O mentor da iniciativa, João Carlos Martins, técnico de informática, em Penacova (Coimbra), esclareceu à agência Lusa que contactou todos os 17 partidos e coligações candidatos às eleições, nos últimos meses, para participarem num AMA - ‘Ask Me Anything’ (Pergunta-me Qualquer Coisa, em português), onde os utilizadores podem perguntar tudo o que quiserem.

“Não houve qualquer tipo de discriminação. Todos foram convidados”, assegurou o técnico informático, indicando que os convites foram feitos através de ‘email’, sítios na Internet e redes sociais.

Os AMA, que contaram com dois candidatos, aconteceram no ‘subreddit’ português, /r/portugal, num fórum dedicado a um tópico específico no Reddit, que tem uma comunidade com mais de 70 mil utilizadores.

Marisa Matias, cabeça de lista do Bloco de Esquerda e Rui Tavares, do LIVRE, foram os únicos candidatos participantes na iniciativa.

De acordo com João Carlos Martins, o fórum tratou-se de uma “experiência inovadora de debate”.

Lamentando as ausências de PS e PSD, o técnico de informático reconheceu que, atualmente, não há “interesse dessas forças partidárias, por agora”, em participar em debates numa plataforma digital não tradicional (Facebook ou Twitter), preferindo, segundo este, publicar “uma foto, de vez em quando, de um evento”, e deixar “os militantes a batalhar nos comentários”.

Sobre os debates, o moderador garantiu ainda que tentou “instruir os utilizadores”, explicando que não eram permitidas intervenções xenófobas, racistas ou insultuosas, e que, antes de um AMA, os intervenientes eram sempre confirmados com representantes dos partidos, via telefone.

“Antes de qualquer AMA [‘Ask Me Anything’], é feita uma verificação, disse, realçando que nada é combinado num debate, a não ser a data e a hora.

No entanto, a comunidade é avisada da sua ocorrência no Reddit, entre três e quatro dias antes, de modo a preparar-se para os debates.

Segundo a organização, o modus operandi é simples. Os intervenientes só têm de criar uma conta no Reddit, e depois, só, é criado o ‘thread’ (tópico) do AMA, com um título descritivo, como por exemplo “[AMA] Marisa Matias”.

No caso do tópico de Marisa Matias, foram contabilizados 134 comentários, em que a candidata do Bloco de Esquerda assumiu que “há efetivamente um desconhecimento em geral do modo de funcionamento da UE [União Europeia]”.

“Esse desconhecimento funciona com um círculo vicioso, o desconhecimento gera desinteresse e este mais desconhecimento”, salientou, afirmando que tem “tentado combater esse desconhecimento de várias formas”.

Marisa Matias declarou ainda que o Euro criou mais desigualdade e mais estagnação na União Europeia, mostrando-se de acordo com o primeiro-ministro, António Costa, quando disse: “o Euro é o melhor serviço que a UE fez à Alemanha”.

“Precisamos de reformar a arquitetura da moeda ou ela acaba connosco”, frisou.

Na mesma resposta, a candidata bloquista reconheceu também que falta à União Europeia “uma proposta corajosa de não cedência a valores não democráticos”, por causa do crescimento de movimentos ligados à extrema direita.

“A extrema direita já está na Europa, muitas vezes ajudada pela direita conservadora e liberal e até mesmo pela social democracia”, apontou Marisa Matias.

Por seu lado, o cabeça de lista do Livre às eleições europeias, Rui Tavares, defendeu que a União Europeia “tem de se converter numa democracia continental que reforce as democracias nacionais”, permitindo, segundo o mesmo, “responder às acusações de falta de legitimidade que os nacionalistas fazem ao projeto europeu”.

Rui Tavares explicou ainda que a Europa precisa de políticas de pró-imigração, propondo um Plano Marshall para África.

“A Europa precisa de partidos que defendam claramente posições pró-imigração e que desfaçam equívocos sobre políticas migratórias. A chave para regular os fluxos migratórios não está nas fronteiras, está na redistribuição”, indicou, exemplificando com a entrada de Portugal na UE.

Para o candidato do Livre, “a Europa é um acento circunflexo em cima da grande África”, e tem de haver cooperação para que África “dê futuro às suas jovens gerações”, ressalvando que o Mediterrâneo “tem de ser o centro de uma economia vibrante como já foi no passado”.

Sobre o crescimento dos movimentos nacionalistas no espaço europeu, Rui Tavares explicou que a luta contra os extremismos tem de ser feita “no plano dos valores, explicando por que é melhor defender os direitos humanos, o cosmopolitismo e a ecologia”.

De acordo com o candidato, estas ideias “não pretendem subjugar mentalidades nem tribalizar a humanidade”, porque são libertadoras e emancipatórias”, no sentido de defender melhor a Europa.

A organização dos AMA para as eleições europeias garantiu que os candidatos, que participaram, “saíram felizes e com vontade de regressar”, anunciando que esta iniciativa foi “uma espécie de teste para as [eleições legislativas] de outubro”.