As aldeãs de Vaideeni, no sopé dos Cárpatos, na Roménia, ficaram furiosas com a marca de luxo francesa Louis Vuitton por ter "roubado" o design da sua blusa tradicional.

Maria Gioanca, de 69 anos, uma das duas dúzias de mulheres que ainda costuram à mão a peça de roupa preta e branca na aldeia, disse à AFP que não ia "deixar que o traje seja roubado" para usar na praia.

Em Vaideeni, muitas das costureiras nunca tinham ouvido falar da Louis Vuitton, mas repararam logo na semelhança com as suas tradicionais blusas "ie" quando viram uma fotografia da blusa de linho branco da marca francesa bordada com motivos pretos para a sua nova coleção "LV by the Pool".

"Porquê gozar com as nossas coisas?", disse Ioana Staniloiu, 76 anos, fazendo pouco da blusa criada pelo estilista Nicolas Ghesquiere e anunciada no site da Louis Vuitton como "arejada" e com "um ar fresco e boémio". "Ao lado da nossa blusa, é feia", disse.

O ministro da cultura da Roménia pediu à empresa, no mês passado, que reconhecesse o património. Contactada pela AFP, a Louis Vuitton não quis comentar o assunto, mas confirmou que a empresa pediu desculpa à Roménia e deixou de vender a blusa.

Os apelos para que as marcas de luxo reconheçam as inspirações das suas criações têm aumentado nos últimos anos, uma vez que a indústria da moda tem sido confrontada com acusações de apropriação cultural e de exploração do património de grupos minoritários.

Na Roménia, o grupo de ativistas "La Blouse Roumaine" ("A Blusa Romena") tem vindo a pedir às marcas, desde 2017, que sejam honestas e "dêem créditos" aos locais de origem quando as suas roupas são semelhantes ou inspiradas em trajes folclóricos romenos.

Dedicado a promover a blusa tradicional "ie" — conhecida por ter inspirado designers de moda como Yves Saint-Laurent, Jean Paul Gaultier e Kenzo — as queixas deste coletivo têm produzido resultados variados.

Acusando a empresa francesa de "violar os direitos culturais das comunidades", a fundadora da La Blouse Roumaine, Andreea Tanasescu, disse que as pessoas se sentiam ofendidas pelo facto de uma blusa tradicionalmente usada em ocasiões especiais ser usada como roupa de praia.

"É preciso ter muito cuidado... É melhor ir falar com a comunidade, passar algum tempo lá", disse à AFP a antiga diretora de casting, de 49 anos, acrescentando que a moda poderia ajudar a "proteger e promover o património cultural" se houvesse um intercâmbio.

No passado, La Blouse Roumaine convenceu o estilista norte-americano Tory Burch a alterar a descrição de um casaco que creditava a sua inspiração romena. Num caso semelhante, não obtiveram qualquer resposta da Dior.

O vestuário e os têxteis tradicionais romenos têm "uma estética excecional e especial", segundo a especialista em têxteis Florica Zaharia, que destaca a discrição e a elegância da blusa.

"Há uma beleza que não podemos ignorar", disse Zaharia, que abriu o primeiro museu de têxteis na Roménia em 2018, depois de quase 30 anos a trabalhar no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.

Mas os críticos dizem que estas controvérsias acabam por não ajudar as comunidades a salvar os seus ofícios em vias de extinção. É como "lavar a roupa suja em público", disse o curador do Museu Romeno do Camponês, Horatiu Ilea, acrescentando que "a única coisa" que pode ajudar é que os jovens aprendam o artesanato.

Embora a confeção da blusa romena tenha sido incluída na lista do património cultural imaterial da UNESCO em 2022, não existe patente e há estilos diferentes mesmo entre o mesmo grupo de costureiras.

Em Vaideeni, algumas mulheres retomaram recentemente o ofício que aprenderam com as mais velhas, mas está longe de ser fácil.

É preciso, pelo menos, um mês para coser uma blusa que se vende por cerca de 300 a 400 euros (320 a 430 dólares), e as vendas não são propriamente muito boas.

"Estou um pouco assustada (com o futuro), mas não vamos desistir", diz Staniloiu, cuja filha e quatro netas deixaram a aldeia para procurar trabalho noutro lugar.