Nancy Pelosi aumentou a tensão nas relações entre Washington e Pequim ao viajar para Taiwan esta terça-feira, o que o governo chinês considera uma provocação, por violar o princípio de "um só país". Recorde-se que o país liderado por Xi Jinping considera Taiwan uma província rebelde.
A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos é a mais importante responsável norte-americana a visitar a ilha em 25 anos.
Mas esta não é a primeira vez que Pelosi confronta a China. Ao longo da sua carreira, esta não perdeu a oportunidade de repreender Pequim pelo que considera um histórico sombrio em matéria de direitos humanos e democracia.
Quando era uma jovem congressista, Pelosi denunciou repetidamente o que chamou de massacre de 1989 na Praça Tiananmen (atualmente Praça da Paz Celestial) contra manifestantes pró-democracia, e acusou o serviço de segurança chinês de realizar "execuções secretas". "Os direitos humanos do povo chinês não são um assunto interno", afirmou.
Desde então, Pelosi já criticou os dirigentes chineses e reuniu-se com dissidentes políticos e religiosos, bem como com o Dalai Lama. Também classificou como genocídio o tratamento dado às minorias muçulmanas na região de Xinjiang.
Dois anos após a repressão de 1989, Pelosi recebeu um convite oficial e viajou para a China com outros dois membros do Congresso. No entanto, irritou os seus anfitriões ao visitar a famosa praça e depositar flores num monumento aos mártires, exibindo uma faixa que dizia "Para aqueles que morreram pela democracia na China".
Depois de a polícia chinesa deter brevemente os congressistas americanos, Pelosi declarou: "Estão há dois dias a dizer-nos que existe liberdade de expressão na China. Isso não se encaixa no que nos disseram".
Chamada de atenção
Num primeiro momento, poderia considerar-se que Pelosi tem uma motivação política para confrontar a China, já que representa no Congresso norte-americano São Francisco, que conta com uma comunidade chinesa importante, formada na década de 1980 sobretudo por pessoas que fugiram da China comunista ou tinham raízes em Taiwan e Hong Kong.
Mas depois de 35 anos, Pelosi tem afirmado o seu posicionamento como uma defensora dos direitos humanos na China, e não parece dar grande importância ao impacto das suas ações nas relações diplomáticas entre Washington e Pequim.
Pelosi opôs-se à organização dos Jogos Olímpicos pela China e defendeu um tratamento comercial duro para com aquele país, devido à situação dos direitos humanos. Em 2010, viajou a Oslo para entregar o Prémio Nobel da Paz ao dissidente chinês detido Liu Xiaobo.
Todos os anos, Pelosi destaca no Congresso a violência do exército contra a população em Tiananmen e as longas penas de prisão contra os dissidentes chineses. Uma das suas primeiras viagens ao exterior como presidente da Câmara dos Representantes foi a Dharamsala, Índia, para se encontrar com o Dalai Lama, que havia recebido em Washington um ano antes.
Segundo a imprensa, o presidente americano, Joe Biden, um aliado próximo de Pelosi, esperava dissuadi-la da ideia de viajar para Taiwan, para evitar irritar a China no momento em que os Estados Unidos estão envolvidos na guerra na Ucrânia. Mas Pelosi manteve-se firme na decisão.
“Fazemos esta viagem no momento em que o mundo enfrenta uma escolha entre a autocracia e a democracia” e é “essencial deixar claro que nunca cederemos aos autocratas”, disse a deputada.
*Por Paul Handley e Léon Bruneau / AFP
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