O Fórum das Políticas Públicas, organizado anualmente pelo ISCTE mas que se associou este ano às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, começa às 09:30 de sexta-feira e vai contar com a participação do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, ou da escritora Dulce Maria Cardoso, entre outros.
Em declarações à Lusa, a reitora do ISCTE, Maria de Lurdes Rodrigues, sublinhou que, mais do que um balanço, o fórum deste ano pretende servir de reflexão sobre a trajetória da democracia nos últimos 50 anos e os desafios futuros, “juntando em debate peritos, ex-governantes e académicos de diferentes quadrantes políticos”.
Segundo a reitora, que foi também ministra da Educação entre 2005 e 2009, a iniciativa irá centrar-se essencialmente em três temáticas: os três D – Democratizar, Descolonizar, Desenvolver -, as marcas destes 50 anos de democracia e “a identificação do que falta fazer”.
“É uma reflexão, é um debate em torno dos temas da democratização nos últimos 50 anos e os desafios que se colocam ao regime democrático, mas também sobre as questões associadas à descolonização e ao desenvolvimento do país”, resumiu a reitora.
A nível pessoal, Maria de Lurdes Rodrigues faz uma “reflexão positiva” sobre os últimos 50 anos, destacando que “os adquiridos foram muitos, desde logo nos domínios da liberdade de expressão, de pensamento, da política”, mas também na área social, da educação e do ensino superior.
No entanto, a reitora do ISCTE reconheceu que “falta continuar o processo de desenvolvimento” do país, em particular na economia – que considera precisar de ser mais inovadora e competitiva – e na justiça, criticando os recentes casos que levaram à queda dos governos da República e da Madeira ou as buscas, em julho, na sede do PSD ou na casa do ex-líder social-democrata Rui Rio.
Maria de Lurdes Rodrigues sublinhou que outro dos “grandes desafios” é a desigualdade, que considerou ter criado uma “espécie de periferia” na sociedade portuguesa que está por detrás do forte crescimento do Chega nas últimas eleições.
“O aumento de votos num partido como o Chega exprime também os sentimentos dos que sentem excluídos, na periferia, dos que se sentem vítimas de uma grande desigualdade existente no nosso país. A questão é que, do ponto de vista programático, o Chega não oferece soluções para responder a essas preocupações”, disse, rejeitando que se possam tratar de eleitores que consideram que os últimos 50 anos foram desperdiçados.
A par deste Fórum das Políticas Públicas, o ISCTE vai também inaugurar na sexta-feira uma exposição sobre representações do trabalho, organizada em parceria com os Arquivos Ephemera e a Cidade dos Arquivos da Câmara Municipal do Barreiro.
À Lusa, o historiador José Pacheco Pereira, fundador dos Arquivos Ephemera, referiu que a exposição centra-se “num conjunto de imagens, objetos, cartazes, panfletos” sobre a representação do trabalho nos últimos 150 anos.
Desde o fato de um mergulhador, a objetos de vindimas ou um quadro de uma padaria, o objetivo é mostrar “como a variedade das representações do trabalho são relevantes” e mudou ao longo do tempo.
“Muitos dos objetos e das imagens são de profissões que já não existem, como a de aguadeiro. Mas há também uma representação de diferentes profissões cronologicamente distintas, por exemplo um homem da Regisconta para falar da modernização dos escritórios com a introdução da informática, ou de áreas em que as profissões não mudaram tanto como isso, como por exemplo a agricultura”, referiu.
Além desta série de debates, o ISCTE irá ainda contribuir para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril com iniciativas como um colóquio dedicado ao tema do trabalho e das empresas ou uma sondagem, divulgada a 19 de abril, sobre as perceções públicas da Revolução dos Cravos.
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