O Parque Natural de Alt Pirineu em Isil, Lleida, recebeu o urso Goiat no âmbito do programa europeu Piroslife, que pretende reintroduzir o urso pardo nos Pirenéus, local onde estava a começar a desaparecer deste os anos 1990, conta o jornal espanhol El País.
Todavia, Goiat apresentou um comportamento predatório incomum desde o início, de acordo com especialistas. O gigante omnívoro foi o protagonista de 15 ataques a gado desde abril de 2017, o que abriu uma guerra quanto à presença do animal na reserva natural. Olhando para os casos mais recentes, Goiat matou seis éguas, quatro potros e várias ovelhas.
Depois de meses de pressão por parte do setor pecuário, o Governo propôs a “captura e transferência” do animal, como anunciado pelo Ministro do Território e Sustentabilidade da Generalitat, Damià Calvet. Caso venha a acontecer, será a primeira vez na história que um urso pardo é expulso do território da fronteira entre Espanha e França.
Devido às queixas, o governo anunciou ainda medidas dissuasivas como o uso de balas de borracha ou a aplicação de eletricidade nas cercas dos terrenos.
Mas nem todos atribuem as culpas apenas a Goiat. O coordenador da Unió de Pagesos nos Pirenéus, Joan Guitart, rejeitou a proposta do governo catalão, considerando-a "insuficiente". Na sua opinião, nem todos os ataques podem ser atribuídos ao mesmo animal, dizendo que não podia fazer “três ataques num dia”. Por isso, foi pedido que todos os ursos da área fossem "afugentados". Nesse sentido, o setor da pecuária realizou várias concentrações com a intenção de mostrar a sua oposição aos ataques de ursos e lobos, bem como para protestar contra o governo estar a concentrar-se num único animal "quando existem [ali] mais de 50".
Atualmente, existem outros ursos pardos nos Pirenéus, todos eles filhos, netos ou bisnetos de um urso chamado Pyros, também ele esloveno, libertado no local em 1997 para garantir a continuidade da espécie. Anos depois, a vinda de Goiat permitiu resolver em parte a questão da consanguinidade da espécie.
Até ao momento ainda não se sabe quando será feita a transferência do animal. Para já, a decisão, dizem membros da Generalitat, “não pode ser tomada a quente” e deve também ter a aprovação de França, que participa no programa europeu que protege a espécie. “Um só exemplar não pode colocar em risco um trabalho bem-sucedido de 20 anos", explica Ferran Miralles, diretor geral de Políticas Ambientais da Generalitat da Catalunha.
A alternativa passaria pela mudança de Goiat para um "santuário" para os ursos, como foi feito em 2016 com dois dos animais que viviam fora da cidade Aranés de Arties (Lleida) e foram levados para o abrigo de ursos Medveotthon, na Hungria. "É uma possibilidade, mas ainda não temos uma proposta em cima da mesa. Neste momento estamos a estudar a nível técnico a viabilidade do meio de extração do animal”. Outra opção seria o regresso de Goiat à Eslovénia, "uma medida que não parece muito eficaz”, refere Miralles. O último e mais radical dos cenários seria matá-lo. "Mas há muitas outras alternativas e seria complicado que as pessoas entendessem uma decisão assim”, acrescenta.
As opiniões quanto ao sucedido são diversas. A Unió de Pagesos, união agrícola da Catalunha, apoia a decisão de Calvet e pede mais controlo. “Temos noção de que antes dos animais estão as pessoas. Goiat mostrou que a introdução do urso pardo trouxe problemas. Temos de considerar o número de animais que podemos abrigar no território. Há muita ignorância sobre as dificuldades que enfrentamos no campo", afirma Joan Caball, coordenadora nacional do sindicato. Em oposição estão os ecologistas, que afirmam que “é necessário que todos fiquem de acordo quanto ao interesse geral para que se consiga que o urso pardo possa subsistir”, diz Jaume Grau, de Ecologistas en Acción.
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