“Penso que nesta fase vivemos alguma instabilidade ainda que decorre de terem sido alteradas as regras do acesso e a justificação que encontro para isso é que houve alguns estudantes que, nas opções que colocaram, que eram em número limitado, acabaram por colocar algumas opções que não eram adequadas à nota que tinham de candidatura”, disse à Lusa o reitor da Universidade do Porto e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António de Sousa Pereira.
O reitor olha “com bastante satisfação” para os resultados da primeira fase de colocações, na qual quase 50 mil alunos conseguiram um lugar no ensino superior, o segundo valor mais elevado em 30 anos, e entende que os cerca de 33% de candidatos não colocados não conseguiram vaga em consequência também de alterações das regras de acesso feitas no último ano, em consequência da pandemia de covid-19.
“Penso que tudo isso irá ser esbatido e agora na segunda fase há um número muito significativo de vagas que vão ser colocadas a concurso e acho que os estudantes vão acabar por escolher opções adequadas àquilo que é o seu perfil e isso vai acabar por equilibrar o sistema”, disse o reitor, que acredita também que muitos candidatos na primeira fase eram estudantes a tentar uma recolocação.
Também o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, vê nos resultados consequências de dois anos atípicos no concurso de acesso, nomeadamente no que diz respeito a um maior grau de dificuldade nos exames de 2021, havendo cursos de Engenharia que não preencheram todas as vagas devido a uma maior dificuldade no exame de Matemática deste ano e cursos na área da saúde, com as notas médias de entrada a subirem muito devido aos bons resultados na prova de Biologia de 2020, um exame feito no 11.º ano de escolaridade, e não no 12.º ano.
À Lusa, também destacou o crescimento no número de alunos colocados em geral, ainda que os quase 20 mil colocados nos politécnicos representem um ligeiro decréscimo face a 2020.
Para o CCISP, no entanto, a maior nota de destaque vai para o crescimento dos politécnicos no interior do país, resultante de uma “estratégia consistente” entre Governo, CCISP e politécnicos.
“Estamos a falar de um crescimento de 2,5% face a 2020 e cerca de 25% quando comparamos 2015 com 2021”, disse, sublinhando o peso das bolsas +Superior, um apoio específico para alunos que vão estudar para as instituições do interior, e da articulação entre politécnicos e autarquias e empresas locais.
“É um sinal muito importante que o país está a dar e que sabemos que é essencial para uma maior coesão territorial”, defendeu.
Sobre o facto de estar nos politécnicos a maior parte dos cursos sem qualquer vaga ocupada nesta primeira fase de acesso, sobretudo nas instituições do interior, Pedro Dominguinhos sublinhou que as vagas são ocupadas na totalidade até ao final das várias fases e regimes de acesso.
Ainda pelo lado das universidades, António de Sousa Pereira destacou a “excelente qualidade” dos alunos que estão a ser recebidos, com notas elevadas, e a “apetência” demonstrada por cursos das áreas científico-tecnológicas, o que “dá garantias” de que o país pode ter um futuro “assente em inovação e conhecimento”.
Mais de 49 mil novos estudantes entraram agora para o ensino superior, tendo ficado sem colocação 33% dos candidatos à primeira fase do concurso nacional de acesso, revelam dados divulgados hoje pelo Ministério do Ensino Superior.
Há 49.452 novos estudantes no ensino superior público, sendo o segundo maior número de colocados nos últimos 30 anos. O recorde foi ultrapassado apenas no ano passado, quando quase 51 mil alunos ficaram colocados na primeira fase.
Ao mesmo tempo, este é também o ano, na última década, em que mais alunos ficaram de fora: dos 64 mil candidatos, 14.552 não conseguiram ainda um lugar no ensino superior.
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