“É absolutamente insustentável o que se está a passar na prestação de cuidados, é uma situação dramática. Acho que é essa a descrição possível", afirmou o médico em declarações à agência Lusa, lembrando que, “infelizmente os alertas dos hospitais e de todos os envolvidos não são de agora, [já vêm] até [de] antes do Natal”.
No dia em que Portugal contabilizou dois novos recordes diários relacionados com a pandemia de covid-19 - 166 mortes e 10.947 novos casos de infeção com o novo coronavírus, em 24 horas – alguns hospitais alertaram estarem em rutura.
O Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, apresentava hoje um total de 169 doentes com covid-19 internados, dos quais 18 em cuidados intensivos, com a unidade hospitalar a admitir um “cenário de pré-catástrofe”, caso a situação se mantenha.
O diretor do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Daniel Ferro, disse que o hospital de Santa Maria está em “sobre esforço” e que a adaptação aos picos de atendimento “tem limites”, estando a trabalhar além da capacidade instalada.
Para o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, “não é surpreendente que haja de facto pressão”.
“O que acontece é que estamos a atingir um nível insustentável e isso tem muito que ver com aquilo que foi acontecendo”, afirmou.
Embora o país esteja no início de um novo confinamento, “a realidade é que na prática, olhando para a rua e vendo o que se vai passando, há de facto uma grande mobilização das pessoas na rua, etc.” e “acaba por ser difícil combater a pandemia com esta situação”, considerou.
“Eu espero que apesar disso possa haver uma redução [nos números], mas vai demorar que isso se venha a verificar, na medida em que sabemos que estas infeções que estão a surgir agora são infeções que se calhar aconteceram há uma semana”, disse.
Para Ricardo Mexia, esta pressão “enorme nos serviços” de saúde “tem que ver com aquele volume de novos casos que houve já no início do ano” e esta pressão ainda se vai manter durante alguns dias.
“Temo que a mortalidade se vá agravar ainda”, referiu também.
O médico alerta que “toda a gente avisou que era importante não ter criado aqui uma sensação de que estava tudo resolvido, e, portanto, as pessoas acabaram por ter muito mais contactos no Natal e na passagem de ano”.
Além disso, “era importante ter reforçado os meios em tempo útil para quando eles fossem necessários estarem já aptos a trabalhar, portanto era importante ter planeado esta resposta”.
“E agora, cá estamos a correr atrás do prejuízo, só que é um prejuízo elevado e com muita dificuldade em o conter, é uma situação evitável e agora vamos ter rapidamente que conseguir empurrar estes números para baixo”, considerou.
O médico considera que “mais até do que as questões restritivas, que podem ter o seu papel, o reforço dos meios, a melhoria na comunicação e a clareza com que se dizem as coisas, isso seguramente pode melhorar”.
“Já devia ter melhorado antes, mas ainda vamos a tempo também de corrigir isso, por forma a que consigamos ser mais assertivos e mais claros, para tentar empurrar esta situação para baixo, no sentido de conseguirmos ter maior sustentabilidade naquilo que é a nossa resposta, mas de facto vão ser semanas difíceis”, afirmou.
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