mais num autocarro”, contou à Lusa o professor de informática, depois de fazer o teste de despistagem à covid-19.
A Escola Secundária Dom Dinis foi uma das muitas escolas onde hoje se realizaram testes. Durante esta semana, o Ministério da Educação estima que sejam testados cerca de 150 mil funcionários escolares dos estabelecimentos públicos e privados. Só na Secundária Dom Dinis, as equipas estavam preparadas para hoje realizar 120 testes.
Francisco Fernandes ficou contente por a iniciativa não ter sido antecipada. Com casa em Bragança, teria de “fazer uma deslocação de 500 quilómetros só para fazer este teste”.
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