Em declarações à imprensa no final da primeira sessão de trabalhos da cimeira, que decorre até domingo na estância suíça de Burgenstock, arredores de Lucerna, Marcelo Rebelo de Sousa congratulou-se por estarem “muitos países representados, de todos os continentes”, tendo sido possível verificar “uma grande convergência de pontos de vista” entre as cerca de três dezenas de líderes que hoje já intervieram.
Essa convergência, em torno da “preocupação da paz e caminho para a paz”, foi manifestada por países não só da União Europeia (UE) ou da NATO, “mas também do mundo árabe, do mundo africano e do mundo asiático”, congratulou-se Marcelo Rebelo de Sousa, que constatou empenho de todos em “trabalhar para conclusões comuns” a serem adotadas no domingo.
Sobre a ausência de vários Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o chefe de Estado português salientou que há vários presentes, como Timor-Leste, que hoje já interveio através do primeiro-ministro Xanana Gusmão, e disse acreditar que mesmo aqueles que não participam na cimeira da Suíça partilham o desejo de que seja alcançada a paz na Ucrânia.
“Tanto quanto nós podemos saber, vários deles, dos que aqui não estão aqui representados, estão sintonizados, porque o têm dito, com a paz, o caminho para a paz e a importância de todos os passos que forem dados para a paz”, declarou.
Entre os países da CPLP, apenas Portugal, Cabo Verde e Timor-Leste estão representados ao nível de chefes de Estado e de Governo, São Tomé e Príncipe está representado ao nível ministerial (pelo chefe da diplomacia), o Brasil não participa ativamente, tendo enviado apenas como observador a sua embaixadora na Suíça, e Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, assim como a Guiné Equatorial, não estão presentes.
Escusando-se a antecipar o teor da sua intervenção na reunião plenária prevista para domingo de manhã, Marcelo adiantou ainda assim que “vai na linha daquilo que, genericamente, é desde sempre a posição portuguesa” e que “converge com as opiniões hoje expressas”, reiterando que “a procura de uma paz justa significa [uma paz] de acordo com os princípios e valores da Carta das Nações Unidas e do direito internacional todo ele” e duradoura.
Sobre os próximos passos a serem dados num processo que, a determinado momento, terá de envolver a Rússia, o chefe de Estado observou que, “a meio do encontro” na Suíça, que só termina no domingo à tarde, “ainda não se apontou precisamente para a etapa seguinte”.
“Há várias propostas quanto à etapa seguinte, vamos esperar para ver qual é aquela que vai ser adotada, no tempo adequado”, disse, sublinhando antes que “todos têm noção de que era preciso haver um primeiro momento, e a Suíça, há que agradecer, proporcionou este momento”.
“É preciso a seguir haver outros momentos, e é importante ouvir aqui países que é evidente que têm uma relação com todas as partes envolvidas, e não apenas com uma, designadamente do mundo árabe, e todos com uma ideia importante: se for possível [a paz] ser mais rápido do que mais lento, melhor”.
A concluir, Marcelo, acompanhado do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, reforçou que esta cimeira “é um primeiro passo no caminho para a paz, haverá outros passos a seguir, mas este é muito importante porque era o primeiro e ter esta representatividade e esta convergência é muito positivo”.
A conferência para a paz na Ucrânia, organizada pela Suíça na sequência de um pedido de Zelensky, junta representantes de quase uma centena de países e organizações - metade dos quais da Europa -, mas são várias as ausências (haviam sido dirigidos convites a 160 delegações de todo o mundo).
O grande ausente é a Rússia, que ainda na sexta-feira exortou os Estados-membros das Nações Unidas a não participarem na conferência, a qual considerou "provocativa e absolutamente inútil", acusando ainda a Suíça de perder a neutralidade ao alinhar-se com as sanções europeias a Moscovo após a ofensiva militar lançada na Ucrânia em fevereiro de 2022.
Destaque também para a ausência da China, um dos grandes aliados de Moscovo e vista como intermediária fundamental para futuras conversações de paz, que rejeitou participar dada a ausência da Rússia, tendo Zelensky acusado Pequim de trabalhar em conjunto com o Kremlin (presidência russa) para sabotar a conferência, ao pressionar países para não participarem.
Kiev espera obter nesta cimeira um largo apoio da comunidade internacional a um plano conjunto de paz, já na perspetiva de uma segunda cimeira, para a qual seria convidada a Rússia, que atualmente ocupa cerca de 20% do território da Ucrânia, na sequência da ofensiva militar lançada em fevereiro de 2022.
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