Hoje com idades entre 17 e 27 anos, os jovens eram menores à época e moravam na região de Fukushima, quando um forte terremoto no nordeste do Japão provocou um gigantesco tsunami que resultou no desastre nuclear.

Os advogados do grupo compareceram nesta quinta-feira a um tribunal de Tóquio para apresentar o processo coletivo, o primeiro do tipo iniciado pelos habitantes da região. Dezenas de simpatizantes da causa reuniram-se à frente do tribunal para manifestar o seu apoio.

No total, os jovens pedem à empresa Tokyo Electric Power Company (TEPCO), operadora da central, uma indemnização de 616 milhões de ienes (5,4 milhões de dólares), afirmou Kenichi Ido, um dos advogados.

As autoridades não reconhecem a existência de um vínculo entre a exposição à radiação de Fukushima e o cancro da tiroide.

Um relatório da ONU publicado no ano passado afirma que, uma década depois do desastre nuclear, "não foi documentado qualquer efeito nefasto para a saúde dos habitantes".

O aumento dos casos de cancro da tiroide entre crianças expostas à radiação pode ser resultado de melhores diagnósticos, destacou o Comité Científico da ONU sobre os Efeitos da Radiação Atómica.

Os advogados dos jovens alegam, contudo, que nenhum caso de cancro entre o grupo é hereditário e que é muito provável que a doença tenha sido causada pela exposição à radiação. "Alguns demandantes têm dificuldades de avançar no ensino superior e de encontrar empregos e até desistiram dos sonhos para o futuro", disse Ido.

"Demoramos dez anos para apresentar o processo, porque tínhamos medo de sofrer discriminação caso levantássemos a nossa voz", disse uma das autoras da ação.

"Era uma criança quando me disseram que tinha cancro e não tinha dinheiro para os gastos judiciais", acrescentou. Sem conter as lágrimas, a jovem recordou o dia em que recebeu o diagnóstico: "Disseram claramente que não havia qualquer vínculo com o acidente".

Os autores da ação tinham entre seis e 16 anos no momento do acidente nuclear e foram diagnosticados com cancro da tiroide entre 2012 e 2018.

Quatro foram submetidos a uma remoção total desta glândula e devem seguir um tratamento de reposição hormonal por toda vida, informou o advogado Ido. Os outros dois passaram por uma remoção parcial.

Em 11 de março de 2011, um potente terremoto desencadeou um gigantesco tsunami que provocou a fusão dos núcleos dos três reatores da central Fukushima Daiichi, libertando significativas quantidades de radiação no ar que depois escaparam para o solo e para a água.

A tragédia deixou 18.500 mortos, ou desaparecidos, a maioria por causa do tsunami. Foi o pior desastre nuclear desde Chernobyl em 1986, depois do qual foram detectados muitos casos de cancro da tiroide.

Até junho de 2021, o departamento de Fukushima registou 266 casos, ou suspeitos, de cancro da tiroide infantil.

"Quando o documento do processo chegar, vamos examinar com sinceridade depois de ler com atenção os detalhes", declarou à AFP o porta-voz da empresa TEPCO, Takahiro Yamato."Continuamos a expressar as nossas sinceras desculpas pelos problemas causados à população pelo acidente", completou.