Os "Hipopótamos da Cocaína" voltam a ser notícia. Depois de ser reportado que os espécimes estavam a ser esterilizados pelo Governo colombiano, eis que a história ganha novos adornos: um tribunal norte-americano acaba de declarar que estes mamíferos herbívoros de grande porte são os primeiros não-humanos a serem legalmente declarados como "pessoas", de acordo com o Huffington Post.
A sentença atendeu a um pedido da organização sem fins lucrativos Animal Legal Defense Fund (ALDF). A juíza Karen Litkovitz, do Tribunal Federal de Ohio, deferiu um despacho na semana passada a pedido dos demandantes, neste caso, a "comunidade de hipopótamos que vive no rio Magdalena".
A decisão da magistrada baseou-se numa lei norte-americana que permite que uma "pessoa interessada" num litígio estrangeiro solicite deposições norte-americanas para ajudar no caso.
"Ao deferir a solicitação [...], o tribunal reconheceu os hipopótamos como pessoas jurídicas em relação a este estatuto", explicou a ALDF em comunicado. Christopher Berry, advogado da ALDF, disse à agência France-Press (AFP) que a ordem do tribunal vai "ajudar os hipopótamos na sua demanda para não morrer".
O que é esta ação quer dizer? Quer dizer que este caso "é o primeiro exemplo concreto de um tribunal norte-americano que autoriza os animais a exercerem um direito legal em nome do próprio animal", acrescentou Berry.
A ação foi apresentada em julho passado em nome dos hipopótamos pelo advogado Luis Domingo Gómez Maldonado, na Colômbia, país que já reconhece a personalidade jurídica dos animais. O seu objetivo é evitar que o governo pratique a eutanásia dos animais, que agora já são mais de 80 — significativamente mais do que o macho e as três fêmeas que Escobar adquiriu.
Como é que chegámos aqui? Pelo facto de Pablo Escobar ter importado ilegalmente hipopótamos para a Colômbia, para o seu jardim zoológico pessoal. Com o passar dos anos os animais tornaram-se selvagens e ameaçam a biodiversidade local.
Antes de ser abatido a tiro pela polícia em 1993, o magnata da cocaína comprou animais exóticos para viverem no seu rancho pessoal, entre eles flamingos, girafas, zebras e cangurus. Após a sua morte, todos os animais, exceto os hipopótamos, foram vendidos a jardins zoológicos.
Quase três décadas mais tarde, estes animais prosperam numa região fértil situada entre Medellín e a capital da Colômbia, Bogotá. Os animais passam o dia principalmente nos lagos e canais e à noite deambulam nos pastos em redor. Ao contrário do que aconteceria em África, de onde são nativos, na Colômbia não têm predadores naturais.
Ora, esta situação causou um problema para o Governo colombiano que não teve mãos a medir ou não tivessem os hipopótamos de estimação criados pelo barão da cocaína há mais de 20 anos originado a maior população da espécie fora de África. Ou seja, começaram a ser esterilizados para travar crescimento do grupo.
Cientistas têm vindo a alertar para o impacto causado pelos animais no local, uma vez que as tentativas de controlar a sua reprodução, por parte do governo, não tiveram até agora impacto real no crescimento populacional. Nos últimos oito anos, estima-se que os hipopótamos tenham passado de 35 para 80.
Segundo alguns investigadores, os hipopótamos representam uma grande ameaça à biodiversidade local e podem levar a encontros mortais com humanos. Desta forma, foi até defendido que os hipopótamos deveriam ser abatidos ou o seu número pode chegar a cerca de 1.500 em 2035.
Contudo, o abate pode não ser uma solução fácil, uma vez que há uma proibição por parte do governo em caçar estes animais. Por outro lado, o apreço da população local pelos hipopótamos também é um obstáculo.
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