Uma coluna com cerca de 400 militares do Grupo Wagner começou o caminho ontem até à Rússia. Hoje, pela noite e manhã, entrou em Rostov, com o líder Prigozhin a afirmar que a chegada a Rostov se fez sem "uma única bala disparada" e com o apoio da população local.

Vladimir Putin reagiu e comunicou à nação que aquela foi a maior ameaça à sua liderança nestas duas décadas de poder. Começou por se dirigir aos soldados "heróicos" que lutam na frente. Acrescentou que falou com todos os generais durante a madrugada. À semelhança do seu Ministro da Defesa, afirmou que os combatentes da Wagner foram manipulados e culpa o ocidente.

Ainda no seu discurso lembrou que os "soldados e comandantes do Grupo Wagner morreram a combater pela Rússia, e agora são traidores". Volta a lembrar que "qualquer revolta interior pode ser mortalmente perigosa para a Rússia. É uma punhalada nas costas do nosso povo".

Por fim, deixou uma ameaça e uma garantia, "todos aqueles que se tornaram traidores, e que cederam à chantagem de terroristas, irão responder perante a lei. As forças armadas levarão todos a justiça."

"Enquanto Chefe Supremo e Presidente da Rússia comprometo-me a defender a Constituição. Quem levantou as armas contra os seus camaradas são traidores." Termina apelando à rendição "aqueles que são arrastados devem suspender as suas acções e juntamente com a nossa pátria".

A reagir ao discurso de Putin, no grupo de Telegram AP Wagner, que não é o oficial, mas sim um dos vários perfis associados a esta força paramilitar, foi publicado que “Putin fez a escolha errada. Tanto pior para ele. Em breve, teremos um novo Presidente”.

Entretanto, durante o dia de hoje, já foram várias as reações à situação de tensão que se vive na Rússia. Volodymir Zelensky, presidente da Ucrânia, afirmou que a situação é fruto de tudo o que a Rússia tem feito nos últimos meses, afirmando que "todo aquele que escolhe o caminho do mal, destrói-se a si mesmo".

Zelensky acusou a Rússia de usar propaganda para "mascarar a sua fraqueza e a estupidez do seu governo", evocando também a revolução bolchevique de 1917, afirmando que Putin é uma pessoa "que repetidamente assusta até o ano de 1917".

Finaliza o post na rede social Twitter com uma mensagem de força às suas tropas, afirmando que "todos os nossos comandantes, todos os nossos soldados sabem o que fazer".

Também a NATO e a Comissão Europeia já reagiram à situação. Com cautela, a NATO afirma: “estamos a monitorizar a situação”, referiu a porta-voz da NATO, Oana Lungescu, em resposta à LUSA. A posição de Bruxelas também se caracteriza pela cautela, colocando a situação como uma situação interna da Rússia: “Isto é um assunto interno russo. Estamos a monitorizar a situação”, referiu o porta-voz da Comissão Eric Mamer, numa curta declaração enviada aos jornalistas.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 também já estão reunidos para "trocar pontos de vista sobre a situação na Rússia". O Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, afirmou ter tido “uma conversa telefónica com os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 para trocar pontos de vista sobre a situação na Rússia".

Relativamente às conversações com os diplomatas do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), Borrell indicou que está a desenvolver um trabalho de coordenação no seio da União Europeia para lidar com a situação e informou que ativou o “centro de resposta a crises” da UE antes da realização do Conselho de Negócios Estrangeiros, na próxima segunda-feira.

Entretanto, em apoio à Rússia, as tropas da Chechénia chegaram a Rostov, após o seu líder Ramzan Kadyrov ter declarado o seu apoio a Vladimir Putin.

Na Letónia, Edgars Rinkēvičs, Ministro dos Negócios Estrangeiros, confirmou o fecho das suas fronteiras com a Rússia:"A segurança das fronteiras foi reforçada, não serão considerados vistos ou entradas na fronteira russa, devido aos acontecimentos actuais. Neste momento, não existe qualquer ameaça direta para a Letónia".

Para os portugueses presentes em Moscovo, a embaixada portuguesa nessa cidade já deixou o aviso: “A embaixada de Portugal recomenda aos cidadãos nacionais que se encontrem na Rússia que evitem locais públicos, grandes aglomerados e deslocações desnecessárias, especialmente nas regiões do Sul do país, em particular Rostov-on-Don”, dá conta uma nota publicada no Portal das Comunidades.

O serviço diplomático português aconselhou os portugueses a terem “uma atitude vigilante e seguir as orientações e recomendações de segurança que venham a ser divulgadas pelas autoridades russas”.

A embaixada portuguesa está a “acompanhar a situação” e deixou dois contactos para os cidadãos que necessitem “em caso de emergência ou necessidade de assistência consular”: sconsular.moscovo@mne.pt ou o número +7 (965) 348 13 28.

*Com agências.