No frente a frente televisivo na SIC-Notícias, os dois candidatos às presidenciais de 24 de janeiro tiveram uma discussão acesa, com algumas interrupções à mistura, sobre o que os diferencia e quase ignoraram as críticas aos restantes candidatos, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e recandidato, mas também os candidatos à esquerda.
Mayan Gonçalves começou o debate a repetir acusações a Ventura, que rotulou de "xenófobo, racista e troca-tintas", por mandar "uma deputada negra para a terra dela", por querer "confinar uma minoria" cigana e atacou-o por dizer que não pretende ser "Presidente de todos os portugueses".
"Esta é uma enorme diferença" entre os dois, sublinhou Tiago Mayan Gonçalves, numa fase do debate em que se discutia se ambos eram ou não liberais e que mereceu um comentário surdo de Ventura: “O Tiago não é de direita."
Passavam pouco mais de três minutos, e o nível de decibéis subiu quando André Ventura confirmou que não queria "ser o Presidente de todos os portugueses", "dos portugueses pedófilos, dos que vivem à conta do sistema" e voltou a dizer que "há um problema com a etnia cigana", afirmando que vive "acima das suas possibilidades", de subsídios.
E ironizou com o discurso do seu adversário "eu sou de direita, mas defendo as coitadinhas das minorias", sugerindo que mudasse o nome do partido a que pertence de Iniciativa Liberal para "Esquerda Liberal".
Mais à frente, Ventura acusou Mayan Gonçalves de ser um "travesti de direita".
Ao longo de grande parte do debate, de 35 minutos, o candidato presidencial dos liberais tentou cavar diferenças com Ventura quanto à imigração, ao papel do Estado e dos apoios às minorias, como a cigana, demarcando-se do radicalismo do deputado do candidato e deputado do Chega.
O debate avançou e quando se falou da TAP e das ajudas do Estado o candidato apoiado pela IL criticou Ventura por admitir que "prefere fechar a torneira a 15 milhões de euros no Rendimento Social de Inserção (RSI)" para as minorias, mas dar "4.000 milhões" à TAP.
Comentário imediato de Ventura numa das várias interrupções: "Está a comparar a TAP com os ciganos?"
Um aparte que mereceu uma resposta ríspida de Ventura, de que esse não é um tema do debate, foi quando Mayan aconselhou o adversário, que é benfiquista, a preocupar-se “com o calote que o amigo Luís Filipe Vieira”, presidente do Benfica, “deixou no Novo Banco”.
Outro ataque foi quando, já no final do debate, Mayan Gonçalves criticou Ventura de ser um “candidato do sistema” a propósito do acordo nos Açores para a formação de um Governo com o apoio do Chega.
A IL, prometeu, nunca viabilizará um Governo, em Portugal, com o apoio do Chega e criticou-o por já ter dito quais as pastas que aceitaria num eventual entendimento com o PSD.
André Ventura, afirmou, diz que “é anti-sistema, mas é um produto do sistema” e o que critica nos cartazes que colocou nas ruas, “os tachos”, “é o que está a fazer”.
E para vincar que ele e o candidato do Chega são “radicalmente diferentes” reclamou para si uma postura “mais patriota” e “o legado histórico” de Portugal, na abolição da pena de morte ou da escravatura em que, acusou, o seu adversário que “fazer andar para trás”.
O que valeu mais um aparte do deputado do Chega: “Legado histórico? Do Álvaro Cunhal e de Mário Soares?”
Se Mayan Gonçalves defendeu que os seus modelos são, por exemplo, o serviço de saúde da Alemanha, a política fiscal da Irlanda e o respeito dos direitos da Suécia, André Ventura criticou-o por não falar de Portugal, reivindicando para si um objetivo: “Eu quero a alma portuguesa e quero reconstruí-la.”
Das poucas questões em que os dois candidatos estiveram de acordo foi nas críticas ao estado de emergência para fazer face aos efeitos da pandemia de covid-19 e a reclamar apoios, da parte do Estado, para as pequenas empresas, como do setor da restauração.
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