Os ‘kits’ incluem uma enxada e catana como utensílios agrícolas, ferramentas que a maioria perdeu durante as cheias de há seis meses, que se seguiram ao ciclone.
Estes conjuntos vão beneficiar famílias camponesas de 17 distritos das províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia.
Gaudêncio Monteiro, oficial de programas de emergência da FAO, disse à Lusa que a iniciativa pretende “garantir a segurança alimentar e nutricional” das famílias camponesas nas áreas arrasadas, até que arranque a próxima campanha de sequeiro (em novembro), de que depende o setor familiar.
Trata-se da segunda fase de distribuição de sementes e que dá continuidade a um apoio inicial depois das perdas em duas épocas, não só devido ao ciclone, mas também por causa de pragas.
A FAO e várias outras organizações humanitárias têm estado a incentivar a produção em hortas caseiras, no bairro de reassentamento de Ndeja, em Nhamatanda, Sofala, centro de Moçambique, para a melhoria da dieta dos milhares de deslocados que ali se encontram.
Isabel Mateus, 24 anos, com três filhos, contou que perdeu casa, roupa e comida devido ao ciclone e viveu durante um mês num abrigo improvisado antes de ser referenciada para o bairro de reassentamento de Ndeja.
Agora, com um extenso quintal, olha para a agricultura como fonte de sustento familiar, mas também como forma de negócio, para complementar as necessidades básicas na reconstrução do lar.
“Vou lançar a semente e, quando produzir, vou tirar uma parte para vender e levar o dinheiro para fazer outras coisas”, explicou a beneficiária.
Por sua vez, Augusto João, 32 anos, outro beneficiário, referiu que o ciclone o arrastou para “uma vida muito difícil”, depois de perder quase tudo na sua aldeia de origem, em Nhampoca.
Atualmente vê na agricultura uma forma de se reerguer.
“Agora também estou a fazer agricultura, estou a conseguir ter alguma coisa. Estou no ponto zero, sim, mas estou a ver que já tenho um passo dado”, salientou, apontado por outros como um exemplo de iniciativa jovem no bairro de reassentamento.
Com o ‘kit’ de sementes pretende expandir a sua horta, que já fornece produtos hortícolas aos moradores do bairro de Ndeja.
O sobrevivente ambiciona passar para uma outra etapa da vida, pensando em construir uma casa.
A FAO considera ainda crítica a falta de alimentos nas zonas atingidas pelos ciclones Idai e Kenneth (que se abateu no Norte do país, em abril), estando a preparar uma intervenção na campanha principal, com a distribuição de sementes de milho, feijão ‘nhemba’ e arroz, através de senhas para 115.500 famílias.
O organismo das Nações Unidas estima que só o ciclone Idai causou a perda de cerca de 800 mil hectares de colheitas na região centro de Moçambique, agravando a insegurança alimentar e má nutrição daquela área e do país.
O donativo da FAO conta com o apoio do Banco Mundial, Fundos de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e das Nações Unidas para a resposta a emergência, além do Governo de Moçambique.
*Por André Catueira, da agência Lusa
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