“Em Serralves não há, nem nunca houve, nem nunca sobre nossa responsabilidade haverá censura”, disse Ana Pinho. “Mas também não haverá complacência com a falta de verdade nem fuga às responsabilidades”, acrescentou.
Numa sala cheia, a diretora da Fundação Serralves sublinha que nenhum jornal publicou, “com destaque e de modo bem visível, as imagens mais sensíveis desta exposição”, que inclui imagens de caráter erótico e sexual. “Ninguém classificará essa atitude como censura”, diz.
Ana Pinho, que esteve sempre ladeada por Isabel Pires de Lima e Manuel Ferreira da Silva, mas também por Pacheco Pereira e Manuel Cavaleiro Brandão – todos administradores do Conselho de Administração de Serralves -, lamenta aquilo que diz serem “factos e informações falsas” que contribuíram para a polémica num museu que no ano passado envolveu mais de 1,3 milhões de pessoas nas suas atividades.
“O Conselho de Administração não mandou retirar quaisquer obras da exposição e desconhecia quais as fotografias pré-selecionadas além das que estão expostas”, reafirma a administradora, acrescentando que “as vinte obras não expostas por iniciativa do curador não justificam qualquer situação de censura”.
Recorde-se que o diretor artístico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Ribas, apresentou na sexta-feira a sua demissão porque "já não tinha condições para continuar à frente da instituição", disse ao jornal ‘Público’.
O diário escreveu no sábado que a demissão surgiu depois de a administração ter limitado a maiores de 18 anos uma parte da exposição dedicada ao fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, comissariada por Ribas e coordenada por Paula Fernandes, e ter imposto a retirada de algumas obras com conteúdo sexualmente explícito.
Em comunicado, o Conselho de Administração da Fundação de Serralves afirmou no sábado que "não retirou nenhuma obra da exposição", composta por 159 fotografias, "todas elas escolhidas pelo curador", João Ribas.
A administração acrescentou que "desde o início a proposta da exposição foi apresentar as obras de cariz sexual explícito numa zona com acesso restrito", afirmando que considerou "que o público visitante deveria ser alertado para esse efeito, de acordo com a legislação em vigor".
Ana Pinho afirmou hoje que Serralves é uma “instituição exigente consigo própria", “com quem a administra”, com quem nela trabalha, nos “critérios de qualidade” e com todos os que visitam aquele lugar. “Essa exigência de responsabilidade estende-se aos milhares de crianças e às centenas de escolas que a visitam anualmente”, acrescentou a administradora.
Na segunda-feira, à entrada de uma das salas da exposição, lia-se o aviso: “Dado o caráter sexualmente explícito de obras expostas nesta área, o acesso à mesma é reservado a maiores de 18 anos e a menores acompanhados dos respetivos representantes legais”.
Contudo, num primeiro alerta, afixado no mesmo local, no final da semana passada, estava escrito: “Alertamos para a dimensão provocatória e o caráter eventualmente chocante da sexualidade contida em algumas obras expostas. A admissão nesta sala está reservada a maiores de 18 anos”.
Como a Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC) indicou à agência Lusa, na segunda-feira, "as exposições de arte não carecem de classificação etária", ao contrário do que acontece com diversos "espetáculos de natureza artística" e "obras cinematográficas e audiovisuais".
A exposição, com fotografias de nus, flores, retratos de artistas como Patti Smith ou Iggy Pop, e imagens de cariz sexual, foi inaugurada na quinta-feira, em Serralves, no Porto.
A Fundação de Serralves considerou no domingo surpreendente o processo de contestação à presidente da instituição, Ana Pinho, e não vê motivos para a demissão da administração, como pediram três dezenas de manifestantes, no Porto, nesse mesmo dia.
"É uma total surpresa, e a manifestação é igualmente surpreendente", disse então à agência Lusa Isabel Pires de Lima, em representação do Conselho de Administração da fundação.
Isabel Pires de Lima, antiga ministra da Cultura, reforçou que a escolha das peças da exposição foi "inteiramente da autoria do João Ribas", que sabia desde o início que haveria, se necessário, zonas reservadas, como de resto aconteceu em muitos museus do mundo.
A exposição ‘Robert Mapplethorpe: Pictures’ é a primeira mostra em Portugal dedicada à produção artística de Robert Mapplethorpe (Nova Iorque, EUA, 1946 - Boston, EUA 1989) “e uma das exposições mais abrangentes da obra do artista americano”, um dos fotógrafos que “mais marcou a história da fotografia e a arte contemporânea no século XX”. Desde a inauguração, até domingo, a exposição recebeu perto de 6.000 visitantes, como adiantou à Lusa fonte da instituição.
Sobre os rumores de alegado mal-estar no seio do museu, o CA da Fundação de Serralves escusa-se a comentar. A diminuição de trabalhadores da Fundação de Serralves, de 89 para 77, em pouco mais de dois anos, a culminar na recente demissão do diretor artístico João Ribas, prova o mal estar causado pela administração, segundo fontes contactadas pela Lusa.
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