Em comunicado, a autoridade nacional do medicamento refere que foi decidido recomendar a suspensão do tratamento com hidroxicloroquina em doentes com covid-19 em linha com a decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS), depois da publicação de dados que colocam em causa a segurança e a eficácia deste químico.
O vice-Presidente do Infamed já tinha confirmado à Antena 1 esta suspensão.
Segundo a nota, “a cloroquina e hidroxicloroquina apresentaram resultados promissores em laboratório, por inibirem o SARS-COV-2 ‘in vitro’, parecendo a hidroxicloroquina ter uma atividade antiviral mais potente” tendo a utilização dos medicamentos sido preconizada por diversas linhas de orientação clínica internacionais.
Porém, após um estudo com mais de 90 mil doentes com covid-19, cujos resultados foram publicados na revista médica britânica The Lancet, a OMS decidiu suspender a inclusão de novos doentes em tratamento com hidroxicloroquina no ensaio clínico global Solidarity, que decorria em vários países e que em Portugal estava em fase de implementação ainda sem doentes incluídos. Depois da tomada de posição da OMS, a França, a Itália e a Bélgica também proibiram a utilização do fármaco.
Os autores do estudo dizem “não ter conseguido confirmar o benefício da hidroxicloroquina ou da cloroquina nestes doentes”, apontando um acréscimo de efeitos adversos potencialmente graves, incluindo “um aumento da mortalidade”, durante a hospitalização de doentes com covid-19.
As conclusões do estudo vão agora ser confirmadas através de ensaios clínicos aleatorizados e controlados, pelo que a suspensão da hidroxicloroquina será revista à luz da revisão do Comité de Monitorização da Segurança da OMS prevista para junho.
A recomendação do Infarmed e da DGS restringe-se ao uso deste medicamento apenas em doentes com covid-19, sublinhando-se que “os doentes que estavam a ser tratados com hidroxicloroquina para outras patologias, doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistémico, artrite reumatoide e malária, para as quais estas moléculas estão aprovadas, não devem interromper o seu tratamento”.
Em Portugal, o uso de cloroquina e hidroxicloroquina, medicamentos aprovados para a malária, estava, até agora, autorizado para o tratamento de doentes com covid-19 internados nos hospitais que manifestem, por exemplo, insuficiência respiratória e pneumonia.
Derivado da cloroquina (medicamento contra o paludismo), a hidroxicloroquina é prescrita para lutar contra doenças autoimunes, o lúpus ou a poliartrite reumatoide e a sua utilização contra a covid-19 foi alvo de uma viva polémica no último mês.
Os Presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos EUA, Donald Trump, estão igualmente convencidos dos seus efeitos, ainda não provados.
Mas a maioria da comunidade científica manifestou muitas reservas nos últimos meses sobre a utilização de hidroxicloroquina contra a covid-19, na ausência de estudos que comprovem a eficácia e devido a potenciais efeitos indesejáveis graves, nomeadamente cardíacos.
A hidroxicloroquina ganhou fama sem precedentes no final de fevereiro, quando o professor francês Didier Raoult, do Instituto Hospitalar-Universitário (IHU) em Marselha, retomou um estudo chinês, não muito detalhado, afirmando que o fosfato de cloroquina demonstrava sinais de eficácia em pacientes com covid-19. O professor Raoult descartou o estudo publicado na The Lancet, considerando-o "confuso".
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a covid-19 já provocou mais de 355 mil mortos e infetou mais de 5,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.369 pessoas das 31.596 confirmadas como infetadas, e há 18.637 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
[Notícia atualizada às 21:42]
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