“Os estivadores decidiram hoje, em plenário, avançar com três semanas de greve, de 19 de fevereiro a 9 de março, mas que é dirigida contra três empresas do grupo turco Yilport — Liscont, Sotagus e Multiterminal — e uma quarta empresa, TMB (Terminal Multiusos do Beato)”, disse à agência o presidente do SEAL – Sindicato dos Estivadores e Atividade Logística.
Segundo António Mariano, de 19 a 28 de fevereiro, os estivadores só trabalham para aquelas quatro empresas no segundo turno e de 29 de fevereiro a 9 de março não haverá qualquer prestação de trabalho para essas empresas.
“Foram estas quatro empresas que fizeram uma proposta ao sindicato para um abaixamento de salários de 15% e que defenderam que a A-ETPL, (Associação – Empresas de Trabalhos Portuários de Lisboa) deveria ir para uma situação de pré-insolvência”, justificou António Mariano, salientando que os estivadores vão trabalhar normalmente para as outras três empresas de estiva do Porto de Lisboa.
No passado dia 23 de janeiro, a A-ETPL desafiou o sindicato a aceitar uma redução salarial de 15% e a eliminar as progressões de carreira automáticas face às dificuldades financeiras com o aumento de encargos resultante da integração nos quadros de pessoal de 31 trabalhadores temporários (23 em 2016 e oito em 2017) e com os “123 pré-avisos de greve (uma média de mais de um pré-aviso de greve por mês), a maioria dos quais ao trabalho suplementar”, emitidos pelo SEAL, entre 2008 e 2018.
Confrontado pela agência Lusa com a possibilidade de as empresas em causa avançarem mesmo para uma situação de pré-insolvência da A-ETPL, empresa de trabalho portuário que cede mão-de-obra às empresas de estiva, António Mariano defendeu que o problema foi criado pelas próprias empresas de estiva, porque são essas empresas que definem o custo do trabalho do estivador que pagam à A-ETPL.
“Naturalmente que é uma situação que nos preocupa, mas pensamos que existe ali gestão danosa que conduziu a esta situação. A-ETPL foi criada há 27 anos e, nessa época, foi estabelecido um valor diário do custo do trabalho de um estivador. Mas, ao fim de 27 anos, o preço que as empresas de estiva pagam à A-ETPL mantém-se igual, nunca foi atualizado”, disse António Mariano, lembrando que nos últimos 17 meses os estivadores do Porto de Lisboa receberam os salários em dezenas de prestações.
“Se não há dinheiro para salários é por decisão das empresas que fazem o preço do estivador a elas próprias, ou seja, continuam a pagar à A-ETPL o mesmo que pagavam pelo trabalho de estiva há 27 anos. E assim é natural que o dinheiro não chegue para pagar os salários aos trabalhadores”, acrescentou o presidente do SEAL.
António Mariano defende, por isso, que é necessária uma atualização do custo do trabalho de estiva no Porto de Lisboa e interroga-se se, em Portugal, “haverá algum produto, bem ou serviço que não seja atualizado há 27 anos”.
Os estivadores do Porto de Setúbal também iniciaram esta segunda-feira uma greve ao trabalho extraordinário para a empresa Sadoport, do grupo Yilport.
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