91 cavalos e cavaleiros fizeram em marcha lenta a escolta ao armão da GNR que transladou a urna de Jorge Sampaio do Museu dos Coches, na Avenida da Índia, onde esteve desde ontem em câmara ardente, até ao Mosteiro dos Jerónimos, na Praça do Império, num percurso de pouco mais de um quilómetro, com breve paragem em frente ao Palácio de Belém, casa que ocupou durante 10 anos (1996-2006).

O segundo funeral de Estado da democracia portuguesa (Mário Soares estreou o modelo em janeiro de 2017; a Francisco Sá Carneiro, primeiro-ministro, falecido em 1980, foram só reservadas honras de luto nacional) decorreu nos claustros de um local que representa “500 anos de história”, “portugalidade” e “cultura”, segundo disse Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República.

O primeiro-ministro, António Costa, foi o primeiro a chegar, seguido de Ferro Rodrigues (presidente da Assembleia da República). Marcelo Rebelo de Sousa fechou o pódio das três mais altas figuras do Estado português.

Maria José Ritta, de mãos dadas aos filhos, Vera e André Sampaio, colou-se ao lado de Marcelo. Juntos, esperam a chegada da urna coberta pela Bandeira Nacional e escoltada pela Guarda de Honra da Guarda Nacional Republicana a cavalo.

Da charrete, composta por quatro cavalos, uma condução ajudada por um GNR a pé, passou para as mãos e ombros de seis cadetes das Forças Armadas. Atrás, oficiais superiores dos três ramos das Forças Armadas — Marinha, Exército e Força Aérea — transportavam as três insígnias por inerência atribuídas a quem ocupa o cargo de Presidente da República. Uma nota curiosa: a Força Aérea tinha uma oficial. E a presença feminina não se ficou por aqui neste ramo durante a cerimónia.

Além de aplausos de algumas dezenas de populares, a urna que transportava o antigo Presidente da República recebeu honras de Estado pelo Batalhão com banda e fanfarra da Guarda Nacional Republicana. Escutou-se, pela primeira vez, o hino nacional, um rufar e a marcha fúnebre precederam a entrada pela porta principal (porta Sul) do Mosteiro de Santa Maria de Belém em direção aos Claustros.

A família Sampaio entrou primeiro. Marcelo, conhecedor do protocolo de Estado, explicou a Ferro Rodrigues que deveria ocupar a sua direita, reservando a esquerda para António Costa. 

300 convidados nos Claustros. Dezenas seguiram pelo ecrã. Filipe VI, Rei de Espanha, aplaudido

Um ecrã gigante na fachada sul mostrava ao “povo” a cerimónia que daí para a frente decorreria nos Claustros do Mosteiro dos Jerónimos reservada a diversas figuras políticas internacionais, entre os quais, o Rei de Espanha, Filipe VI, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, o presidente do parlamento de Timor-Leste, Aniceto Guterres Lopes, e representantes de todos os Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, figuras políticas nacionais, como Pedro Passos Coelho, antigo primeiro-ministro, além de amigos fora do espetro político (o Comendador Rui Nabeiro).

As 18 mãos que transportaram a urna do antigo Chefe de Estado colocaram-na no centro dos Claustros e deram a vez a outros. A mudança de “guarda” e três novos uniformes e espadas, multiplicadas por dois, coincide com o hino imortalizado por Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça e interpretado pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional São Carlos.

O ecrã abriu com um excerto do discurso da tomada de posse, a 9 de março de 1996, na Assembleia da República, dia em que Jorge Sampaio assinou a jura de ser o “presidente próximo das pessoas” e garantiu não existirem “portugueses dispensáveis”, algo que considerava ser uma “ideia intolerável”.

Timor-Leste foi recordado numa entrevista (dezembro de 1996) à cadeia de televisão norte-americana, CNN, e de Timor vieram palavras de Mari Alkatiri, Ramos Horta e música do Coro da escola portuguesa de Díli que cantaram “Ai, Timor”.

"Réquiem em ré menor", de Wolfgang Amadeus Mozart, serviu de aperitivo para os cinco discursos inscritos no protocolo. A filha, Vera Sampaio, referiu que “o nosso pai era um homem bom”. André, mais emocionado, acrescentou que “foi um homem justo, corajoso, mas sem medo de chorar”.

“Uma Pequenina Luz”, poema de Jorge de Sena, dito por Maria do Céu Guerra, antecedeu as palavras de Costa, Ferro e Marcelo. Estas foram intercaladas com as interpretações "Cavalleria rusticana: Intermezzo", de Pietro Mascagni e "Requiem Op.48: In Paradisum", de Gabriel Fauré, e acompanhadas pela mudança dos seis cadetes das Forças Armadas (a Força Aérea, assumiu a igualdade de género, uma cadete acompanhada por um cadete), que permaneceram sempre ao lado da urna.

António Costa prestou “tributo à memória de um cidadão exemplar e um português de exceção”, Ferro Rodrigues recordou “o amigo” que colocou “as suas qualidades ao serviço de causas” e Marcelo Rebelo de Sousa elevou a fasquia ao considerar o antigo Presidente da República como um dos “maiores” da História de Portugal e alguém que “nunca quis ser herói” mas foi de um “heroísmo discreto”.

Menos de uma hora de cerimónia, o hino de Portugal convidava à saída dos 300 convidados das cerimónias fúnebres de Estado de Jorge Sampaio.

O hipomóvel que transportou a urna deu lugar a um carro funerário, agora, acompanhado de diversas motas e um jeep da Guarda Nacional Republicana. O cortejo seguiu em direção ao cemitério do Alto de São João.

O aplauso popular despediu-se do antigo chefe de Estado, palmas essas que se estenderam para Filipe VI, Rei de Espanha, mal colocou o pé fora da Porta Oriental do Mosteiro dos Jerónimos e seguiu o caminho escoltado por três motas da GNR e uma comitiva de 10 carros.

O jazigo na Rua 9 onde só foi a família. Mulher, filhos e os sobrinhos em dia de aniversário

Depois de um trajeto ribeirinho com o Tejo aos pés ao longo de 10 quilómetros, o cortejo fúnebre chegou ao cemitério do Alto de São João, onde esperavam uma Guarda de Honra constituída por 165 militares dos três Ramos das Forças Armadas, sendo o Comandante da Força o Capitão-de-fragata Silva Caldeira.

A urna, transportada, novamente, por cadetes é colocada numa essa dourada, para um último momento evocativo, testemunhado pela fotografia onde se lê a legenda “Obrigado, Jorge Sampaio!”

Oficiais superiores das Forças Armadas entregaram à família as três insígnias que Jorge Sampaio recebeu em vida. Cinco fuzileiros da Armada Portuguesa dobraram a Bandeira Nacional, no mesmo instante em que foram disparados 21 tiros de salvas de artilharia executadas pelo Navio Patrulha Oceânico Sines, fundeado no Tejo. Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa, Comandante Supremo das Forças Armadas, num momento simbólico, entregou as Quinas à família Sampaio.

Estava finalizada a cerimónia oficial. Faltavam 10 minutos para a uma hora da tarde.

A partir de então, a cerimónia foi privada e reservada à família. Maria José Ritta, Vera e André Sampaio, os filhos, Daniel Sampaio, irmão mais novo de Jorge Sampaio, acompanhado da mulher, Maria José Ataíde Ferreira, e os três filhos João, Miguel e Daniel caminharam até à Rua 9 onde está o jazigo familiar.

Poucos minutos depois saíram pela porta do cemitério e receberam mais uma salva de palmas. A antiga primeira-dama e os filhos saíram de carro. Os sobrinhos, João, Miguel e Daniel, desceram, pelo próprio pé, a Rua Morais Soares em direção à Praça do Chile.

Nota de Redação: Os sobrinhos João e Miguel Sampaio celebram, dia 12 de setembro, respetivamente 50 e 46 anos. Uma data sem motivos de festejo mas que serve para relembrar o antigo Presidente da República. João, sorriu e disse. “Como diria o meu tio, é verdade”.

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