A instituição que criou o Museu Manuel Cargaleiro em Castelo Branco, e tem à sua guarda um acervo de cerca de dez mil obras do pintor e ceramista, garante que a obra transcendente do mestre, como a define, "fica para sempre". Assim, agradece-lhe por continuar a "acrescentar luz, cor e poesia aos nossos dias".
O artista Vhils, por seu lado, escreve "Obrigado, Mestre", na sua página no Instagram, ao mesmo tempo que publica imagens do artista e do trabalho conjunto que desenvolveram no ano passado para o Museu Manuel Cargaleiro. Alexandre Farto, conhecido por Vhils, e o pintor fizeram em conjunto a obra "Mensagem", numa justaposição de expressões, materiais e perspetivas de duas gerações, separadas por 60 anos de diferença.
Museus, autarquias, associações de arte e escolas estão entre as entidades que usaram as redes sociais para reagir à morte de Manuel Cargaleiro, hoje, aos 97 anos.
A Fundação Calouste Gulbenkian publica um vídeo sobre o artista, em que conjuga as suas palavras com imagens das suas obras. "Eu nasci para Paris com a Fundação Gulbenkian", afirma Cargaleiro neste vídeo, recordando os seus tempos de bolseiro na cidade onde viria a fixar-se e a obter reconhecimento internacional.
A Gulbenkian reproduz estas palavras de Cargaleiro "com orgulho", recordando "a sua extraordinária carreira". Cargaleiro está representado na Coleção do Centro de Arte Moderna da fundação com mais de sete dezenas de obras, onde os elementos da natureza, como as flores, são os mais presentes.
O Museu Nacional de Arte Contemporânea também lamenta a morte do autor de "Ruínas da Grécia" e de "Le départ de l’ombre", reconhecendo a importância da sua obra, assim como o Museu Nacional Soares dos Reis que o define como "nome de referência da arte portuguesa [...] a nível internacional", e adiantando que obras do artista entraram recentemente no seu acervo, através da "doação de uma coleção de arte privada".
O Museu Nacional do Azulejo fala de "um dos nomes maiores do panorama artístico nacional e, em particular, da cerâmica portuguesa". O museu recorda alguns dos seus trabalhos em cerâmica e que o artista se "considerava o operário mais antigo da [fábrica de azulejos] Viúva Lamego, onde tinha atelier desde a década de 1940".
Sobre um criador que assumiu sempre a inspiração na azulejaria portuguesa, a Rede de Investigação em Azulejo Az-Infinitum escreve na sua página que "o mundo das artes ficou mais pobre, mas o céu ganhou certamente um caleidoscópio de cores".
"Operário de muitas artes, Mestre Cargaleiro é autor de uma extensa obra, e através dela perdurará na memória de todos", lê-se na mensagem da plataforma que inventaria e documenta o património azulejar português.
Esta plataforma dá como exemplo da "excecionalidade artística e humana" de Cargaleiro os painéis concebidos para a estação de metro do Colégio Militar, em Lisboa, e para a “Estação Cargaleiro”, em Paris, nos Champs-Élysées Clemenceau.
As câmaras municipais de Almada, Covilhã, Lisboa e Seixal também publicaram notas de pesar. Lisboa recorda a obra e a Medalha de Honra da cidade que entregou ao artista em 2022. Seixal, que acolhe a Oficina de Artes dedicada à divulgação e estudo da sua obra, destaca o percurso do pintor, a doação de obras que fez ao município e a sua presença no concelho.
Almada recorda "a forte ligação" de Cargaleiro ao concelho onde viveu a infância e "onde tudo começou”. Recorda ainda os painéis de cerâmica para o Jardim Municipal, concebidos em 1956, e para o edifício Papo-Seco, na Costa da Caparica, em 1990, como "as obras mais visíveis" no município.
A cidade de Almada, de que Cargaleiro também foi vereador, atribuiu-lhe a Medalha de Ouro, em 1994.
Entre as reações que se multiplicam nas redes sociais, destacam-se as de escolas e agrupamentos escolares como o Frei Heitor Pinto, na Covilhã, que agradece o "legado de luz e cor", e a Escola Secundária Manuel Cargaleiro, em Amora, Seixal, que publica uma fotografia do artista, sobre uma paleta de cores, numa "homenagem singela, mas muito sentida ao [seu] patrono".
O jornalista Francisco Freitas, da Beira Baixa TV, que no passado mês de abril entrevistou Manuel Cargaleiro quando este entregou ao município de Vila Velha de Ródão, onde nasceu em 1927, o painel "A Festa da Gratidão", nos 50 anos de 25 de Abril, fala da "inteligência ímpar e simplicidade contagiante" do artista. Cargaleiro, escreve Francisco Freitas no Facebook, "defendeu que tanto a vida como o 25 de Abril 'devem ser uma festa'. Mas hoje é o céu que está em festa."
O ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva disse hoje ter-se despedido de “um grande amigo”, apontando que artistas como o pintor e ceramista nunca morrem e que permanecem nas marcas que deixam. “Manuel Cargaleiro deixou-nos só fisicamente, porque artistas como ele nunca morrem. Vidas longas ou curtas, as que importam são as que deixam marcas”, disse Cavaco Silva, numa nota enviada às redações.
O presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, anunciou hoje que a autarquia vai decretar três dias de luto municipal pela morte do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro.
A ministra da Cultura expressou hoje "profundo pesar" pela morte do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, de 97 anos, cuja "intensa atividade artística se traduz num legado essencial para a arte portuguesa".
"Manuel Cargaleiro deixa um legado ímpar, cruzando referências e gerações", diz a nota de pesar de Dalila Rodrigues, assinalando que Cargaleiro, nascido em 1927, em Chão das Servas, Vila Velha de Ródão (distrito de Castelo Branco) criou a fundação com o seu nome em Castelo Branco, cujo Museu mostra a sua obra, incluindo a extensa coleção de cerâmica.
"Representado em coleções nacionais, entre elas a Coleção de Arte Contemporânea do Estado, e internacionais, o seu trabalho foi reconhecido e homenageado, tendo sido condecorado como Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada de Portugal (1983), Grau de Officier des Arts et des Lettres, atribuído pelo governo francês, em 1984, Grã-Cruz da Ordem do Mérito (1989), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2017), Medalha de Mérito Cultural (2019), Medalha Grand Vermeil (2019), Grã-Cruz da Ordem de Camões (2023)", lembra ainda a ministra da Cultura.
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