Em declarações à agência a propósito do Dia do Euromelanoma, que se assinala na quarta-feira, Ricardo Vieira, secretário-geral da APCC, lembrou que a prevenção “é fulcral” e que um estudo com base em dados dos hospitais públicos indicou que o melanoma, o cancro de pele mais mortal, mas menos frequente, tem uma despesa anual de 3,84 milhões de euros, enquanto os restantes ultrapassam os 16 milhões.
“Mesmo assim, faltam aqui os registos dos doentes que são tratados no serviço privado”, afirmou este médico dos hospitais de Coimbra.
Ricardo Vieira lembrou que o valor mais próximo da realidade se refere ao melanoma, o único cancro de pele incluído no Registo Oncológico. Em 2018 foram registados 1.000 novos casos deste cancro em Portugal.
Contudo, insistiu, o melanoma é o cancro de pele menos frequente, mas é o que pode causar maior taxa de mortalidade (75% das mortes de cancro de pele).
O especialista sublinhou ainda o caráter mutilante sobre o doente, frisando que “é preciso muitas vezes fazer cirurgias que podem reduzir áreas importantes da pele”.
“Se pensarmos no número de mortes, nós temos mais de uma pessoa a morrer por dia por cancro de pele. Eu diria que 90% dos cancros de pele ou 90% das mortes por cancro de pele seriam potencialmente evitáveis”, afirmou Ricardo Viera, sublinhando a importância de insistir em campanhas como a do Euromelanoma.
“Temos de arranjar mecanismos para que [estes cancros] sejam de facto evitados. O diagnóstico precoce, numa primeira abordagem, e o controlo dos fatores de risco são essenciais”, disse.
Ricardo Vieira lembrou ainda, quanto aos solários, que “para se conseguir um bronzeamento é dada uma dose relativamente elevada de raios ultravioletas, que causam mutações”, e que o risco de cancro aumenta três vezes.
“Essas mutações são a causa do cancro”, frisa o dermatologista, lembrando que a relação causa-efeito entre os solários e o melanoma está muito bem estabelecida”, acrescentou.
Também sobre os solários, o presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), António Massa, lembrou que, nalguns estados norte-americanos, as pessoas “têm que fazer uma declaração, nomeadamente no caso dos menores os pais têm que assumir o risco”, e que na Austrália estes equipamentos já foram banidos.
Ambos recordam que a exposição ao sol é benéfica, até por causa das deficiências de vitamina D, mas frisam que deve ser feita “nas horas mais favoráveis” - até às 11:00 e a partir das 16:00 -, e sempre com protetor solar.
Chamam também a atenção para os dias nublados, em que a radiação infravermelha, que produz calor, não passa pelas nuvens, o que pode levar as pessoas a distraírem-se com a exposição e o protetor solar.
Sobre como perceber que é uma boa ou má hora para a exposição solar, António Massa lembra que, “quanto menor é a sombra refletida da pessoa, mais direto está o sol e mais perigosa é a exposição” e chama a atenção para a exposição solar ao longo do ano.
Citou um estudo alemão em que pessoas que trabalhavam em Berlim foram levadas para o Mar Morto e, posteriormente, se comparou os sinais que desenvolviam na pele após a exposição solar.
“As que trabalhavam em escritórios e tinham tido menos contacto ao longo do ano com o sol, desenvolveram mais sinais do que as outras pessoas que trabalhavam ao ar livre”, explicou, sublinhando a importância do uso diário de protetor solar e de chapéu.
A pandemia limitou a campanha do Euromelanoma - uma ação conjunta da APCC e da SPDV, com a chancela da Direção-Geral da Saúde -, impedindo as ações de observação e rastreio presencial e, por isso, os especialistas insistem na importância do autoexame.
António Massa pediu atenção a “sinais que vão mudando de aspeto, de cor ou de tamanho, que alteram o contorno ou que passam a dar desconforto ou comichão”, sublinhando que, nestes casos, é preciso consultar um dermatologista.
“Mas não vamos só meter medo, pois na gravidez e na fase de crescimento das pessoas, e até aos 50 anos, por regra vão aparecendo sempre sinais, sem preocupação”, afirma, defendendo que, além dos sinais que alteram de aspeto, aqueles que aparecem sobretudo depois dos 50 anos e têm uma cor mais escura devem ser observados por um médico.
“Com estes cuidados a pessoa está relativamente segura”, afirmou o responsável, frisando que “mesmo o melanoma, se for detetado precocemente, é curável”.
Na auto-observação, chama particular atenção para se ver na planta nos pés e entre os dedos.
Apesar das restrições da pandemia, mantém-se na campanha deste ano do Euromelanoma a difusão de mensagens para promover a literacia acerca dos vários tipos de cancro de pele e serão divulgados cartazes e folhetos informativos, sendo igualmente disponibilizados conteúdos através dos sítios da internet das entidades organizadoras.
Estima-se que, em Portugal, os vários tipos de cancro de pele conduzem a mais de 400 mortes anuais, a maioria causada pelo melanoma, o tipo de cancro de pele mais grave e que contribui para cerca de 10% dos novos casos anuais.
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