“A porta do secretário-geral está aberta a todos os chefes de Estado que chegam. E todos os anos em que o primeiro-ministro [Netanyahu] veio a Nova Iorque, encontrou-se com o secretário-geral. Não tenho razões para acreditar que não haja uma reunião”, declarou à imprensa Stéphane Dujarric.
Questionado sobre o significado de não se realizar um encontro entre Netanyahu e Guterres – que tem sido muito crítico durante meses do cerco de Israel à Faixa de Gaza após o ataque do grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro -, Dujarric respondeu simplesmente que “não seria um reflexo do que aconteceu no passado”.
Este mês, o novo embaixador de Israel nas Nações Unidas, Danny Danon, teve uma reunião tensa com Guterres, depois de o representante de Telavive ter atacado a organização no seu discurso de apresentação de credenciais.
“Espero que a ONU apresente a clareza moral necessária para enfrentar os males que nós [Israel] enfrentamos”, disse Dannon na presença de Guterres, acrescentando: “Estou empenhado em representar o meu país, em mostrar a verdadeira face de Israel e em combater as mentiras e a hipocrisia com que infelizmente temos de lidar aqui neste edifício”.
Na altura, o secretário-geral da ONU respondeu que para, as Nações Unidas, é “extremamente importante ter uma relação objetiva com Israel”.
Israel chegou a pedir, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, a demissão de Guterres, acusando-o de preconceito anti-israelita, sobretudo depois de ter declarado em 25 de outubro perante o Conselho de Segurança que os ataques do Hamas contra Israel, no dia 07 desse mês e que deixaram cerca de 1.200 mortos, “não vieram do nada”, mas após anos de ocupação de terras palestinianas.
Embora no mesmo discurso, Guterres tenha condenado o ataque sem precedentes do Hamas, para Israel, as palavras do secretário-geral tiveram o significado de uma justificação.
A tensão entre a ONU e Telavive prosseguiu com a revelação de que funcionários da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) estiveram envolvidos nos ataques do Hamas.
Em 05 de agosto, as Nações Unidas anunciaram que o Gabinete de Serviços de Supervisão Interna concluiu que, em nove dos 19 casos investigados, as provas disponíveis “indicam que os funcionários da UNRWA podem ter estado envolvidos nos ataques armados” dos islamitas palestinianos.
“Nove dos seus funcionários podem ter participado no maior massacre de judeus desde o Holocausto. E não, esta não é uma prova ‘fabricada’ por nós”, reagiu Nadav Shoshani, porta-voz internacional das Forças Armadas de Israel, através da rede social X, sentenciando: “A agência de ‘ajuda’ caiu oficialmente para um novo nível e está na hora de o mundo ver a sua verdadeira face”.
Os procedimentos de investigação da ONU a este caso permitiram, porém, que muitos países doadores da UNRWA retomassem os seus financiamentos, depois de os terem interrompido na sequência da revelação da suspeita de envolvimento de colaboradores com o Hamas.
Nos últimos dez meses, as agências da ONU têm relatado um desastre humanitário resultante da ofensiva em grande escala de Israel na Faixa de Gaza, em retaliação aos ataques do Hamas, onde mais de 40 mil pessoas, na maioria civis, morreram, de acordo com as autoridades locais controladas pelo grupo palestiniano.
A situação, decorrente do cerco imposto ao enclave por Israel, levou ao colapso do sistema de saúde e grandes restrições à população no acesso a bens essenciais, enquanto decorre a ofensiva israelita, que, segundo a ONU, deixou “poucos espaços seguros” para os seus funcionários trabalharem no território.
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