"Gostaria que o nosso país irmão [Portugal] pudesse entrar em oração, porque a situação no Amazonas é muito grave. Precisamos, caso a situação continue neste ritmo, que haja um grupo de trabalho de profissionais de saúde, que se voluntariem para virem trabalhar no Brasil, porque temo que possamos entrar num caos total, não só no Amazonas", disse Vianna.
"Agora, com esta nova estirpe do novo coronavírus detetada aqui, e no Japão, pode ser um desastre total. Temo pelo Brasil, temo pelo mundo, e que Deus nos ajude", acrescentou o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, estado do norte brasileiro, cuja capital, Manaus, atravessa uma situação caótica, devido ao aumento de casos de covid-19 e falta de oxigénio dos hospitais.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram as próprias famílias de pacientes a transportar para os hospitais tanques de oxigénio que adquiriram por conta própria, e há relatos de mortes por asfixia.
Face à situação caótica na região, as autoridades locais decidiram transferir para outros estados centenas de pacientes infetados com o novo coronavírus.
Apesar de a grave situação ter gerado comoção nacional, Mario Vianna garante que está em causa uma "tragédia anunciada" e que já tinha denunciado ao ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, seis meses antes do início da pandemia, a situação precária do sistema público de Saúde do Amazonas, que agora culminou na falta de oxigénio, um elemento básico para o atendimento em qualquer unidade hospitalar, principalmente em casos de doenças respiratórias, como a covid-19.
Segundo dados do Sindicato dos Médicos, apenas na manhã de hoje morreram cinco pessoas, por escassez de oxigénio, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, naquele estado localizado na Amazónia brasileira.
"Com certeza que é uma tragédia anunciada, em que faltou responsabilidade, transparência, e onde houve omissão do poder público em tratar da pandemia. A primeira vaga de covid-19 já foi bastante violenta aqui, em Manaus, e agora volta a ficar em destaque, novamente, nesta segunda onda. (...) Tudo contribuiu para este cenário de guerra que temos aqui", avaliou o médico.
Mario Vianna é incisivo a apontar responsabilidades ao governador do Amazonas, Wilson Lima, a quem acusa de ter pago 2,9 milhões de reais (460 mil euros) a uma loja de vinhos por 28 ventiladores pulmonares, para tratar pacientes infetados.
O valor unitário equivale a até quatro vezes ao preço dos aparelhos em lojas no Brasil e no exterior, e os equipamentos são considerados "inadequados" para pacientes de covid-19, segundo Vianna, que denunciou o caso.
Em relação à previsão de regularização da reserva de oxigénio, Mario Vianna relatou à Lusa que, apesar de ter a expectativa de que a situação melhorasse nas próximas horas, tem recebido vários depoimentos de que "várias unidades de saúde continuam sem oxigénio" e com "registo de várias mortes".
"É uma situação que tende a piorar. Mesmo com as Forças Armadas ajudando a transportar cilindros de oxigénio de outros estados, não têm dado conta do recado, porque a capacidade dos cilindros é muito limitada. Centenas de cilindros não conseguem fazer o papel de uma central de oxigénio de um pronto socorro grande, onde o consumo de oxigénio por hora é muito elevado”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas criticou ainda o movimento "pouco democrático" tomado pelo governador, Wilson Lima, que colocou a polícia em torno dos hospitais, "para coibir os profissionais de saúde de denunciar as condições, e para impedir os familiares das vítimas de se manifestarem".
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (207.095, em mais de 8,3 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.
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