No primeiro discurso na VIII Convenção Nacional da IL, em Santa Maria da Feira, Aveiro, Rui Rocha recordou os principais marcos políticos da vida do partido e defendeu que um dos aspetos mais importantes foi “a capacidade que a IL teve de liderar assuntos fundamentais para a sociedade portuguesa” como a questão do crescimento económico ou da necessidade de baixar impostos.

“Liderámos na dimensão das empresas públicas, por exemplo da TAP e, surpreendentemente, porque este Governo em funções atualmente se apresentou com o propósito de privatizar a TAP, dá-me ideia de que vamos ter de liderar outra vez porque perderam a vontade de privatizar a TAP e nós vamos continuar a insistir que é preciso privatizar a TAP”, assegurou

Outro dos aspetos que o presidente da IL reclamou ter sido liderado pelo partido tem a ver com a visão para a saúde.

“Parte de uma população em Portugal está refém de uma solução política para o SNS que diz: tens que sofrer primeiro e só depois de sofreres é que podes ter acesso à saúde. É absolutamente inaceitável”, acusou.

Antes de apontar baterias ao governo, Rui Rocha recordou o percurso do partido que “em tão pouco tempo” chegou a todos os parlamentos e considerou que para esse trabalho “é preciso que a mão invisível exista, mas que a mão na massa também se ponha”.

“Estamos aqui hoje a discutir instrumentos importantes na vida do partido porque o partido cresceu, teve sucesso. Estamos aqui a representar o partido que em todas as eleições nacionais teve sempre crescimento do número de votos. É o único partido que o pode afirmar”, enfatizou.

Nesta reunião magna não haverá mudança de liderança e está em discussão a alteração aos estatutos e ao programa político, este último que fará uma afirmação “muito mais enfática” de que a “IL é o partido da liberdade”.

“Somos o partido da liberdade individual. Contra os coletivismos, contra as gavetas, contra as etiquetas, contra os rótulos, contra as formas de catalogar pessoas que são inaceitáveis e que nós vamos sempre combater”, defendeu.

A IL é “o partido das pessoas” e “pelo seu valor natural”, considerou Rui Rocha, considerando que os liberais já ganharam com esta discussão “porque o processo foi participado”.

Esta manhã, quando estava a entrar para esta convenção, o líder da IL disse não temer divisões internas, alegando que, seja qual for o resultado da reunião magna, o partido sairá reforçado.

“O que acontecer, seja lá o que for, vai ser sempre bom para o partido e vai dar mais energia àqueles que o dirigem, neste momento, para combaterem politicamente e para afirmarem as ideias liberais”, declarou o líder da IL.

O presidente dos liberais considerou que a convenção nacional é um “momento de afirmação” do partido que servirá para discutir instrumentos importantes para que essa afirmação se faça.

O objetivo é "um partido mais ágil, com um programa político mais adequado aos tempos que vivemos e à própria natureza e crescimento que o partido teve nos últimos anos”, acrescentou.

“O partido teve uma trajetória de crescimento e os instrumentos que existem hoje em dia já não são adequados a potenciar o partido no país e a capacitar o partido para fazer mais combate politico e a continuar a trajetória de crescimento”, disse Rui Rocha.

O presidente da IL referiu, contudo, que caso não haja uma alteração aos estatutos, isso não inviabilizará o crescimento do partido.

“Entendo que seria desejável evoluirmos para uma versão dos estatutos mais ágil. Se os membros por acaso assim não entenderem, estes estatutos não são impeditivos do crescimento da Iniciativa Liberal e os factos provam-no”, afirmou.

Rui Rocha disse ainda não temer um cenário de divisão interna, tendo em conta a existência de duas propostas de alteração dos estatutos, uma apresentada pelo Conselho Nacional da IL e uma outra dos opositores internos, afirmando gostar de “concorrência, de discussão”.

“Os unanimismos num partido liberal são algo que por natureza não faz sentido. Portanto, todos os contributos que sejam determinados pelo interesse em promover a discussão no partido, em criar visões alternativas que sejam fundamentadas são bem-vindas, porque trazem diversidade de opinião ao partido”, afirmou.

Independentemente do resultado que possa sair do congresso e da intensidade da discussão que haja, o presidente da IL disse que na segunda-feira estará à frente do partido com “a mesma intensidade e com energia redobrada”, porque o partido sairá reforçado.

Sob o lema “Sempre a Crescer”, o partido reúne até domingo a sua VIII Convenção Nacional no Europarque, em Santa Maria da Feira, para a qual estão cerca de 1.000 membros inscritos, divididos em formato presencial e remoto.

Cotrim avisa que para continuar a crescer é preciso que partido evolua

O antigo líder liberal João Cotrim Figueiredo avisou hoje que a IL só continuará a ganhar e a crescer caso se adapte e saiba “evoluir com os tempos”, apelando à aprovação da proposta de alteração dos estatutos afeta à direção.

Recentemente eleito eurodeputado pela IL, João Cotrim Figueiredo subiu esta tarde ao púlpito da VIII Convenção Nacional da IL durante a discussão dos estatutos, assumindo não ser “enorme fã de política interna”, mas sim de “política feita para fora” e que produza efeitos na vida das pessoas.

“Só teremos resultados lá fora, impacto prático na vida das pessoas, se tivermos uma IL que ganhe, que se habitue a ganhar, que saiba ganhar. Posso não perceber muito de estatutos, mas de ganhar e de fazer crescer a IL vou sabendo alguma coisa”, defendeu.

A fórmula do antigo presidente do partido e primeiro deputado liberal na Assembleia da República é que “a IL só continuará a ganhar e a crescer se se adaptar e se souber evoluir com os tempos”.

“Se souber adaptar o seu crescimento aos novos dados políticos a começar, sim, pelos estatutos que hoje aqui se discutem”, concretizou.

Escusando-se a entrar em grandes pormenores, Cotrim Figueiredo referiu que “há algumas disposições dos atuais estatutos” que já bloqueiam a ação do partido e, por isso, “não é indiferente” que saia desta convenção uma ou outra proposta de alteração estatutária, ou mesmo nenhuma”, o que faria com que a IL ficasse com os atuais estatutos.

“Com grande humildade - não sou fundador do parido - vos peço: deem dois terços dos votos à proposta do grupo do trabalho dos estatutos que emanou do conselho nacional para a IL continuar a crescer e para a IL continuar a ganhar”, pediu.

Também o deputado Mário Amorim Lopes tomou a palavra, dizendo que "chegará o dia em que, independentemente de onde se realize a convenção, seja em Bragança ou seja em Sagres", a IL terá "um deputado por cada um dos círculos eleitorais".

O eleito pelo distrito de Aveiro defendeu também o trabalho do grupo de revisão estatutária, que incorporou "todas as listas eleitas em sufrágio universal numa convenção e que representam as diferentes tendências do partido".

Contrariando as críticas a uma alegada falta de separação de poderes, sustentou que o filósofo Montesquieu apenas a referiu "aplicada à organização do Estado" por haver "poderes com diferentes agendas e diferentes propósitos".

"Aqui, na Iniciativa Liberal, o Conselho Nacional, a Comissão Executiva, o Conselho de Fiscalização, o Conselho Jurídico não têm agendas individuais, não têm agendas próprias. Estamos no mesmo barco", vincou.

Já o antigo candidato à Câmara de Lisboa Bruno Horta Soares advogou que a proposta de alteração dos estatutos foi um "processo institucional e inclusivo" feito por um "grupo de trabalho suficientemente representativo e diverso".

Bruno Horta Soares falou ainda em "ética e respeito mútuo", criticando quem "quer não consegue fazer valer as suas posições de forma democrática, perdendo eleição atrás de eleição em órgãos nacionais, locais, optando por criar grupos informais, 'ad hoc', de oposição interna, onde a luta ganha forma no opressor 'versus' o oprimido".

"São livres de o fazer, mas nem sempre acho que seja responsável fazê-lo", considerou, concluindo que "quem não confia não é de confiar".