Estas são conclusões da análise feita pela agência Lusa ao indicador percursos diretos de sucesso, criado pelo Ministério da Educação, que acompanhou os alunos durante os três anos do ensino secundário e procurou aqueles que nunca reprovaram um ano e tiveram positiva nos exames das duas disciplinas trienais do 12.º.
Dos quase 59 mil finalistas, 44,16% (25.978 alunos) conseguiram concluir o secundário com sucesso, segundo dados relativos ao ano letivo de 2018/2019 dos cursos científico-humanísticos das escolas do continente.
Estes dados dizem respeito a uma situação vivida nas escolas antes da pandemia de covid-19 que, em meados de março de 2020, obrigou ao encerramento das escolas e à implementação temporária do ensino à distância.
A pandemia revelou-se também prejudicial para as aprendizagens, mas também para o insucesso e abandono escolar.
No entanto, antes da pandemia, os números revelavam uma tendência de aumento dos percursos diretos de sucesso entre os alunos do secundário: comparando os últimos três anos, a percentagem de sucesso subiu de 39% para 41,2% e, em 2018/2019 para 44,1%.
No entanto, a maioria dos estabelecimentos não conseguia ainda que o sucesso fosse regra: das 540 escolas ou agrupamentos analisados, em 376 a maioria dos alunos contou com pelo menos um chumbo.
Fazendo uma lista das escolas com maiores percentagens de sucesso, o Colégio das Terras de Santa Maria, em Santa Maria da Feira, surgia em primeiro lugar, já que 91% dos seus alunos tinham um percurso direto de sucesso.
Em 9.º lugar aparecia a primeira escola pública: na Secundária de Vila Nova de Paiva, 85% dos alunos conseguiam fazer o secundário sem chumbar nenhum ano nem nos exames.
Mas esta secundária surge em primeiro lugar numa outra lista: a das escolas que mais conseguem fazer progredir os seus alunos. Neste ´ranking´ conta o trabalho realizado pela comunidade educativa, uma vez que se compara a evolução de estudantes com desempenhos académicos semelhantes à entrada do 10.º ano. Não se trata apenas das taxas de sucesso ou das notas finais nos exames nacionais, que invariavelmente colocam os colégios nos primeiros lugares.
Ao comparar alunos de todo o país que estavam no mesmo nível de partida à entrada do secundário, é possível observar se o trabalho desenvolvido pela escola fez com que os resultados fossem superiores ou inferiores aos dos colegas.
Em 2018/2019, o estabelecimento de ensino de Vila Nova de Paiva foi o mais bem-sucedido: 85% dos alunos fizeram o secundário sem percalços, quando, a nível nacional, apenas 52% dos alunos semelhantes aos daquela escola conseguiram fazer percursos diretos de sucesso.
Ou seja, esta escola da vila do distrito de Viseu conseguiu levar ao sucesso mais 32% dos alunos do que a média nacional.
Nesta tabela que avalia o impacto do trabalho realizado pelas escolas tendo em conta alunos com desempenhos académicos semelhantes, as escolas públicas destacam-se, já que, entre as quinze melhores, apenas três são privadas.
Entre os casos de sucesso e superação surgem caos como a da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, em Vila Nova de Famalicão, que tem vindo a melhorar ao longo dos anos.
Nos anos letivos de 2015/2016 e de 2016/2017 a maioria dos alunos do 12.º ano desta secundária nortenha tinha chumbado pelo menos um ano ou num exame. No ano seguinte, passaram a pouco mais de metade os casos de sucesso que já representam 71% dos alunos.
A escola surge em 2018/19 em 4.º lugar na lista das que mais consegue fazer pelos alunos.
Olhando para os distritos, apenas três conseguiam que a maioria dos seus alunos tenha sucesso: Coimbra e Viseu (ambos com uma taxa de sucesso de 53%) e Viana do Castelo (50%).
Já Bragança (31%) e Portalegre (33%) surgem no fim da lista, uma vez que naqueles distritos apenas um em cada três estudantes teve um percurso direto de sucesso no secundário.
Um em cada três alunos carenciados tem sucesso
Apenas um em cada três alunos carenciados concluiu o secundário sem “chumbar” nem ter negativa nos exames nacionais, mas existem escolas públicas que já começaram a contrariar essa ligação entre insucesso escolar e pobreza.
Os dados agora divulgados dizem respeito aos estudantes que no ano letivo de 2018/2019 deveriam estar a terminar o secundário, ou seja, alunos cujas aulas e ambiente escolar não tinham ainda sido afetados pela pandemia de covid-19, que chegou a Portugal mais tarde, em março de 2020.
Mas, mesmo assim, houve muitos que permaneceram mais tempo na escola do que o previsto: apenas 4.748 alunos (34,25%) conseguiram fazer o secundário nos três anos e ter positiva nos exames das duas disciplinas trienais do 12.º ano, segundo uma análise ao percurso de 13.861 alunos com Apoio Social Escolar (ASE), desde que entraram para o 10.º ano (no ano letivo de 2016/2017) até ao momento em que deveriam terminar o secundário (em 2018/2019).
Os números confirmam também que é mais difícil um aluno ter um percurso direto de sucesso quando é carenciado. A percentagem de sucesso entre todos os estudantes do ensino secundário é de 44,16%, ou seja, quase dez pontos percentuais acima do valor médio dos alunos com Apoio Social Escolar, segundo uma análise aos dados relativos ao ano letivo de 2018/2019 divulgados pelo Ministério da Educação.
Portugal tem sido apontado como um dos países da OCDE onde o contexto socioeconómico mais condiciona o sucesso académico.
No entanto, existe um conjunto de escolas que está a tentar contrariar essa desigualdade, segundo o indicador de equidade, que compara o percurso dos alunos com níveis escolares semelhantes à entrada do 10.º ano.
O indicador confronta os alunos de uma escola ou agrupamento com todos os estudantes do país que, três anos antes, no final do 9.º ano, demonstraram um nível escolar semelhante, permitindo perceber o trabalho realizado pela comunidade educativa.
Se os tradicionais ´rankings´, que listam as escolas pelos resultados nos exames nacionais ou pelas taxas de sucesso académico colocam, invariavelmente, os colégios em destaque, este novo critério vem mostrar o trabalho feito em algumas escolas públicas.
O estabelecimento de ensino com mais equidade é a Escola de Aires, em Felgueiras. Ali, 62% dos alunos com ASE teve um percurso de sucesso e, quando se compara com os estudantes que no 9.º ano tinham resultados semelhantes, observa-se que este estabelecimento foi benéfico para os seus alunos.
Apenas um em cada quatro alunos do país (25%) com resultados académicos semelhantes aos dos alunos da Escola de Aires conseguiu ter um percurso direto de sucesso, ou seja, a escola de Felgueiras levou mais 37% dos seus alunos a ter sucesso.
Seguem-se a Escolas de São João da Pesqueira (onde 68% dos alunos com ASE tiveram sucesso, mas a média nacional era de 34%) e a Escolas da Lousa, em Coimbra, com 69% de sucesso (quando a média nacional era de 37%).
Neste novo ´ranking´ surgem escolas de Norte a Sul do país, do interior ao litoral. Na maioria, nos primeiros lugares estão estabelecimentos de ensino públicos.
Na lista das 30 escolas com melhores desempenhos, há três privadas: O Colégio Miramar, em Lisboa, aparece em 6.º lugar; o Colégio de São Miguel de Fátima, em Santarém, em 9.º lugar, e o Externato de Vila Meã, no Porto, que surge na 30.ª posição.
Mas, analisando aos percursos diretos de sucesso, sem comparar alunos com desempenhos semelhantes, a lista é redesenhada e os dois primeiros lugares são ocupados pelos colégios Miramar, em Lisboa, com 75% de percursos diretos de sucesso, e São Miguel de Fátima, em Santarém, com 71%. Estes dois privados têm, respetivamente, 26 e 20 pontos percentuais acima da média nacional.
Para os percursos diretos de sucesso dos alunos com ASE foram analisadas 354 escolas e agrupamentos e em mais de 300 a maioria dos alunos não teve um percurso direto de sucesso.
Apenas 45 escolas ou agrupamentos conseguiram que, pelo menos, metade dos alunos mais carenciados fizesse o ensino secundário sem chumbar e ter positiva nos exames nacionais.
Durante a apresentação do novo indicador, o subdiretor-geral da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, Pedro Abrantes, lembrou que “as escolas com maior concentração de alunos desfavorecidos têm mais dificuldades em conseguir atingir o sucesso”.
A ideia de que os alunos mais pobres beneficiam em conseguir estar em escolas mais heterogéneas tem sido defendida também em estudos da OCDE.
Alunos mais carenciados só conseguem superar as expectativas em metade do país
Esta é uma das conclusões da análise feita pela Lusa ao novo indicador de equidade, criado pelo Ministério da Educação, que acompanha os alunos com apoio de Ação Social Escolar (ASE) durante cada ciclo, do ponto de vista da conclusão no tempo esperado dos 1.º e 2.º ciclos e dos percursos diretos de sucesso no 3.º ciclo e secundário.
Em média, e ao longo da escolaridade obrigatória, os alunos mais carenciados tendem a ficar ligeiramente atrás dos outros colegas, mas em relação às expectativas para o seu sucesso escolar, só em cerca de metade dos municípios do país é que essas foram superadas.
Essas expectativas representam, na prática, a média nacional dos alunos com o mesmo nível de partida à entrada de cada ciclo de estudos, e nem todos conseguem ter desempenhos superiores aos colegas com o mesmo perfil.
Logo no 1.º ciclo, cerca de 82% dos mais de 26 mil alunos com apoio ASE que deveriam ter terminado o 4.º ano no ano letivo de 2018/19 conseguiram fazê-lo sem “chumbar” em nenhum dos anos anteriores, pouco menos em comparação com a taxa nacional de conclusões no tempo esperado (87%).
No entanto, só em 118 dos 213 municípios analisados neste nível de ensino é que os seus alunos conseguiram, em média, igualar ou superar as expectativas. Nos restantes, que representam 45% do total, as crianças tiveram desempenhos ligeiramente inferiores aos colegas com o mesmo perfil.
A tendência repete-se no nível seguinte: entre os cerca de 33.700 estudantes carenciados no 6% ano, cerca de 29 mil conseguiram terminar o 2.º ciclo nos dois anos letivos expectáveis, o que representa uma média nacional de 89%.
Por outro lado, e apesar de melhores em relação aos mais novos, só em 60% dos 245 municípios com dados disponíveis é que os estudantes conseguiram igualar ou ter desempenhos superiores à média com o mesmo perfil.
A partir do 3.º ciclo, o cenário torna-se mais preocupante, à semelhança do que acontece com a generalidade dos alunos.
Com a entrada em cena das provas de avaliação externa, o Ministério da Educação passa a acompanhar os percursos diretos de sucesso, analisando a percentagem de alunos com positiva nas duas provas finais do 9.º ano (Português e Matemática) e nos exames das duas disciplinas trienais do 12.º ano, após um percurso sem retenções nos dois anos de escolaridade anteriores.
Entre os quase 35.500 alunos com apoio ASE no 9.º ano, pouco mais de 10 mil conseguiram este feito, o equivalente a apenas 29%. Olhando para os municípios, apenas em 51% as expectativas foram igualadas ou superadas, à semelhança do que acontece também no ensino secundário.
No último ano do ensino obrigatório, 36% dos finalistas com ASE conseguiram terminar o 12.º sem reprovar nos dois anos anteriores e em nenhum dos exames nacionais das disciplinas trienais.
Em relação aos distritos, identifica-se outra tendência, designadamente, a respeito dos distritos com melhores e piores resultados nos quatro níveis de ensino.
O distrito de Beja, por exemplo, registou em 2018/19 a percentagem média mais baixa de estudantes com apoio ASE que conseguiram concluir os 1.º e 2.º ciclos no tempo esperado e que tiveram percursos diretos de sucesso no 3.º ciclo, sendo também aquele onde os alunos dos três níveis ficaram mais aquém das expectativas.
Por outro lado, a Norte, é em Viana do Castelo que a maior percentagem de estudantes carenciados tem sucesso em todo o ensino obrigatório, liderando no 3.º ciclo e secundário em termos de equidade, isto é, a diferença entre os resultados e as expectativas.
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