“Não vale a pena estarmos aqui com metáforas, porque a verdade é que anda uma grande parte do país a viver à conta disto [RSI]”, disse aos jornalistas André Ventura, antes de arrancar para uma arruada em Aveiro, distrito onde diz haver um grande problema “com a subsidiodependência”.

Confrontado por diversas vezes pelos jornalistas, André Ventura não conseguiu avançar com um número concreto de pessoas que recebem o RSI e que não o deveriam receber, considerando que “não há fiscalização” e que, por isso, não há forma de se conhecer os números.

“Não sabemos ainda quantos recebem indevidamente”, admitiu, vincando a ideia, já por várias vezes repetida pelo Chega, de que muitos se recusam a trabalhar e optam por viver do apoio estatal.

No entanto, o relatório publicado em 2019 sobre 20 anos de RSI pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social reflete sobre as cessações do apoio (os beneficiários são obrigados a assinar um contrato de inserção) e refere que apenas 4% se deve ao facto do beneficiário ter deixado de estar inscrito num Centro de Emprego, 3,4% por incumprimento do contrato, 2,1% por falta a uma convocatória e 1,7% por recusa de oferta de trabalhou ou de atividade de formação profissional.

Para André Ventura, é necessário um regime que permita a fiscalização das manifestações de fortuna, tal como é feito noutros âmbitos, para impedir que pessoas que tenham determinadas manifestações de riqueza estejam impedidas de usar o RSI.

Sobre o regime de trabalho obrigatório para os beneficiários de RSI (que não podem recusar trabalho enquanto recebem o apoio), André Ventura disse que essas pessoas trabalhariam horas correspondentes ao valor que recebem.

Nesse campo, considera que os beneficiários deveriam trabalhar em áreas como a reflorestação ou até “a ajudar em serviços públicos, onde há carência de mão de obra”.

“Temos é que parar de pensar: Lá estão eles [Chega] a atacar os pobres. Nós precisamos que quem receba [RSI] trabalhe”, disse.

Antes de Ventura chegar à Estação de Comboios de Aveiro e partir para a arruada, um homem de 57 anos, que não quis dar o nome, protestava contra a comitiva: “A ver se vão atrás do Vieira [ex-presidente do Benfica]? A esse não vão”.

Jorge Valsassina Galveias, cabeça de lista do Chega por Aveiro, tentou convencê-lo de que o Chega tem boas intenções, mas este mostrou-se inamovível.

“O 25 de Abril deu-se com muito esforço e com muita luta”, vincou, salientando que é necessário haver solidariedade na sociedade: “Se vir um cão abandonado na rua e não lhe der ajuda, ele vai fazer o quê? Vai roubar qualquer coisa para comer”.

“As vossas políticas não me dizem nada”, protestou, com Jorge Valsassina Galveias a desistir do diálogo e a despedir-se do homem: “Pronto. Espero que seja feliz”.

Aos jornalistas, o homem, residente em Aveiro, afirmou ser militante do PS e referiu que decidiu falar por considerar que, com o Chega, “os valores de Abril são postos em causa”.

Na arruada, a comitiva foi recebendo alguns apertos de mão e sorrisos, mas também se viram algumas pessoas a fugir do rumo dos simpatizantes e militantes e até quem mostrasse o seu desagrado.

“Vão embora! Vão embora”, gritavam três mulheres, na casa dos 60 anos, que disseram à Lusa que aos simpatizantes do Chega “falta memória”.

“Sei bem o que foi o Salazar. Chegou aquele”, disse uma das mulheres.