Perto das 14:30, na Praça dos Restauradores, já se concentravam centenas de pessoas, homens e mulheres de todas as idades e condições, muitos acabados de descer das camionetas que os transportaram de diversas regiões do país, de norte azul.
“Prostituição não é trabalho, é violência contra as mulheres”, lia-se num cartaz erguido por uma manifestante. Ao lado, mulheres com trajes agrícolas do Alentejo afinavam as vozes à capela, enquanto os Karma Drums, perfilados e com igual número de jovens rapazes e raparigas, iniciavam o seu batuque para o início de desfile, que após percorrer a Rua do Ouro e a Praça do Comércio terminou na Ribeira da Naus com as tradicionais declarações finais.
“O significado desta manifestação é de comemorar o 08 de março, Dia Internacional da Mulher, homenageando as mulheres que lutaram e ergueram de facto a democracia, a liberdade, o voto. Mas também para reivindicarmos e mostramos quanto a igualdade na vida ainda não está cumprida, e é para isso que lutamos. Pela igualdade na vida, pela igualdade no trabalho, contra as discriminações salariais, e também contra a violência doméstica”, disse Cristina Marques, do secretariado nacional do MDM e uma das organizadoras da manifestação onde terão participado cerca de 10 mil pessoas, à Lusa.
Lutamos por medidas que correspondem às ansiedades e às questões que se colocam, e são muitas”, prosseguiu. Mas também estamos aqui porque queremos denunciar muitas violências que se exercem sobre as mulheres, muitas discriminações, desigualdades, e é nesse sentido que a manifestação tem sentido”.
No terceiro ano em que o MDM organiza uma manifestação nacional, a responsável deste movimento, que mantém afinidades com o PCP, evocou ainda “as vozes e as inquietações das mulheres de todo o país que temos aqui, das agricultoras às estudantes, intelectuais, professoras, às mulheres dos serviços, e estamos aqui para dizer que queremos independência económica, as mulheres têm direito à independência económica para se libertarem das violências, dos maus tratos, e exercerem os seus direitos”.
Cartazes, faixas, balões, carros de som com altifalantes, também anunciavam o início do cortejo, com o início das palavras de ordem: “Pela paz, pelo pão, as mulheres cá estão”, “Igualdade sim, discriminação não”, “Para cumprir Abril, somos muitas, muitas mil”.
Simão, 18 anos, estudante no liceu Camões, segura uma faixa junto a rapazes e raparigas da sua idade que deixa a mensagem “Juventude, Igualdade, na Escola, no Trabalho, na Vida”.
“Estou aqui porque hoje em dia é mais importante que nunca lutarmos pela igualdade na vida, é um combate do nosso tempo. Cada vez mais é necessário, não só as mulheres mas também os homens, lutarmos pelos direitos dos trabalhadores, do nosso povo, inclusive das mulheres, para nos conseguirmos emancipar e tornar a nossa sociedade numa sociedade melhor”, assinala.
E insiste em assinalar uma “clara diferença” que deteta na sua geração.
“A minha geração é muito mais respeitadora, muito mais consciencializada para a igualdade de género, o problema é que muitas vezes estamos consciencializados de uma forma não muito correta, o que leva por um lado a termos um discurso que à partida parece promover a igualdade de género mas que depois em funções práticas não representa a igualdade de género, nomeadamente no trabalho e noutras situações, com na escola, etc.,”.
O desfile inicia-se em passo cadenciado, e vai engrossando quando chega ao Rossio e segue pela Rua do Ouro, onde no passeio, em locais distintos, o secretário-geral da PCP, Jerónimo de Sousa, e o líder da CGTP, Arménio Carlos, aguardavam a passagem da manifestação e se preparam para declarações aos meios de comunicação social.
“Vim aqui para lutar pelos nossos direitos, dos escândalos que se ouve na televisão, da violência doméstica sobre as mulheres, temos de lutar contra tudo isso. São coisas que não deviam existir no nosso país. Não é lógico, temos de arranjar meios para que isso acabe. Vimos de longe, de Riba de Ave, Famalicão, para lutar por isso”, assinala uma participante, ao lado do marido, e que atestam o caráter nacional da manifestação.
Balões brancos são erguidos por um grupo de manifestantes, ecoa-se pela paz, pela igualdade, pela liberdade.
“Socialmente iguais, humanamente diferentes, totalmente livres”, outras das frases erguida nas alturas. “Homens de verdade não temem a igualdade”, “A educação sexual é um direito. Pela saúde sexual” são escritos de outros cartazes.
Turistas sorriem à passagem do cortejo, enchem-se de fotografias. Pelas ruas também se escutam reivindicações sociais, por uma agricultura de qualidade, por serviços públicos de qualidade. Entre o setor da Fenprof, Mário Nogueira continua a exibir o crachá da luta central dos professores: 9 anos, 4 meses, 2 dias.
Diversos organismos também conotados com o PCP marcam a sua presença, destaca-se o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC). E ainda uma faixa, que surge por entre a multidão: “As mulheres são uma revolução dentro da revolução”.
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