Aos temores das últimas semanas de uma potencial invasão da Rússia sobre a Ucrânia seguiram-se os alertas de que o conflito era praticamente inevitável.

O aviso foi feito por Washington no dia 11, com os EUA a dizer ter informações de que a Rússia poderia atacar a Ucrânia “a qualquer momento” e que as agressões teriam início por meio de bombardeamentos. Mais tarde, o Pentágono estimou que o exército russo já concentrava perto de 100 mil homens junto à fronteira mãe de todas estas disputas.

Mesmo perante os reiterados apelos do ucranianos à calma e das repetidas promessas dos russos de que não tinham interesse numa invasão, muitos países não foram de modos: EUA, Reino Unido, Países Baixos, Alemanha, Espanha, Israel, Canadá, Austrália, Portugal e até mesmo Kuwait, Iraque, Japão e Marrocos aconselharam os seus cidadãos a deixar a Ucrânia pela sua segurança. Os norte-americanos foram mais longe ainda, ao transferir a sua embaixada da capital Kiev para Lviv, no oeste do país, perante a "aceleração dramática" da concentração de militares russos na fronteira.

Enquanto esperávamos pela derradeira data, os alertas originaram um corropio de esforços diplomáticos para tentar serenar os ânimos: Macron foi a Moscovo, tal como Scholz; Putin falou ao telefone com Biden; os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros das diferentes partes foram contactando-se entre si sistematicamente.

Das conversas, soube-se que cada uma das partes reafirmou as suas posições, pelo que de nada terão servido para aliviar tensões no terreno. Ou seja, a Ucrânia continuava a temer uma invasão; a Rússia sentia-se acossada pelo alargamento da NATO e pelo envio de tropas ocidentais junto às suas fronteiras; os EUA alertavam para as consequências do conflito e a Europa temia a instabilidade a este, para além da crise energética que se seguiria.

O primeiro sinal que tivemos hoje foi positivo: de manhã, a Rússia anunciou a retirada de alguns militares da fronteira com a Ucrânia para regressarem às bases. Horas depois, o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, reagiu como se nada fosse.

“Sempre dissemos que após a conclusão dos exercícios, (…) as tropas regressariam às suas guarnições originais. Isto é o que está a acontecer, este é o processo habitual”, disse. Segundo Peskov, Moscovo irá no futuro organizar outros “exercícios em toda a Rússia” por ter o direito de o fazer onde quer que considere apropriado dentro do seu território.

Portanto, apesar da retirada em si, o clima acintoso mantém-se, com o porta-voz a acusar ainda o Ocidente — em particular os EUA — de levar a cabo uma “campanha absolutamente sem precedentes para provocar tensões”. “Este é o tipo de histeria que não se baseia em nada”, concluiu.

O que se segue a partir daqui? O clima de desconfiança permanece de tal forma denso que até mesmo os sinais positivos têm de ser tomados com cuidado, especialmente porque cada lado reclama para si a vitória moral.

Num comentário publicado na rede social Telegram, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, disse que a “propaganda da guerra ocidental” foi hoje humilhada com o anúncio do Ministério da Defesa. O dia “15 de fevereiro de 2022 ficará para a História como o dia em que a propaganda da guerra ocidental falhou. Humilhada e destruída sem um único tiro disparado”, comentou a porta-voz do ministério tutelado por Serguei Lavrov.

Já a Ucrânia disse que conseguiu, juntamente com os aliados do Ocidente, “evitar qualquer nova escalada” com os vizinhos. O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, sublinhou, no entanto, ser ainda demasiado cedo para ver uma redução real das tensões nesta crise.

O chefe da diplomacia ucraniana considerou ainda que, apesar do anúncio de Moscovo, é necessário esperar para perceber as intenções russas. “A Rússia está sempre a fazer todo o tipo de declarações, por isso temos uma regra: acreditaremos numa desescalada quando virmos a retirada das tropas”.

Se a Ucrânia faz como São Tomé, os seus parceiros também: só a França reagiu com aparente otimismo, já que a Alemanha e o Reino Unido ficaram-se pela prudência. Boris Johnson, por exemplo, disse que as informações dos serviços secretos sobre a presença russa nas fronteiras da Ucrânia “ainda não são encorajadoras”. Já no Brasil, há quem viva numa realidade paralela.

E por falar em sinais desencorajadores, o dia não podia chegar ao fim sem se registarem vários: