
No ano letivo de 2023-2024, mais de 10.000 livros foram proibidos em escolas públicas nos Estados Unidos, em 29 estados, com a Florida e o Iowa a liderar o número de proibições. Os números são da PEN America, uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é aumentar a sensibilização para a proteção da liberdade de expressão nos Estados Unidos e em todo o mundo.
"Em todos os lugares, são os livros que há muito lutam por um lugar na prateleira que estão a ser visados. Livros de autores de cor, de autores LGBTQ+, de mulheres. Livros sobre racismo, sexualidade, género, história", é adiantado.
Assim, os livros retirados apresentavam, na sua maioria, personagens negras (44%) ou LGBTQ+ (39%) e são alvo de censura "mobilizada por grupos conservadores". Livros que incluam situações de violência também têm sido banidos — em 2023, nem a Bíblia escapou de ser retirada de algumas escolas no estado do Utah.
Segundo esta organização, foram registadas quase 16.000 proibições de livros em escolas públicas em todo o país desde 2021, "um número não visto desde a era do Red Scare McCarthy na década de 1950". A lista completa pode ser consultada aqui.
Seis livros banidos nos EUA (e também publicados em Portugal)
- "Dezanove Minutos", Jodi Picoult
Um livro que fala sobre um estudante do liceu de 17 anos que suportou, durante um logo período, abusos verbais e físicos por parte dos colegas. Mais tarde, é o próprio que comete um ato de extrema violência.
Enfrenta 98 proibições nos EUA.
- "À procura de Alaska", John Green
Este livro conta a história de Miles Halter, um jovem fascinado por "famosas últimas palavras". Num colégio interno, encontra Alaska Young, uma rapariga por quem se apaixona e que o leva também a sentir dor quanto uma tragédia bate à porta. A obra foi adaptada para série na Prime Video.
Enfrenta 97 proibições nos EUA.
- "As vantagens de ser invisível", de Stephen Chbosky
Também focado na adolescência, este livro centra-se em Charlie, de 15 anos, que sente a pressão da idade para fazer o que os outros fazem. À sua volta, um cenário de festas, sexo, drogas e um suicídio que o marca para sempre. Mais uma obra adaptada, desta vez a filme (protagonizado por Logan Lerman e Emma Watson).
Enfrenta 85 proibições nos EUA.
- "Por treze razões", de Jay Asher
Um romance jovem adulto que conta a história de Clay Jensen, que não quer ter nada a ver com as cassetes gravadas por Hannah Baker, que está morta. Mas a voz de Hannah diz a Clay que o nome dele está gravado naquelas cassetes e que ele é, em parte, responsável pela sua morte. Quando ouve as gravações, descobre factos que vão mudar a sua vida para sempre. Um livro adaptado a minissérie pela Netflix.
Enfrenta 76 proibições nos EUA.
- "O Menino de Cabul", de Khaled Hosseini
No inverno de 1975, em Cabul, tudo o que Amir mais deseja no mundo é ganhar um concurso de papagaios para poder impressionar o seu pai, e Hassan, o seu amigo inseparável, está determinado a ajudá-lo. Mas, na tarde do concurso, um terrível acontecimento vai destruir os laços que unem os dois rapazes para sempre. E, mesmo quando a família de Amir é forçada a fugir do Afeganistão após a invasão soviética, Amir sabe que um dia terá de regressar à sua terra natal em busca de redenção. O livro também já foi adaptado ao cinema.
Enfrenta 73 proibições nos EUA.
- "A História de Uma Serva", de Margaret Atwood
Um livro que traz uma distopia que não parece assim tão distante dos nossos dias. Extremistas religiosos de direita derrubaram o governo norte-americano e queimaram a Constituição. A América é agora Gileade, um estado policial e fundamentalista onde as mulheres férteis, conhecidas como Servas, são obrigadas a conceber filhos para a elite estéril. Adaptado a série, disponível na Prime Video.
Enfrenta 67 proibições nos EUA.
Além dos livros, as palavras
A PEN America alertou, no final de março, para outro fenómeno dos EUA: há palavras que estão a ser banidas.
"Uma lista crescente de palavras e materiais está a ser retirada dos sites e documentos governamentais, numa tentativa da administração Trump de eliminar todas as referências não só à diversidade, equidade e inclusão, mas também às alterações climáticas, às vacinas e a uma série de outros tópicos", é denunciado.
Até ao momento, a lista tem "mais de 250 palavras e expressões que, alegadamente, deixaram de ser consideradas aceitáveis pela administração Trump", desde "aborto" a "mulheres", passando por "deficiência", "idosos", "nativos americanos" e até "Golfo do México".

"Como podemos ter conversas inteligentes ou difíceis se nem sequer podemos usar as palavras, a unidade mais básica de significado?", questionou Jonathan Friedman, diretor-geral dos Programas de Liberdade de Expressão nos EUA. "Vivemos agora num país onde o governo decidiu que um vasto leque de termos do quotidiano passará a ser apagado e proibido em agências governamentais, sites ou mesmo em propostas de investigação científica. Estas proibições da linguagem são absolutamente arrepiantes e impedirão os esforços de investigação de problemas do mundo real e o avanço do conhecimento humano".
Contudo, a Casa Branca garante que não criou uma lista de palavras proibidas — mas admite ter deixado para as agências federais a interpretação de como cumprir as ordens executivas que reconhecem apenas o sexo masculino e feminino ou eliminam programas de diversidade, equidade e inclusão.
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