O detido, um francês ex-maquinista e agora reformado, foi acusado de matar três pessoas no centro curdo de Paris: Emine Kara, líder do Movimento das Mulheres Curdas em França, e dois homens, entre eles, o artista e refugiado político Mir Perwer.
Três homens ficaram feridos, um deles gravemente, mas não corre perigo, e outro recebeu alta e deixou o hospital. Cinco das seis vítimas são de nacionalidade turca e a última é francesa.
O homem de 69 anos foi colocado na ala psiquiátrica da sede da polícia no sábado, tendo abandonado este espaço ontem à noite levado hoje a um juiz de instrução.
O detido, que alega ter um “ódio patológico a estrangeiros” desde que foi vítima de um assalto em 2016, tem antecedentes criminais por ataques racistas e foi libertado da prisão no dia 11 deste mês. O homem tinha acesso a armas por fazer parte de um clube desportivo de tiro e não pertencia a qualquer grupo de extrema-direita, indicou, na altura, o ministro do Interior francês.
O homem contou que, há quatro anos, comprou a arma a um membro do clube de tiro, afirmando que escondeu a arma na casa dos seus pais e garantindo que nunca a usou antes.
Já condenado em 2017 por porte de armas proibidas e, em junho passado, por utilizá-las contra alegados ladrões, foi também acusado em dezembro de 2021 por violência premeditada e de caráter racista.
A investigação não conseguiu até agora estabelecer quaisquer ligações particulares com a comunidade curda, e nem a análise do seu telefone, nem do computador que tinha em casa dos pais estabeleceram qualquer relação com a ideologia de extrema-direita.
As investigações excluem, para já, o caráter terrorista da ação, como defendido por representantes da comunidade curda em França, que colocam a Turquia por detrás dos acontecimentos, ocorridos quase dez anos depois do assassinato a sangue frio de três militantes curdos muito próximo do local onde este tiroteio teve lugar.
De acordo com uma informação divulgada este domingo pela procuradora parisiense Laure Beccuau, o autor do tiroteio confessou aos investigadores que tinha tentado levar a cabo o massacre mais cedo na cidade vizinha de Saint-Denis e que a sua intenção era cometer suicídio “depois de matar os estrangeiros”.
De acordo com a declaração da procuradora, o suspeito afirmou que na sexta-feira de manhã se deslocou a Saint-Denis, cidade a norte de Paris conhecida por ser habitada por muitos imigrantes, com intenção de matar o máximo possível.
Embora estivesse a carregar a arma e munições, como não encontrou demasiadas pessoas desistiu do plano e regressou ao bairro onde vive, lembrando-se entretanto que havia ali um centro cultural curdo, comunidade que disse odiar por ter feito prisioneiros do autoproclamado Estado Islâmico (IS) e não os ter matado.
Durante o interrogatório, que teve de ser adiado no sábado devido a problemas psiquiátricos, descreveu-se como “depressivo” e “suicida”.
Ao procurador, disse que “a única coisa” que lamenta é “não ter cometido suicídio”, algo que planeia fazer “um dia”, mas “não sem primeiro levar o maior número possível de inimigos”, referindo-se a “todos os estrangeiros não europeus”.
Centenas de pessoas reuniram-se nesta segunda-feira em Paris numa caminhada em homenagem às vítimas. Pequenos altares foram montados no local, onde as três vítimas morreram, com flores, velas e as suas fotografias.
Um cortejo seguiu por outra rua do mesmo bairro, no qual três militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) morreram em 9 de janeiro de 2013, num caso por resolver. Os manifestantes gritavam "os nossos mártires não morrem" em curdo e, em francês, "Mulheres, vida, liberdade".
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