Putin anunciou uma visita de Estado de dois dias à Coreia do Norte, durante a qual deverá ser assinado um acordo de associação estratégica entre os dois países, cuja aliança é vista como uma ameaça pelo Ocidente.
Quando começou a aproximação entre os dois países?
No momento da sua fundação, em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, a Coreia do Norte aproximou-se da União Soviética. Mas o colapso da URSS em 1991 privou a Coreia do Norte do seu principal benfeitor, o que contribuiu para provocar um cenário de fome generalizada alguns anos depois.
Ao assumir a presidência russa em 2000, Vladimir Putin procurou reforçar as relações com a Coreia do Norte. Foi o primeiro chefe de Estado russo a viajar a Pyongyang para se encontrar com o pai de Kim Jong Un, Kim Jong-il.
Apesar da amizade, em meados da década de 2000, a Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, apoiou as sanções impostas à Coreia do Norte por seu programa nuclear.
Kim Jong Un sucedeu o pai em 2011 e, desde então, Moscovo e Pyongyang aprofundaram os laços.
Em 2012, a Rússia perdoou a maior parte da dívida do país aliado.
Em 2019, Kim Jong Un viajou de comboio até a cidade russa de Vladivostok, perto da fronteira, onde se reuniu com Putin. Quatro anos depois, voltou à Rússia para uma viagem de quase uma semana focada em questões de defesa.
Qual a razão da viagem neste momento?
Os dois países, que enfrentam sanções internacionais, reforçaram consideravelmente os vínculos desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. A Rússia, cada vez mais isolada no cenário internacional, procura aliados.
Os governos dos Estados Unidos, Ucrânia e Coreia do Sul afirmam que a Coreia do Norte envia armas à Rússia para a guerra na Ucrânia, violando uma série de sanções da ONU, em troca de ajuda técnica para programas de satélites e do envio de alimentos.
A Coreia do Norte nega e afirma que a acusação é "absurda".
Em março, a Rússia vetou no Conselho de Segurança da ONU a prorrogação do comité responsável por controlar o respeito das sanções internacionais contra a Coreia do Norte, justamente no momento em que especialistas começavam a investigar as supostas transferências de armas.
Kim também intensificou os testes de armas, incluindo uma série de lançamentos este ano de mísseis de cruzeiro, que analistas dizem que Pyongyang poderia estar enviando à Rússia para utilizar na Ucrânia.
"Durante a Guerra Fria, a Coreia do Norte estava sempre em posição de pedir ajuda militar e económica à Rússia", declarou à AFP Cheong Seong-chang, do Instituto Sejong, com sede em Seul.
Pela primeira vez, os dois países estão "cooperando de maneira igual", destaca Cheong, que aponta uma espécie de "lua de mel" entre Moscovo e Pyongyang.
O que ganha cada país?
Para Kim, "esta visita é uma vitória", segundo revelou Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, de Seul. Conselheiro diplomático de Vladimir Putin, Yuri Ushakov, declarou na segunda-feira que "documentos importantes, muito significativos" serão assinados durante a viagem de Putin.
Ushakov mencionou a "possível" assinatura de um "acordo de cooperação estratégica global", que seria uma versão atualizada de um tratado assinado durante a última visita de Putin ao país, em 2000.
O chefe de Estado russo será acompanhado pelo chanceler Serguei Lavrov, o ministro da Defesa, Andrei Belousov, além de dois vice-primeiros-ministros e pelo diretor da agência espacial russa, Roscosmos.
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