Entre as ilegalidades apontadas pela lista opositora, liderada por Liliana Branco, voluntária há mais de uma década na instituição, estão votos por procuração com base em procurações com irregularidades, uma ilegalidade comunicada à mesa da assembleia-geral enquanto decorria a eleição para os órgãos dirigentes, no passado dia 09 de dezembro, disse a candidata à Lusa.
Liliana Branco relatou que foram contados mais votos em urna do que votantes registados, concretamente três votos a mais do que os 216 sócios que efetivamente votaram, e denunciou um comportamento de campanha eleitoral em plena eleição da atual presidente, Luísa Barroso, acusando-a de promover a sua lista junto dos sócios que recebia à porta, ia buscar aos carros e levava a passear pelo abrigo, numa visita ao espaço antes de se dirigirem à urna.
À Lusa, Luísa Barroso refutou as alegações de ilegalidades e fraude no ato eleitoral, admitindo que foram contados mais votos do que votantes, mas dizendo que foram dois boletins e não três, que não teriam expressão para alterar o resultado eleitoral apurado que dava a vitória à sua lista e que a sua inserção em urna se explica, provavelmente, por terem sido depositados boletins colados, algo que não foi detetado por quem estava na mesa de voto.
Foram contabilizados mais dois, ou três, boletins de voto – consoante as versões contrastantes das duas listas em disputa – do que os 216 eleitores registados.
Admitiu também as visitas ao abrigo a algumas pessoas no dia da eleição, mas disse que se tratavam de pessoas que lhes são próximas, incluindo o seu próprio filho.
A atual presidente da União Zoófila, recandidata ao cargo, referiu ainda que a questão das irregularidades nas procurações não se verifica, na prática, apesar das alegações apresentadas no próprio dia pela lista opositora, que, disse, foram esclarecidas junto da mesa naquele momento.
Rejeitou ainda críticas sobre a escolha da data das eleições como forma de condicionar os resultados, conforme alegou Liliana Branco à Lusa, referindo que a eleição a uma quinta-feira é algo de inédito e que as votações anteriores – que decorrem de três em três anos – aconteceram aos fins-de-semana, uma alteração que Liliana Branco admite poder estar relacionada com o facto de este ano, pela primeira vez desde 2009, haver uma lista opositora.
“Tivemos pessoas que vieram do Algarve para votar em dia de semana e num período de horário laboral. Ainda que não seja ilegal, não é respeitoso para os sócios este horário de votação”, criticou Liliana Branco, referindo que uma das exigências dos 44 sócios que assinaram o requerimento a pedir a repetição do ato eleitoral é que essa repetição aconteça a um sábado.
“Só se recusarem iremos para impugnação, que terá que decorrer em sede judicial”, disse.
Luísa Barroso disse não ser verdade que não se tenham realizado anteriormente eleições a um dia de semana e acrescentou que já houve atos eleitorais ao fim-de-semana que tiveram apenas a votação de poucas dezenas de sócios.
“É muito triste estarem a tentar encontrar alguma coisa só porque não lhes convém o resultado. Não houve irregularidade nenhuma”, disse, acusando a lista opositora de ter apenas “vontade de protagonismo” e de contestar a eleição por “coisas pessoais”, criticando ainda a intenção da lista Nova UZ de “profissionalizar a associação”, remunerando as pessoas, que Luísa Barroso entende ser o desvirtuar do trabalho ali realizado, assente na disponibilidade inerente ao voluntariado.
A homologação da eleição está agora pendente de um parecer jurídico pedido a um advogado externo à UZ e sem ligações a nenhuma das listas, disse Luísa Barroso, que espera que seja conhecido muito brevemente, antecipando que a situação da validade do resultado eleitoral possa ser conhecida ainda durante o fim-de-semana.
“Não dá para concluir eleições desta forma. As irregularidades podem ter sido lapso, mas correto e transparente não é”, defendeu, por seu lado, Liliana Branco.
Luísa Barroso, que já leva três mandatos à frente da UZ, disse que os apoiantes de ambos os lados da contenda aguardam o desfecho de forma muito ansiosa, mas que “as palavras de ordem são serenidade e calma”.
No mesmo sentido, a lista que integra publicou na quinta-feira na sua página oficial um comunicado a explicar aos sócios que aguarda o resultado do parecer para “poder concluir o processo eleitoral e poder emitir um comunicado com as decisões e informações necessárias”.
“Aguardamos a conclusão deste processo eleitoral, com a calma possível. Estamos todos à espera, mas aceitamos o processo de escrutínio e qualquer desfecho que venha dessa análise, a qual pedimos que seja inequívoca. O nosso principal foco é, e deve ser, a associação e todos os animais que dela dependem. Pedimos a todos paciência e agradecemos a todos toda a tranquilidade e compreensão que têm demonstrado”, lê-se no documento, que lembra ainda que o processo eleitoral “teve sempre presentes elementos vigilantes de ambas as listas”.
No mesmo dia, a lista opositora criticou, via redes sociais, a falta de conclusão do processo eleitoral uma semana depois de ter decorrido, acusando a UZ de “falta de respeito pelos sócios” e de “falta de transparência, isenção e democracia”.
A UZ é uma associação que acolhe centenas de cães e gatos abandonados num abrigo em São Domingos de Benfica, em Lisboa, fundada em 1951 e que se apresenta, na sua página oficial, como uma "associação de utilidade pública administrativa sem fins lucrativos, que acumula ainda o estatuto de ONGA- Organização não Governamental Ambiental – e de Entidade Coletiva de utilidade pública", acrescentando que "sobrevive do pagamento das quotas dos seus sócios e dos donativos feitos por pessoas que se sensibilizam com a causa animal".
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