Notícia atualizada às 16:39
"A ministra da Cultura, Graça Fonseca, tomou a iniciativa de solicitar a identificação das vias judiciais e extrajudiciais ao dispor do Estado português para defender a camisola poveira enquanto património cultural português", pode ler-se num comunicado emitido pelo ministério.
No mesmo texto, a tutela garante que "fará o que estiver ao seu alcance para que quem já reconheceu publicamente o seu erro não se demita das suas responsabilidades e corrija a injustiça cometida, compensando a comunidade poveira".
"O Governo prossegue, assim, o seu compromisso de continuar a levar a cabo todos os esforços pela valorização, proteção, preservação e salvaguarda do património imaterial português", acrescenta o comunicado.
Segundo o Ministério da Cultura, esta atitude enquadra-se na estratégia de "valorização, proteção, preservação e salvaguarda do património imaterial português, como um importante ativo cultural e económico", que vai ser aprimorada através da criação da Associação para o Saber Fazer.
"Após ter tomado conhecimento das suspeitas de uma eventual apropriação abusiva de um importante património imaterial português - a camisola poveira - o Governo está determinado em agir em conformidade na proteção deste Saber Fazer português", explica o ministério liderado por Graça Fonseca
Ouvido pela agência Lusa, o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, do distrito do Porto, Aires Pereira, explicou que, juntamente com o Ministério da Cultura, está a ser estudada uma "ação judicial, junto do Tribunal de Nova Iorque, para exigir a reparação dos danos para a cultura portuguesa e da Póvoa de Varzim".
"O Governo português, e bem, assumiu isto como uma questão de Estado. Fico satisfeito por ver que, quando é posto em causa o nosso património, também nos conseguimos unir tal como aconteceu nestes dias em prol da camisola poveira", disse Aires Pereira.
Em causa está uma 'cópia' da tradicional camisola poveira, peça de vestuário típica da comunidade piscatória local, que foi lançada na coleção da estilista norte-americana Tory Burch, e inicialmente promovida com uma peça de inspiração mexicana.
Pressionada pela atenção mediática que, entretanto, se gerou, a 'designer' admitiu o erro, alterou a descrição da peça de vestuário que está a venda no 'site' por 695 euros, e nas redes sociais deixou um pedido desculpas pelo sucedido, comprometendo-se a estabelecer um protocolo com o município poveiro para apoiar as artesãs locais.
"É um 'remendo' curto para o que aconteceu. Parece-me que estavam a ganhar tempo para verem se a pressão baixava, mas agora com o envolvimento do Estado tudo muda de figura. Não podem pensar que com uma 'esmola' resolvem os danos gerados", disse Aires Pereira.
O autarca da Póvoa de Varzim confirmou que a própria estilista entrou em contacto com o município, via telefone, para reiterar a vontade de corrigir o erro e ressarcir os danos, mas Aires Pereira considera que o assunto "não pode ficar por aqui".
"Não é apenas uma questão desta camisola, que é um símbolo da Póvoa de Varzim. É o facto da utilização abusiva de algo que é nosso, que faz parte da cultura e identidade nacional. Felizmente que as redes sociais, que tantas vezes se unem em torno de não questões, conseguiram, desta vez, unir-se e agir na defesa de algo que nos toca a todos", concluiu Aires Pereira.
A camisola poveira é uma peça secular de vestuário, feita com lã e bordada em ponto de cruz com motivos marítimos, ligados à tradição piscatória desta cidade do norte do país, estando desde há alguns está a ser alvo de um processo de certificação por parte da autarquia.
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