Contactada pela agência Lusa, Dalila Rodrigues, diretora dos dois monumentos classificados como Património Mundial localizados na zona de Belém, explicou que o estudo decorre em parceria com a embaixada dos EUA em Lisboa, ao abrigo do programa ‘Embassy Science Fellow’.
“A investigação em curso está a desenvolver uma avaliação dos riscos de curto e longo prazo da alteração dos sistemas naturais, quer da Torre de Belém quer do Mosteiro dos Jerónimos”, indicou a responsável sobre o trabalho da equipa coordenada por uma especialista norte-americana, a decorrer desde o início de setembro.
O estudo “prevê a elaboração de um plano para definir cientificamente os riscos e mitigá-los, partindo de uma avaliação das alterações nos sistemas naturais com potencial para afetar os dois monumentos”.
A investigação está a ser realizada por Barbara Judy, do Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos, arquiteta com especialização nesta área, que irá apresentar a primeira fase do seu trabalho numa conferência a 13 de novembro, nos Jerónimos.
De acordo com a diretora, nos últimos anos, “o aumento da temperatura do ar, as alterações do nível do mar e as alterações da ondulação das águas subterrâneas estão a ocorrer como uma expressão local das alterações climáticas globais”.
Dalila Rodrigues defende “a necessidade de acautelar os riscos de curto e longo prazo da alteração destes sistemas e elaborar um plano que defina cientificamente o modo de os mitigar”, especificando, sobre a situação da Torre de Belém, que “a presença e a ação de inúmeros visitantes, bem como as tempestades que se estão a suceder, têm um impacto no monumento que é necessário fazer face, sem sensacionalismo e sem especular”.
“Não vale a pena abordar este tema com sensacionalismo porque as alterações climáticas não correspondem a uma ficção narrativa do futuro. Lamentavelmente nós estamos a vivê-la, e é necessário que a curto prazo e a longo prazo sejam planeadas ações de mitigação”, reiterou.
O Mosteiro dos Jerónimos encontra-se no topo dos monumentos mais visitados em Portugal, com 870.321 entradas em 2022, e a Torre de Belém, também na capital, somou 377.780 visitantes nesse ano.
Ambos os monumentos estão classificados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) como Património Mundial desde 1983.
Questionada pela Lusa sobre a pressão turística que ambos os monumentos têm tido na última década, a responsável afirmou que, “após a pandemia, tem vindo a surgir uma extensão da procura turística dos meses de julho, agosto e setembro ao mês de outubro, com um crescimento excecional”.
“Esse alargamento do turismo massificado à primavera e ao outono vai-nos obrigar a adotar medidas de gestão, porque as condições atmosféricas para a permanência das pessoas em fila são adversas, com as temperaturas elevadas no verão e mau tempo no inverno”, avaliou.
Sobre as entradas, a diretora dos dois monumentos disse que já são limitadas por questões de segurança, de acordo com o regulamento em vigor: “A Torre de Belém não comporta mais do que 60 visitantes em simultâneo, no interior, em cada meia hora, com cerca de 1.200 pessoas em média, por dia”.
Quanto ao Mosteiro dos Jerónimos, está limitado a receber 300 pessoas no interior, em permanência, também de acordo com os planos de segurança, recebendo uma média acima dos 6.000 visitantes diários.
Considerado uma obra-prima da arquitetura portuguesa dos primeiros anos do século XVI, o monumento é apontado como uma joia do estilo arquitetónico manuelino.
A equipa do projeto de investigação “O impacto das alterações climáticas no Mosteiro dos Jerónimos e na Torre de Belém — estudos científicos e planos de mitigação” está sediada no mosteiro, “realizando estudos constantes nas envolventes e na Torre de Belém”.
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