Com 56 anos, Lori Lightfoot, advogada e antiga procuradora federal, derrotou Toni Preckwinkle, de 72 anos, há muito nas lides da política e também afro-americana.
Eleita em abril para ser mayor de Chicago, a mulher que irá agora comandar os destinos da terceira maior cidade norte-americana apelou a todos aqueles que estão cansados da maneira tradicional de fazer política e em protesto contra anos de corrupção neste tradicional reduto democrata — e o facto é que 74% dos eleitores lhe deram um voto de confiança, contra 26% dos votos arrecadados por Preckwinkle.
Assim, hoje, às 10h30 (hora local, menos seis horas do que em Lisboa), Lori Lightfoot toma posse, ocupando o cargo de 56.º mayor da cidade. Mas o que tem pela frente não é fácil, numa cidade a braços com finanças difíceis e altos níveis de criminalidade violenta — só no ano passado foram assassinadas mais de 500 pessoas e a polícia tem um histórico de práticas abusivas.
E enquanto Toni Preckwinkle foi vereadora durante quase 20 anos até ocupar o cargo de presidente de conselho do Condado de Cook, em 2010, Lori Lightfoot nunca ocupou um cargo político.
Os eleitores "estão cansados da corrupção, das investigações federais a funcionários da cidade, da má conduta da polícia e da crise orçamental", enumerou Evan McKenzie, professor de Ciência Política da universidade do Illinois, citado pela AFP.
“Enfrentamos interesses poderosos. Vocês fizeram mais do que história (ao eleger a primeira mayor negra e homossexual). Vocês criaram um movimento de mudança”, disse Lightfoot, acompanhada da esposa e da filha, no seu discurso de vitória perante centenas de apoiantes que fizeram questão de celebrar consigo o resultado eleitoral. “Nós podemos e vamos refazer Chicago.
Nas 200 maiores cidades norte-americanas, apenas 6% dos cargos de mayor são ocupados por mulheres afro-americanas, pelo que a corrida entre estas duas democratas ao cargo foi já um marco assinalável, assinala a Reuters. Em Chicago, desde 1837 que os eleitores elegeram apenas um mayor negro e uma mayor mulher.
A eleição de Lori Lightfoot, a primeira mayor negra e lésbica de Chicago e a ascensão de um candidato presidencial abertamente homossexual, o democrata Pete Buttigieg, mostram que na política norte-americana, pelo menos entre democratas, o movimento LGBTQ foi totalmente aceite.
Escreve a AFP que o número de funcionários eleitos assumidamente homossexuais em todo o país quase duplicou no ano passado, chegando a 682, segundo o Victory Fund, que apoia a eleição de candidatos LGBTQ.
Enquanto em 2006, segundo uma sondagem, a maioria dos norte-americanos se sentiam incomodados ou tinham dúvidas sobre um candidato presidencial homossexual, uma sondagem da NBC publicada esta semana revela que, atualmente, cerca de 68% estão entusiasmados ou satisfeitos com um candidato LGBTQ.
É ainda de referir que o Congresso tem agora um número histórico de membros abertamente lésbicas, gays ou bissexuais: oito na Câmara dos Representantes, com 435 cadeiras, e dois no Senado, de 100 membros. Em novembro de 2018, Jared Polis, do Colorado, foi o primeiro governador assumidamente homossexual eleito.
"À medida que a nação aceita mais as pessoas LGBTQ, os eleitores focam-se menos na orientação sexual e na identidade de género e mais nas suas posições e nas suas visões para o futuro, e tendem a gostar do que veem", disse à AFP Elliot Imse do Victory Fund. Embora os americanos LGBTQ representem 4,5% da população, ocupam somente 0,1% dos cargos eleitos em todo o país, adiantou.
Lori Lightfoot substitui hoje como mayor de Chicago Rahm Emanuel, que a certa altura foi uma estrela em ascensão no Partido Democrata e o primeiro chefe de gabinete da administração Obama na Casa Branca.
Rahm Emanuel decidiu não se candidatar a um terceiro mandato depois do revés político que sofreu devido à sua gestão do caso Laquan McDonald — em 2014, um polícia branco disparou dezesseis vezes contra Laquan McDonald, um adolescente negro de 17 anos, que segurava uma faca, embora estivesse bem afastado do agente.
A divulgação tardia, em 2015, de um vídeo que mostrava a morte do adolescente despertou a ira da população e desencadeou meses de manifestações. O agente, Jason Van Dyke, acabou por ser condenado em janeiro a sete anos de prisão pela morte do jovem e Rahm Emanuel expulsou o chefe da polícia e embarcou numa reforma da instituição, procurando recuperar a confiança política.
Não foi suficiente e os eleitores optaram pela mudança. Agora é a vez de Lori Lightfoot tomar as rédeas da cidade.
*Com agências
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