“Em 2021, nenhum marinheiro deveria ter medo de navegar em qualquer lugar por causa de piratas”, disse Aslak Ross, responsável pelas normas marítimas do gigante dinamarquês do transporte marítimo, citado pela agência France Presse (AFP).
O porta-contentores número um do mundo, que viu dois dos seus navios serem atacados por piratas em menos de um mês, quer uma presença marítima internacional mais forte perto da costa da África Ocidental, semelhante à operação europeia “Atalanta” para combater a pirataria ao largo da costa da Somália, há cerca de dez anos.
“Uma solução é conseguir que a comunidade internacional apoie uma missão a curto prazo”, segundo Ross, em paralelo com os esforços a longo prazo para reforçar as capacidades antipirataria dos países costeiros.
Durante algum tempo, os ataques concentraram-se ao largo da costa da África Oriental, onde diminuíram consideravelmente após o destacamento de uma armada militar internacional, enquanto a situação se deteriorou no Golfo da Guiné, onde piratas nigerianos estão a tornar-se mais profissionais.
Em 2020, esta área, que se estende por 5.700 quilómetros desde as costas do Senegal no Norte até às de Angola no Sul, foi responsável por 130 dos 135 raptos de trabalhadores marítimos a nível mundial, de acordo com um relatório recente do Gabinete Marítimo Internacional, ações mais lucrativas do que os ataques a petroleiros.
Viajada diariamente por mais de 1.500 navios, a rota marítima que faz fronteira com os dois maiores produtores de petróleo de África – Nigéria e Angola – é regularmente utilizada por cerca de 50 navios do grupo Maersk.
A Dinamarca está a tentar convencer a União Europeia, mas também a França, que mantém um país militarmente incontornável na África Ocidental.
“A Dinamarca pode fazer a diferença, mas não pode resolver o problema sozinha”, disse à AFP o Ministro da Defesa dinamarquês, Trine Bramsen.
Para Maersk, não há ninguém “melhor que os franceses”, para assumir esse papel, diz Ross, apontando para “interesses históricos e uma presença regular na região”.
Segundo fontes francesas, Paris não prevê, nesta fase, uma operação marítima europeia à semelhança da “Atalanta”, mas propõe o estabelecimento de uma “presença marítima coordenada” na zona, validada pela União Europeia e incluindo a França, Espanha, Itália e Portugal.
“Os dinamarqueses são bem-vindos a aderir com os meios”, sublinha o lado francês.
A presença marítima coordenada, lançada no final de janeiro, consiste na partilha de informação e inteligência e no fornecimento de recursos. Em termos concretos, os navios controlam a área e transmitem a informação a uma célula europeia.
Para a UE, isto é uma prova de “maior empenho operacional europeu”, mas para a investigadora Jessica Larsen, do Instituto Dinamarquês de Relações Internacionais, continua a ser mais vigilância do que intervenção.
“Parece haver falta de vontade política para lançar uma operação militar do lado europeu” nesta região, disse.
A especialista também apontou para a relutância dos estados da região em aceitar tal operação, justificada com a necessidade de preservar a sua soberania.
“Não estão necessariamente interessados em receber uma tal operação naval nas suas águas, como foi o caso ao largo da costa da Somália”, afirmou, apontando em particular o caso da Nigéria.
“É improvável que a Nigéria acolha uma coligação naval internacional porque isso evidenciaria a falha dos seus esforços para combater a pirataria”, defendeu, por seu lado, Munro Anderson, da empresa de segurança marítima Dryad Global.
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