Belgrado exigiu o direito de enviar mil soldados e polícias sérvios para o Kosovo, numa altura em que sobem as tenções no norte da antiga província separatista.
Angelo Michele Ristuccia, chefe das forças de paz da KFOR, não respondeu diretamente ao pedido sérvio, mas garantiu que a sua força ainda é capaz de controlar a situação.
“Esperamos que todos os intervenientes coordenem estreitamente com a KFOR e se abstenham de qualquer demonstração de força provocativa, de forma a garantir a segurança de todas as comunidades”, sublinhou o general italiano citado num comunicado publicado pela NATO.
“A KFOR tem todas as capacidades, incluindo de pessoal, para garantir um ambiente seguro e liberdade de movimento para todas as comunidades no Kosovo”, frisou.
O general lembrou ainda que desde outubro foi reforçada a presença da força de manutenção de paz, incluindo o envio de tropas e patrulhas adicionais para o norte de Kosovo “esta semana”.
Centenas de sérvios étnicos, indignados com a detenção de um ex-policia, bloquearam estradas que paralisaram o trânsito automóvel em duas passagens de fronteira com a Sérvia.
Já esta sexta-feira, a procuradoria-geral do Kosovo anunciou a detenção de um antigo polícia kosovar suspeito de ter cometido crimes de guerra durante o conflito entre os rebeldes albaneses do Kosovo e a então República Federal da Jugoslávia, conhecida como a guerra do Kosovo, entre 1998 e 1999.
A justiça kosovar não identificou o detido, mas os ‘media’ sérvios e familiares relataram a detenção, esta quinta-feira, do ex-polícia Sladan Trajkovic.
Trajkovic, segundo os ‘media’ sérvios, foi um dos 570 policiais sérvios kosovares que deixaram o cargo em novembro, num boicote institucional contra o governo kosovar.
Os meios de comunicação sérvios e kosovares noticiaram também a detenção de outros dois ex-polícias sérvios do Kosovo, identificados como Dejan Pantic e Zoran Mihajlovic, este último na sexta-feira à tarde, de acordo com o portal Kosovo Online.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
O Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, referiu esta quinta-feira que o regresso dos militares e polícias sérvios seria “importante para a proteção da população sérvia” no Kosovo e “reduziria drasticamente as tensões”.
Enquanto Vucic considerou “quase certo” que o seu pedido não seria atendido, a sua homóloga kosovar, Vjosa Osmani, recusou esta hipótese, considerando-a uma provocação.
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