“Significa que não estamos sós, que há várias organizações e entidades de todo o país interessadas no que se está a passar no Barroso. E o encontro ser aqui também é uma tentativa de, mais uma vez, desmistificarmos a ideia de transição verde e justa, que de verde não tem nada e de justa muito menos”, afirmou hoje à agência Lusa Aida Fernandes, da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) e da organização do evento.
O 9.º Encontro Nacional pela Justiça Climática junta cerca de três dezenas de organizações e, ao longo de três dias, propõe cerca de 15 eventos entre debates, ‘workshops’ e concertos a realizar na vila de Boticas, no norte do distrito de Vila Real.
É neste concelho que a empresa Savannah quer explorar uma mina de lítio, contestada pela população que se uniu na UDCB. É também em Covas do Barroso que há cerca de quatro meses alguns populares se organizam em piquetes para impedir o avanço das máquinas da empresa para terrenos baldios que dizem terem sido “usurpados”, acusação contestada pela Savannah e que está em tribunal.
“Com a escolha do local, o encontro pretende demonstrar solidariedade com a luta dos movimentos locais pela preservação das suas culturas, práticas e modos de vida, em harmonia e simbiose com o seu meio”, afirma a organização do evento, em comunicado.
O Barroso, que se estende por Boticas e Montalegre, foi classificado pelas Nações Unidas como Património Agrícola Mundial.
O ENJC é um encontro anual que reúne ativistas, cientistas, líderes comunitários e cidadãos e, este ano, os temas em debate são: a relação entre o clima e o oceano, a promoção de soluções de mobilidade sustentável e pública nas nossas comunidades, o combater à pobreza energética, o abandono dos combustíveis fósseis e o atingir a neutralidade carbónica até 2030.
“Este é um espaço de partilha de conhecimentos e experiências, onde se pode ficar a conhecer as batalhas que se enfrentam, quem as está a travar e as soluções e caminhos a percorrer na luta pela justiça climática”, refere a organização, acrescentando que “a 9.ª edição surge numa altura fundamental nas lutas do movimento climático em Portugal”.
O encontro acontece depois da tomada de posse do novo Governo liderado por Luís Montenegro e, segundo Aida Fernandes, era também importante conhecer a posição do presidente do PSD e líder da Aliança Democrática (AD) sobre a exploração de lítio em Portugal.
“Estamos numa altura em que a crise climática exige uma ação urgente, mas também a responsabilidade de optar por um caminho justo para a transição energética, que não reproduza o sistema e as narrativas que causaram os atuais níveis de destruição climática, ambiental, ecológica, social e económica. Nesse sentido, não podemos permitir uma extração de recursos minerais a qualquer custo”, acrescenta o comunicado.
Salienta ainda que a “exploração de lítio em Portugal não pode avançar sem considerar os seus impactos sociais, económicos, ecológicos e ambientais, bem como o legado ambiental, social, económico deixado para as gerações futuras”.
“As populações locais, que mantêm este território há séculos, sabem que a crise climática e ecológica não se combate destruindo regiões como esta, em prol do lucro de algumas empresas, mas sim preservando-as”, frisa.
Integram a organização a Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, Climáximo, Empregos para o Clima, Montalegre Com Vida, Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), OIKOS, Quercus, Sciaena, Último Recurso, a XR Portugal e a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
O ENJC conta ainda com o apoio de outras organizações ambientalistas e de luta contra a exploração mineira em Portugal.
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