“Não creio que haja limpeza étnica. Penso que o termo ‘limpeza étnica’ é demasiado forte para explicar o que se passa”, garantiu a antiga dissidente, na entrevista difundida na quarta-feira à noite.
Aung San Suu Kyi, que chegou ao poder há um ano e cujo partido conquistou quase metade dos lugares disputados nas eleições intercalares de domingo passado, tinha já rejeitado, em março, a decisão das Nações Unidas de enviar uma missão de inquérito às recentes violências contra os ‘rohingyas’, atribuídas ao exército birmanês.
Para a “Dama de Rangum”, existe uma “grande hostilidade” nesta província do oeste do país, onde vive mais de um milhão de ‘rohingyas’, mas “também são muçulmanos que matam outros muçulmanos”
“Não é apenas uma questão de limpeza étnica. São dois lados que se confrontam e nós tentamos reduzir o precipício entre eles”, disse a prémio Nobel da Paz de 1991.
Tratados como estrangeiros na Birmânia (Myanmar), com mais de 90% de budistas, os ‘rohingyas’ são apátridas, mesmo que alguns vivam no país há gerações.
Privados de nacionalidade pela junta militar birmanesa, que esteve no poder até março de 2011, os ‘rohingyas’ são vistos pela maioria dos birmaneses como imigrantes ilegais do Bangladesh, mas este país também não os reconhece como cidadãos.
A 10 de outubro, o exército birmanês lançou uma ofensiva no estado de Rakhine (oeste), onde vivem os ‘rohingyas’, na sequência de vários ataques de grupos armados contra postos fronteiriços.
Esta campanha militar, de vários meses, resultou – de acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos – numa “limpeza étnica” e “muito provávelmente” em crimes contra a humanidade.
Dezenas de milhares de ‘rohingyas’ fugiram para o Bangladesh, apresentando relatos de homicídios, violações e torturas cometidos pelos soldados birmaneses.
As autoridades birmanesas abriram também um inquérito sobre os presumíveis crimes contra os ‘rohingyas’.
Aung San Suu Kyi garantiu que as cerca de 75 mil pessoas que fugiram para o Bangladesh, na sequência da operação militar, estariam “em segurança se quiserem voltar” à Birmânia.
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