Do XX Congresso do PCP saiu um partido unido. No que era para ser o Congresso da sucessão, Jerónimo de Sousa sai de título renovado. Daqui a quatro anos será o segundo mais antigo líder de sempre do Partido Comunista Português, logo a seguir a Álvaro Cunhal.
E desta reunião, a família comunista não podia sair com maior força: não se ouviu uma única voz crítica a alguma ação do partido. Nem quanto à Posição Conjunta com o “governo que não é de esquerda”, que é uma “minoria de direita”, e que o Partido Comunista “não apoia”.
Estas foram as três expressões mais utilizadas. No entanto, todos pareciam aceitar o rumo do partido que permitiu uma situação da vida política absolutamente inédita em Portugal e dentro da esquerda. A discussão, eventualmente, terá existido, mas não foi em Almada, no Congresso.
No fim de semana de 26 e 27 de novembro, o Comité Central do Partido Comunista esteve reunido, discutiu as suas Teses e elaborou a proposta para o novo Comité e órgãos associados. E aí nós não sabemos o que aconteceu.
Certo é que no Congresso, em Almada, os comunistas apareceram a uma só voz, confortáveis com a nova situação política, conscientes das suas limitações, orgulhosos da derrota do Pacto de Agressão protagonizado pelo Governo anterior do PSD e CDS, e com a União Europeia e o Euro em ponto de mira.
Era para ser o Congresso da sucessão
Em 2012 Jerónimo quis abandonar a liderança do partido. Passaria a secretário adjunto, mas pediram-lhe que ficasse. E Jerónimo ficou e adiou a sua sucessão para o XX Congresso do PCP, uma data redonda propícia para grandes momentos, como aliás, costumam ser todas as datas redondas.
O Partido Comunista chegou a este Congresso num momento, de facto, histórico: pela primeira vez no arco da governação. O PCP é hoje um dos pilares que sustentam o Governo minoritário do Partido Socialista. Não, Jerónimo não podia sair.
Em 2020? Daqui a quatro anos há um novo Congresso, e dependendo do ponto de vista, a data também pode ser redonda. Tudo aponta para que seja esse, definitivamente, o Congresso da sucessão. Em Almada, durante estes três dias, houve nomes que ficaram bem vincados. Sem necessidade de recorrer a sondagens, bastava ouvir os aplausos e contar, de cabeça, os punhos ao alto no final de cada discurso.
João Oliveira, Miguel Tiago e João Ferreira fizeram levantar a plateia. São os rostos de uma nova geração do PCP, que mostram que o mais antigo partido português continua a renovar as suas fileiras.
Mas o nome mais falado continua a ser o de Francisco Lopes, braço direito de Jerónimo de Sousa.
Membro do Comité Central do partido, Francisco Lopes não está na Assembleia da República e em Almada só discursou no domingo, no último dia. Mas nem por isso foi menos ovacionado.
Há vários nomes e um legado, mas a sucessão não é assunto para agora, com os congressistas a dizerem em uníssono que Jerónimo de Sousa tem toda a legitimidade e apoio para continuar.
A Posição Conjunta com o “Governo que não é de esquerda”.
Esperavam-se vozes críticas, mas em vez disso Jerónimo de Sousa viu consagrada a decisão de apoiar o Governo minoritário socialista.
Ou melhor, apoiar não. Eles não apoiam, nem têm um acordo de incidência parlamentar. Até rejeitam dar o rótulo de esquerda a este executivo que titulam de minoria de direita. O nome é Posição Conjunta, pelo menos foi durante aqueles três dias em Almada.
Críticas ao Governo foram muito poucas ou quase nenhumas, o eco maior terá sido na sexta-feira quando Jorge Pires, numa pequena conferência improvisada aos jornalistas, criticou a escolha de Paulo Macedo para a presidência da Caixa Geral de Depósitos.
De resto, esqueceram-se os atrasos nos pagamentos às escolas públicas, o pedido do Governo de contenção de despesas aos hospitais públicos para que se mantenha um défice abaixo dos 3%, e até nem se falou da degradação do sistema de transportes públicos de Lisboa que tanta tinta tem feito correr.
Em vez disso privilegiaram-se as pequenas conquistas, com o aumento generalizado das pensões a ser o grande baluarte do PCP neste Orçamento de Estado.
“Basta de Submissão à União Europeia e ao Euro”
Se pouco ou nada se criticou este Governo, uma mensagem ficou clara: a Europa e as suas instituições marcarão a próxima batalha entre comunistas e socialistas.
Com o acordo de Posição Conjunta a ser respeitado e praticamente concluído fica a pergunta: e agora? Ainda só passou um ano desde que a chamada “geringonça” subiu ao poder, e surge a preocupação de tentar entender o que serão estes 3 anos. Naturalmente, o PCP quer continuar a ser ouvido e, dentro das limitações naturais reconhecidas pelos membros do partido mais antigo português, novos temas serão discutidos.
Num Congresso em que numa das paredes estavam inscritas as palavras “Basta de Submissão à União Europeia e ao Euro”, em que o discurso de abertura de Jerónimo Sousa rotulou a matriz da UE como não democrática e capitalista, e em que Carlos Carvalhas, antigo secretário-geral do PCP, sugeriu que a dívida fosse paga em escudos, o recado não podia passar despercebido.
O PCP, idealmente, pretende sair do Euro, porque entende que a moeda está desajustada à nossa economia e é um entrave ao crescimento do país.
Esta parece ser uma posição em que o Governo, e o Partido Socialista, não quer embarcar e o primeiro sinal foi dado: Ana Catarina Mendes, no XX Congresso do PCP, disse que a saída da união monetária está totalmente excluída.
Em relação à União Europeia, os inúmeros esforços do PS em tentar conciliar as exigências do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista com as de Bruxelas mostram a importância que é dada ao projeto europeu.
Tal dicotomia deixa a questão, como fica a Posição Conjunta no meio disto tudo?
Depois de 3 dias de reunião da família comunista em Almada pode-se dizer que foram poucas as respostas. Fica tudo adiado para outra data, daqui a quatro anos, no XXI Congresso do PCP em 2020.
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