A equipa de investigação do projeto ‘Amália’ já identificou seis espécies de algas invasoras com potencial, sobretudo na costa de Peniche, Figueira da Foz, Viana do Castelo e Galiza, onde aquelas predominam mais.
“Se pegarmos nessas algas, que são uma ameaça, e gerarmos oportunidades e produtos estamos a promover a sustentabilidade do meio ambiente e a promover o crescimento económico, com base nos recursos marinhos”, disse à Lusa Marco Lemos, docente do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) e coordenador do projeto.
Ao fim de ano e meio, os investigadores biotecnológicos já desenvolveram e têm em fase pré-comercial uma película natural, que não só substitui os sacos de plástico usados para conservar pescado congelado, como também aumenta a sua qualidade e o seu tempo de conservação.
Em fase pré-comercial está também uma nova ração para aquacultura.
À semelhança da ração, está a ser estudado o aproveitamento dessas algas em novos antibióticos também para aquacultura.
“O uso de compostos das algas invasoras [nestes produtos] pode diminuir a carga microbiana, os agentes patogénicos e a mortalidade” do pescado produzido, aponta.
Estão também a ser estudados usos em protetores solares e outros cremes da indústria cosmética.
“As algas não podem escapar do sol e desenvolveram naturalmente esta capacidade de se protegerem do sol. Se conseguimos extrair esses compostos e aplicarmos num protetor solar estamos a criar um novo produto”, explica o investigador.
Marco Lemos adianta que, como “as algas produzem compostos tóxicos para bactérias, pode-se aplicar esses compostos e ter cremes antiacne”.
Da mesma forma, está a ser estudada a possibilidade de vir a usar as algas invasoras na indústria farmacêutica para o fabrico de terapêuticas de combate ao cancro e à doença de Parkinson.
No espaço de dois a três anos, acreditam os investigadores, alguns destes produtos podem vir a ser comercializados, à exceção dos farmacêuticos.
“Estamos a desenvolver projetos em grande proximidade com a indústria, percebendo quais são os seus problemas e desenvolvendo produtos de que o mercado necessita, o que possibilita uma aceleração do desenvolvimento dos mesmos produtos”, sublinha o coordenador da investigação.
A equipa acaba de instalar no fundo do mar, junto ao arquipélago das Berlengas, um protótipo de uma câmara hiperespectral, que permite observar o aparecimento das algas e enviar imagens para a indústria em tempo real, via satélite.
“A estrutura em si tem a capacidade de detetar, por via de uma câmara multiespectral, o tipo de algas, logo se conseguirmos perceber o crescimento das mesmas, como evoluem ao longo do tempo é um contributo para a investigação”, explica à Lusa Tiago Morais, engenheiro mecânico e investigador do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI) da Universidade do Porto.
O equipamento, já utilizado na medicina, foi pela primeira vez desenvolvido para ser adaptado à pesquisa subaquática por uma empresa de inovação holandesa, parceira do projeto.
Além do IPL e do INEGI, o projeto tem como parceiros e a Universidade de Coimbra, a Universidade de Vigo (Espanha) e ainda empresas portuguesas, austríacas e holandesas e recebeu financiamento da Comissão Europeia, envolvendo mais de 20 investigadores.
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