“Jorge Sampaio é, por merecimento de continuidade e unidade na ação cívica e na ação política, sobretudo, uma das figuras maiores da vida política portuguesa contemporânea”, sustentou o general Ramalho Eanes, através de uma declaração no seu gabinete, em Lisboa.
Em nome próprio e da mulher, Maria Manuela Ramalho Eanes, apresentou à família, “em particular à sua mulher e filhos, sentidas condolências”. O general descreveu Sampaio como “um companheiro extremamente importante e inspirador” na luta pela “implantação da democracia” no país, como um homem de “valores e convicções humanistas, com expressão no pensamento e na ação”, que “cedo mostrou o seu corajoso empenho na defesa dos ideais democráticos”.
O general Ramalho Eanes lembrou que a luta do antigo Presidente Jorge Sampaio pela democracia começou quando ainda era estudante, altura em que desempenhou um “papel importante” no combate “académico contra o regime”.
“Fê-lo, depois, enquanto advogado, na defesa judicial dos perseguidos políticos. Fê-lo, com unidade e continuidade coerentes, depois de Abril”, completou.
Jorge Sampaio, prosseguiu o general, “criou organizações políticas, certamente ciente de que, nelas, melhor se reorganiza e defende a discussão político-ideológica, que informa, esclarece, consciencializa, mobiliza e proporciona tolerância – tudo isto indispensável a uma democracia que se pretende em constante aprofundamento”.
Sampaio também se candidatou à presidência da Câmara de Lisboa, na opinião de Ramalho Eanes, por perceber que através do cargo “mais fácil seria o diálogo com a sociedade civil, com as suas organizações, mais fácil seria a mobilização destas para que, através do diálogo, da cooperação, da crítica, mesmo da contestação, elas se constituíssem em fonte e motor de governação autárquica”.
E neste contexto abriu a liderança do município a “uma certa pluralidade partidária”, através da coligação 'Por Lisboa' com o PCP.
O general Ramalho Eanes também enalteceu a criação, por Sampaio, da plataforma que possibilita a refugiados sírios a continuação dos estudos universitários, “capacitando-os, assim, para um futuro de esperança e uma intervenção na conquista da paz no seu país”. Esta plataforma, entretanto, alargada a refugiados afegãos, é parte do legado de Sampaio que Eanes gostava de ver consolidado.
“É justamente devida, a Jorge Sampaio, a homenagem que o País ora lhe presta. Homenagem que se poderia continuar através da revitalização do seu projeto de apoio à formação universitária de refugiados em Portugal. Creio que tal seria possível através de instituições da sociedade civil, nomeadamente de alguma fundação para tal vocacionada”, concluiu.
O general acrescentou que “importante seria que o legado público” de Jorge Sampaio servisse “para os portugueses encontrarem inspirações” que defendam a democracia e não deixem que “seja apenas uma forma de governo, mas para que seja a forma e o fim de uma sociedade moderna, inclusiva, realmente democrática”.
Jorge Sampaio, antigo secretário-geral do PS (1989/1992) e Presidente da República (1996/2006), morreu na sexta-feira, aos 81 anos, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, Oeiras, onde estava internado desde 27 de agosto, na sequência de dificuldades respiratórias.
Para hoje está previsto o velório e o funeral, com honras de Estado, realiza-se no domingo, antecedido por uma homenagem nacional no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
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