“Também há despejos nos bairros camarários” ou “Fiscalizem. As casas alugadas da Câmara servem de alojamento local” eram algumas das denúncias inscritas nas faixas e cartazes levados para o protesto.
Outras frases da manifestação, que começou cerca das 15:00 e se prolongou até perto das 18:00, no meio de chuva, pediam o “fim dos despejos”, “habitação sim, despejos não” ou “O filho do senhorio é turista? Faça fiscalização em vez de especulação”.
Em declarações à Lusa, Gonçalo Gomes, da Plataforma Laboral e Popular, uma organização de trabalhadores que se uniu a outros movimentos cívicos para combater os despejos na cidade, afirmou que há “pressão e ‘bullying’ imobiliários”.
“Os senhorios e as imobiliárias, com o apoio da Câmara do Porto, promovem estes despejos, este desterro do povo”, acusou Gonçalo Gomes, referindo que a incidência é na zona histórica da cidade” e que essas pessoas são “empurradas e arrastadas para as periferias”.
A plataforma apoia a Assembleia de Moradores, que foi constituída na freguesia da Vitória, e aquilo que a uniu aos restantes movimentos cívicos em protesto foi a “urgência primária de parar os despejos”.
“Queremos elevar as consciências do povo trabalhador para compreender o processo de gentrificação que é histórico. Aqui no Porto iniciou-se no século XIX, passou ao século XX com os bairros sociais e agora em 2018 continuamos a lutar pela habitação", disse Gonçalo Gomes.
Entre as várias dezenas de manifestantes, uma imigrante francesa a viver e trabalhar no Porto disse à Lusa estar a sofrer pressão do senhorio para sair da casa onde mora com o filho de quatro anos.
Julianne G., 36 anos, considerou ser “terrível o que está a acontecer” e mostrou-se totalmente “solidária” com os restantes moradores da cidade, que estão a ser expulsos de suas casas.
“O meu proprietário já me disse que eu tinha de sair em breve e não sei como vou pagar outra casa, porque tenho um salário baixo”, afirmou Julianne.
Na última reunião da Câmara do Porto, a 05 de junho, o presidente da autarquia, Rui Moreira, contou que tinha recebido “relatos preocupantes sobre a lei das rendas”, notando que “o problema da habitação não se resolve sem financiamento e não podem ser só os municípios a fazê-lo”.
Moreira alertou para a falta de “caroço” do Governo para intervir nas ilhas ou despejos na cidade, notando que “o problema da habitação” e das rendas elevadas “não se resolve sem investimento público”.
Na semana passada, a 07 de junho, o Bloco de Esquerda anunciou, por seu turno, que tinha convocado uma Assembleia Municipal Extraordinária para o 18 de junho, destinada a debater os despejos e a cessação de contratos de arrendamento no centro histórico e em outras freguesias do Porto.
“Da mesma forma que Rui Moreira tanto se aplicou na divulgação do Porto como melhor destino ou nas revindicações de uma ponte aérea que não podíamos deixar de ter, da mesma forma Rui Moreira tem de aplicar-se na defesa do interesse das pessoas”, disse, na altura, Susana Constante Pereira, deputada municipal do BE.
No entender do BE, “Rui Moreira reage a esta calamidade social que deriva desta sangria dos despejos, com lamúrias daquilo que o Governo não permite fazer e com anúncios vazios”, sublinhou, apontando como exemplo o protocolo com a Associação de Inquilinos do Porto.
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