Depois dos protestos enfurecidos da Fox News, de cidadãos e do filho de mais velho do presidente americano, Donald Trump Jr., nas redes sociais, a Delta Airlines e o Bank of America, duas grandes empresas que patrocinavam a obra do festival "Shakespeare no Parque", do diretor Oskar Eutis, anunciaram no domingo a retirada de seu apoio.
A "gráfica" representação da obra "não reflete os valores da Delta", disse a companhia aérea em comunicado. "A direção artística e criativa cruzou a linha do bom gosto", considerou.
Para o Bank of America, a obra pretendia "provocar e ofender". "Se nos tivessem comunicado desta intenção, não teríamos decidido patrociná-la", declarou o banco.
A Fox News informou no domingo que a obra parece representar o presidente americano "sendo brutalmente esfaqueado até a morte por mulheres e minorias".
Num tweet, Donald Trump Jr. questionou-se sobre o financiamento da obra.
"Gostava de saber quanto desta "arte" é financiado pelos contribuintes?", escreveu o filho do presidente norte-americano.
Outros cidadãos pediram nas redes sociais que se fizessem doações ao Public Theater, responsável pela apresentação da obra.
A polémica recorda o ocorrido no fim de maio, quando a comediante Kathy Griffin divulgou um vídeo em que levanta uma falsa cabeça de Trump decapitada, fazendo com que ela fosse difamada e demitida pela CNN, onde conduzia a cada ano a transmissão de Ano Novo.
O Public Theater não respondeu imediatamente um pedido de comentário da AFP.
No entanto, no site da companhia é assegurado que a obra de Shakespeare "nunca se sentiu mais contemporânea". Julio César possui "uma personalidade magnética, irreverente" e está "obcecado pelo poder absoluto", explica.
"Julio César versa sobre o quão frágil é a democracia", assegura Eutis no mesmo site.
"As instituições com as quais crescemos, que herdamos da luta de muitas gerações de ancestrais, podem-se esvair a qualquer momento", alerta o diretor.
"Julio César pode ser lido como uma parábola de advertência para aqueles que tentam lutar pela democracia pelos meios não democráticos. Lutar contra o tirano não significa imitá-lo", afirmou.
A obra, escrita em aproximadamente 1599 e que se passa no ano 44 a.C., foi apresentada em Nova Iorque a 23 de maio e continuará em cartaz até ao dia 18 de junho.
Comentários